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16/10/2012

Novas cidades, novos centros

A formação de novas centralidades está vinculada à importante questão centro-periferia decorrente da alteração na configuração espacial urbana, como na dinâmica da cidade. Considerando-se a dinâmica do desenvolvimento da cidade, existem os elementos que configuram a produção do espaço urbano e a sua reestruturação num processo que evidencia as áreas de concentração do espaço urbano, a centralidade. Essa se torna explícita, através das mudanças espaciais da cidade relacionadas às áreas de atividades comerciais e de serviços que apresentam a descontinuidade assim como novos espaços fragmentados e sustentados na relação centro-periferia.

A relação centro-periferia é questão relevante no estudo centrocentralidades uma vez que a morfologia urbana é alterada diante da definição de novas centralidades e a formação de outras periferias. A cidade, através de seu tecido urbano, possui uma dinâmica contraditória de concentração e descentralização dos espaços urbanos numa constante redefinição da relação centroperiferia, que evidencia novas centralidades.

É a natureza dessa trama urbana distendida de densidades múltiplas – que combina concentração com descentralização, localizações com fluxos, imóveis com acelerados e diversos ritmos de mobilidade no interior dos espaços urbanos – que redefine o par centro-periferia, a partir da constatação de que há várias centralidades em definição e diferentes periferias em constituição (SPÓSITO, 2001, p.89).

Portanto, a centralidade surge como resposta espacial da dicotomia centro-periferia da qual a presente combinação concentração e descentralização alteram o espaço urbano. Deste modo, a centralidade constitui-se na superação de modo a relativizar essa relação, e justamente nessa perspectiva ocorrem as alterações espaciais na configuração de novas centralidades. Assim, as novas estratégias econômicas e locacionais de grandes grupos econômicos comerciais e de serviços interferem diretamente na estrutura urbana, alterando as relações do centro com o seu entorno e, também, com as suas áreas periféricas, mais distantes. Portanto, a concentração e descentralização que ocorrem no urbano refletem em nova dinâmica no espaço intraurbano.

Nova dinâmica
Na lógica dessa relação, as novas centralidades questionam a posição subalterna da periferia, ou do próprio termo. Dessa forma, considerando uma relação hierárquica entre os lugares intraurbanos, a periferia estaria subordinada ao centro antigo. Entretanto, na cidade polinucleada, o que seria a periferia, uma vez que existem núcleos ou aglomerações em locais distantes e diferentes em seu tecido urbano?

O que se observa, nesse caso, são as periferias relacionadas aos diferentes centros existentes nas cidades com crescimento polinucleado. Portanto, considerando as diferenças de escala, na dimensão intraurbana ocorre o mesmo com as redes de cidades, ou seja, as hierarquias são redefinidas.

Para Gottdiener (1993), o termo desconcentração é adequado para compreender a situação atual de desenvolvimento que está diretamente relacionada à descentralização e concentração nas cidades. Em sua análise, esse cenário é apresentado como uma forma e também um processo que representa a dialética presente nos aspectos sociais e espaciais. Em resumo, escolho o termo “desconcentração” para descrever os padrões atuais de crescimento polinucleado porque ele apreende a dispersão regional maciça de pessoas, comércio, indústrias e administração pública, juntamente com a reestruturação contemporânea de tais regiões em domínios multicentrados – esparramados por vários quilômetros e localizados em todo lugar do país especialmente naquelas áreas consideradas antigamente imunes ao desenvolvimento urbano (GOTTDIENER, 1993, p.19).

Nota-se que a relação entre concentraçãodescentralização produz novas centralidades através da redefinição centro-periferia que é explicitada na fragmentação do espaço urbano. Consequentemente, percebe-se uma nova forma urbana dada à cidade.

De acordo com Sabatini in Oliveira (2001), as cidades passam por transformações em sua forma urbana, de acordo com a segregação social do espaço.

Conforme exposto, a formação de subcentros decorrente da descentralização, como também de regiões metropolitanas que funcionam como uma única cidade e a existência dos condomínios fechados caracterizam a nova forma das cidades contemporâneas. No entanto, essas mudanças vinculadas a processos que ocorrem em escala global, assumem características específicas na escala local, de acordo com a evolução de cada formação sócio espacial.

Poder público
Nessa perspectiva, de surgimento de uma nova centralidade em setores da periferia, a ação do poder público é necessária para a instalação de infraestrutura urbana, intervindo também, de forma direta ou indireta, na questão dos assentamentos humanos, através do financiamento, seja para a população e/ou empresários. Consequentemente, essa atitude reflete não só na demanda por moradia, mas também no processo de acumulação de capital.

Na formação dos novos assentamentos humanos como núcleos habitacionais em setores distantes do centro, ou então, na formação de condomínios fechados, também distantes do centro e que são divulgados pelo apelo à qualidade de vida, novamente faz presente a questão do poder público, através do planejamento urbano. A instalação desses assentamentos urbanos em áreas distantes também necessita de altos investimentos públicos em infraestrutura como vias de circulação e transporte, por exemplo, o que inúmeras vezes contribui para a especulação imobiliária já que a formação desses novos assentamentos, em geral, é descontínua.

No caso da instalação de shoppings-centers, hipermercados, enfim, dos equipamentos de consumo e serviços, a questão do planejamento urbano por parte do poder público é realimentada, pois esses, como os assentamentos urbanos já mencionados, exigem, também, excelente infraestrutura.

Considerando-se as dinâmicas expostas, a relação centro-periferia é modificada, proporcionando a alteração direta na configuração do espaço urbano, com o surgimento de novas centralidades. No entanto, deve-se destacar que, na avaliação da morfologia urbana, com base em todas essas dinâmicas de estruturação, é preciso considerar a viabilidade proporcionada pelas vias de transporte e, mais especificamente, pelo automóvel, que possibilita o acesso aos novos lugares fragmentados.

 

Imprensa – SEESP
Artigo da Revista Geografia escrito por Wilson Martins Lopes Junior, Doutor em Geografia e Regina Celia Bega dos Santos, professora doutora do Curso de pós-graduação em Geografi­a, ambos do Instituto de Geociências da Unicamp. Para ler o texto completo clique aqui



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