por Alfredo Bonduki*
Os dados do mercado de trabalho na indústria têxtil e de confecção paulista, relativos a março, divulgados pela Fiesp, corroboram informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), anunciadas pelo Ministério do Trabalho em 16 de abril: no País, foram criados 442.608 empregos com carteira assinada no primeiro trimestre. Isso, contudo, representa queda de 24,1% ante o mesmo período de 2011.
Essa tendência nacional de recuo está expressa em nosso setor: no segmento de confecção no Estado de São Paulo, verificou-se crescimento de 0,8% em março, na comparação com fevereiro. Isso significou a criação de 1.340 postos de trabalho. No entanto, no âmbito dos produtos têxteis, houve recuo de 0,8%, representando a demissão de 871 trabalhadores. No trimestre, o nível de emprego cresceu apenas 0,3% nos confeccionados e caiu 1,3% nos têxteis. No acumulado dos últimos 12 meses, a situação é mais preocupante, registrando-se queda de 5,1% na confecção e 7,6% nos têxteis.
É importante lembrar que São Paulo representou, em 2011, um terço da produção nacional e 40% de todos os investimentos do setor no País. E se alguém duvida de que há uma desindustrialização em curso, é prudente considerar que os números agora apresentados contrastam com a geração, em 2011, de 68 mil novos postos de trabalho em nossa atividade, segunda principal geradora de empregos na indústria de transformação.
Os números evidenciam a crescente perda de competitividade setorial, expressa nas estatísticas do Caged. As principais causas são o câmbio sobrevalorizado e os conhecidos vilões do “Custo Brasil’’, principalmente os juros e impostos exagerados. Assim, são oportunas, embora ainda insuficientes, as medidas de desoneração tributária e trabalhista anunciadas pelo governo. Do mesmo modo, será muito bem-vinda a aprovação no Congresso Nacional e a sanção presidencial da emenda que reduz a 4% a alíquota do ICMS nas operações interestaduais de produtos importados. Isso deverá pôr fim à nefasta “Guerra dos Portos”.
No interior do Estado, uma das áreas mais desenvolvidas do País, os segmentos têxtil e de confecção tiveram comportamentos regionais distintos, ora contribuindo para o melhor resultado, ora para a redução dos postos de trabalho. Por exemplo, o nível de emprego no segmento da confecção cresceu 4,7% na região de Jaú, contribuindo para o resultado positivo total da indústria de transformação, que foi de 3,7%.
Na região de Matão, porém, os confeccionados tiveram queda de 0,69%, pressionando o índice global da manufatura, que caiu 3,82%. Na região de Botucatu, os empregos no ramo têxtil tiveram queda vertiginosa: 43,79%. Assim, foram uns dos principais responsáveis pela redução de 2,48% no total regional da indústria de confecção.
A paulatina redução dos postos de trabalho na indústria têxtil e de confecção é uma preocupante síntese do que vem ocorrendo nos últimos anos com a manufatura brasileira. Como se vê, inclusive nos números do Caged, o custo social da perda de competitividade é cada vez mais elevado. Precisamos mudar essa história!
*Alfredo Bonduki é presidente do Sinditêxtil-SP e engenheiro formado pela Escola Politécnica da USP
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