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13/04/2012

Eólicas brasileiras produzem menos que o previsto

"Menina dos olhos" do governo federal no setor elétrico, a fonte eólica encontra dificuldades para deslanchar no Brasil. Apesar dos resultados surpreendentes obtidos nos últimos leilões de energia, que levarão a investimentos de R$ 16 bilhões até 2016, os projetos se deparam com a produção abaixo do esperado, atrasos na implantação do sistema de transmissão de energia e limitação da capacidade de atendimento dos órgãos ambientais estaduais.

De acordo com o relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), considerando os últimos 12 meses encerrados em março de 2012, de 20 parques que se conectam diretamente ao Sistema Interligado Nacional (SIN), 14 estão com fator de capacidade (índice de eficiência) inferior ao declarado inicialmente. Em alguns casos, o indicador chega a ser 40% menor. De 339 MW médios de energia que os parques deveriam gerar, apenas 294 MW médios foram produzidos nos últimos 12 meses, uma diferença de 45 MW médios.

A variação pode ser ainda maior. Isso porque os parques incluídos no relatório do ONS representam 60% da capacidade instalada eólica total do país, de 1.471 MW. As demais usinas são conectadas nas redes das distribuidoras de energia e, por isso, não são monitoradas pelo operador. O relatório também acende uma luz amarela no setor, já que a energia eólica deverá alcançar 6,7% de participação na matriz elétrica brasileira em 2020, frente à fatia atual de 1,2%, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Os casos mais expressivos estão no Nordeste, região considerada promissora para a indústria eólica e que possui o maior potencial do Brasil, de 75 GW, segundo o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel). Das 13 usinas analisadas na região, 11 estão com fator de capacidade abaixo do estimado. Os projetos que apresentam a maior diferença são Praia do Morgado, no Ceará, de 28,8 MW de potência, e Mangue Seco V, no Rio Grande do Norte, de 26 MW.

Em Praia do Morgado, a eficiência verificada foi de 31%, ou 38% menos que a prevista.

Segundo José Luis Menghini, vice-presidente executivo da Impsa no Brasil, operadora da usina, a produção frustrada se deve a uma ocorrência de ventos menor que a estimada e à "tropicalização" dos equipamentos eólicos. Os primeiros parques instalados no Brasil utilizaram componentes desenhados para o cenário europeu e adaptados para a realidade brasileira.

"A presença de sal marinho na região do Ceará é sete vezes maior que a encontrada no mar do Norte. A mistura de sal, umidade e equipamento elétrico não é uma boa combinação", explica Menghini. A Impsa tem 51% em Praia do Morgado, em parceria com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).

A usina de Mangue Seco V faz parte de um complexo eólico implantado pela Petrobras. Segundo o ONS, o fator de capacidade constatado da usina é de 30,2%, ou 40% inferior ao índice declarado pela empresa, de 50,40%. Procurada, a Petrobras não se manifestou sobre o assunto.

Lauro Fiúza, diretor da Servtec, uma dos acionistas da Bons Ventos, dona de três parques que tiveram resultado abaixo do previsto, admite o problema. Ele, porém, explica que o regime de ventos oscila no período de seis a sete anos. "Em 2010 e 2011 a curva de ventos atingiu a parte de baixo. Mas já temos uma indicação de alta. Neste ano até o momento, os parques da Bons Ventos estão operando 7% acima do previso", afirma. A Bons Ventos está em fase final de aquisição pela CPFL Renováveis, por R$ 1 bilhão.

Outra razão para o desempenho abaixo do esperado é que a maioria dos parques em operação no país é do Programa de Incentivos às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). A iniciativa, lançada em 2004 selecionou os projetos a partir da licença ambiental mais antiga, e não pela eficiência dos parques.

A expectativa, segundo os agentes do setor, é que os novos projetos oriundos dos leilões de energia sejam mais eficientes. A EPE também aumentou o rigor com relação à certificação da medição dos ventos das usinas e está elaborando um banco de dados com o histórico dos ventos brasileiros, a exemplo do que já existe no setor hidrelétrico.

Para os novos projetos, o principal gargalo é a conexão com o sistema. As usinas do primeiro leilão de energia eólica, em 2009, estão previstas para entrar em operação em julho, mas as estações coletoras, que ligarão os parques à rede elétrica do país, estão com atrasos de três a 18 meses. "O leilão das estações coletoras foi realizado com um 'gap' temporal de seis meses, pelos dados do ONS", explica a presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Melo.

De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), dos 71 parques vencedores do leilão de 2009, apenas 21 estão com o cronograma adequado ou já entraram em operação. Outros 32 projetos estão previstos para iniciar a produção este ano, mas apresentam algum tipo de restrição no prazo. E mais 18 usinas deverão fornecer energia ao sistema somente em 2013.

A presidente da Abeeólica acredita que os gargalos observados hoje fazem parte do aprendizado do setor eólico brasileiro. Ela explica que o descasamento entre os cronogramas das eólicas e dos sistemas de transmissão, por exemplo, não vai se repetir para os empreendimentos vencedores dos leilões em 2010 e 2011 - previstos para entrar em operação em 2013 e 2014. "A EPE fez um estudo de longo prazo do planejamento da transmissão. A situação será melhor para esses projetos", afirma Elbia.


Imprensa - SEESP
* Valor Econômico - Rodrigo Polito


 

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