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26/08/2013

Formação deficitária em exatas afeta ensino de engenharia no país

Especialistas afirmam que as escolas de engenharia precisam mudar os rumos de seus projetos pedagógicos, que se deparam com questões como repetência e evasão. A má qualidade do ensino básico e a falta de investimentos na educação são alguns dos problemas apontados como responsáveis pelo fato de o país ter hoje poucos engenheiros formados, dos quais muitos não exercem a profissão.

De acordo com o professor Dante Barone, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), muitos estudantes terminam o segundo grau com formação deficitária na área de exatas. "A razão para isso não é apenas a dificuldade natural das matérias, mas um problema sério de formação de professores e de ensino. Tal fato afeta o curso superior de engenharia por duas vias: os estudantes podem não se interessar em cursar engenharia devido a essa deficiência, ou podem abandonar o curso devido às exigências de conhecimentos razoáveis em matemática e física, por exemplo, para que seja possível acompanhar as disciplinas do curso", analisa.

Para o engenheiro Alessandro Fernandes Moreira, vice-diretor da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) a falha do ensino de engenharia no Brasil está nos professores formados no século XX, mas que trabalham com alunos do século XXI. "O professor do ensino superior precisa acordar para os novos desafios da educação. O ensino precisa ser modernizado para ser criativo e interessante para o aluno. Não se trata de simplesmente equipar uma sala com recursos de multimídia. É preciso saber aproveitar essa capacidade infinita de aprendizado do aluno em favor do que se intenciona ensinar", alerta.

Habilidades polivalentes
Alguns educadores acreditam que o ensino precisa ser ampliado para o desenvolvimento de habilidades polivalentes, tais como, capacidade de ouvir, persuadir, negociar, comprometer-se com a auto-aprendizagem, cooperar e ser ético, por exemplo. Esse conjunto de conhecimentos seria essencial para os engenheiros de agora e do futuro. "Não há dúvida que é exatamente o que se deseja. Mas eu pergunto: quem irá educar o professor para que ele consiga desenvolver nos alunos essas habilidades? Portanto, é urgente uma reforma na forma de ensinar. Preocupa-se muito hoje com recursos de mídia avançados, laboratórios modernos etc. Mas estamos esquecendo que nós professores precisamos estar mais atentos à forma que ensinamos esses jovens", afirma Moreira.

Um novo perfil - Um novo ensino de engenharia que inclua habilidades com outras áreas, como administração, filosofia, direito, ciências sociais, proporcionando uma visão menos restrita e mais interdisciplinar. Esse é o caminho para um futuro engenheiro mais equilibrado e em sintonia com as exigências do mercado de trabalho.

Segundo Barone, sem dúvida essas habilidades podem e devem ser inseridas na formação acadêmica do profissional de engenharia. "O perfil desejável é multifatorial. O profissional que se restringir apenas ao aprimoramento técnico não conseguirá corresponder totalmente às exigências que se tornarão cada vez mais complexas frente ao cenário de rápidas mudanças em que vivemos hoje. Criatividade e espírito inovador são características básicas para o profissional de hoje em qualquer área. O importante é que haja um equilíbrio entre os fatores, sem que o conhecimento técnico seja deixado de lado ou diminuído, e sem que se abdique por completo das ampliações de conhecimento nesses outros aspectos", opina o professor.

Flexibilidade na formação
O vice-diretor da Escola de Engenharia da UFMG concorda que é preciso buscar maior flexibilidade na formação do engenheiro para atender as demandas do mercado. "Hoje é fundamental a presença de um profissional que seja sensível às demandas sociais e ambientais, capaz de ser inovador e empreendedor em suas atividades", afirma Moreira.

Segundo ele, universidade e empresa têm funções específicas para a formação desse novo engenheiro. "O objetivo principal da universidade é potencializar as qualidades específicas do aluno que se forma. E as empresas, sem exceção, têm que estar preparadas para lapidar esse egresso de acordo com suas necessidades. Acredito que terão mais sucesso aquelas empresas que se preocuparem com essas questões antes mesmo do engenheiro ganhar o mercado", analisa.

Diálogo universidade-empresa - Para os educadores, os cursos de engenharia não estão falando o mesmo 'idioma' das empresas, formando profissionais que não buscam a inovação, nem o empreendedorismo. "Boa parte dos cursos ainda estão presos em uma estrutura curricular rígida que não abre espaços para o exercício da criatividade e que não permitem seus alunos a criarem um senso crítico em relação às demandas da sociedade", critica Moreira. Para ele, as escolas de engenharia precisam mudar os rumos de seus projetos pedagógicos.

Para o professor Barone deveria haver uma sinergia maior entre as universidades e as empresas desde a época dos estudos superiores. As dificuldades estão dos dois lados, segundo ele, o que dificulta uma formação de qualidade em engenharia, mais conectada com a realidade. "A aproximação dos professores universitários com empresas para desenvolver projetos de pesquisa aplicada e de inovação acaba sendo desestimulada, já que os parâmetros estritamente acadêmicos de valorização da pesquisa pontuam trabalhos em periódicos, muitas vezes dissociados de problemas práticos das empresas, mesmo que complexos", explica ele.


Fonte: Edna Ferreira/Jornal da Ciência




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