O primeiro ato da série que deve marcar o ano de 2014, para lembrar os 50 anos do golpe militar de 31 de março de 1964 e exigir justiça, teve como protagonistas os trabalhadores. Realizada em 1º de fevereiro, a iniciativa denominada “Unidos, jamais vencidos” lotou o Teatro Cacilda Becker, no Paço Municipal de São Bernardo do Campo (SP). O ato foi organizado pelo Grupo de Trabalho 13, que investiga, junto à Comissão Nacional da Verdade (CNV), a repressão sobre o movimento sindical e os trabalhadores, bem como a colaboração do empresariado com a ditadura. O prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, prestigiou o evento, além de João Vicente Goulart, filho do presidente deposto no golpe, João Goulart, o Jango, e do deputado estadual Adriano Diogo (PT), coordenador da Comissão Estadual da Verdade. Vários outros parlamentares também estiveram presentes, como o deputado federal Vicentinho (PT) e os estaduais Ana do Carmo, Hamilton Pereira e José Zico Prado (todos do PT).
Num exemplo de ação unitária, teve a participação das dez centrais brasileiras – Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Intersindical, Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) e Intersindical Central. Em várias falas dos representantes dessas organizações, foi destacado que a participação da classe trabalhadora foi decisiva para pôr fim ao regime de exceção. Liderança na greve de 1978 em São Bernardo do Campo, Luiz Inácio Lula da Silva foi lembrado em alguns discursos. Nas preleções, ainda, enfatizaram-se as heranças da ditadura, com, por exemplo, denúncias de casos de torturas pela polícia ainda hoje, e a exigência de punição aos torturadores e de justiça a todas as suas vítimas como uma das medidas cruciais para se completar o processo democrático.
A participação do empresariado na repressão foi outro ponto ressaltado. Rosa Maria Cardoso da Cunha, coordenadora da Comissão Nacional da Verdade e do GT 13, salientou que na realidade o golpe deve ser denominado civil-militar, por atuações como essa. Essa ação contra a classe, com denúncias e perseguições por empresas de trabalhadores, bem como a contribuição com cessão de equipamentos como veículos, combustíveis e patrocínio da tortura, está sendo investigada pelo GT 13. Segundo ela, houve cinco outras tentativas de golpe antes de 1964. “Foi gestado desde o Estado Novo por um consórcio de civis e militares que não queriam o povo na política.” Ela ponderou que a CNV tem atuação limitada, com mandato de 2,7 anos. A justiça, explicou, não alcançará as empresas, porque não se pode criminalizar pessoa jurídica. “Mas faremos essa reparação, nas lutas.” Por sua atuação junto à CNV, Rosa Cardoso foi homenageada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU) com o prêmio Personalidade Profissional 2013, em Excelência em gestão pública.
No ato em São Bernardo do Campo, foram homenageados mais de 400 trabalhadores que lutaram contra a ditadura, inclusive alguns mortos nas mãos dos militares, representados por seus familiares. Alguns depoimentos de ex-presos e perseguidos políticos foram exibidos em vídeos durante o ato, que contou ainda com duas apresentações teatrais, do Grupo Solano Trindade e de Tin Urbinati, o qual realizou performance baseada no poema de Vinícius de Moraes intitulado “O operário em construção”. Adriano Diogo concluiu: “Na resistência à ditadura estávamos todos juntos. Agora, para punir os torturadores e abrir os arquivos militares, temos que continuar juntos.”
Soraya Misleh
Imprensa - SEESP