Utilizando apenas a luz solar, avião faz voo de 26 horas. Objetivo é mostrar a eficiência das fontes de energia renováveis
O avião experimental Solar Impulse aterrissou na última quinta-feira (8/7) na Suíça, às 9h (horário local; 4h, pelo horário de Brasília), depois de voar 26 horas utilizando apenas energia solar. A aeronave, pilotada por André Borschberg, pousou na base militar de Payerne, observado e aplaudido por uma centena de espectadores. Sob um céu limpo, o protótipo de matrícula HB-SIA percorreu a pista e parou depois de percorrer 100m.
"É a primeira vez que um avião solar voa durante a noite", comemorou, visivelmente orgulhoso, Bertrand Piccard, aviador e fundador do projeto Solar Impulse, o avião solar que completou nesta quinta-feira, na Suíça, o primeiro voo sem combustível de mais de 24 horas, abre a porta ao uso generalizado das energias renováveis.
O aparelho poderia, inclusive, ter continuando seu voo. "Ele capta suficiente energia para ganhar altura e passar uma nova noite no ar", declarou Piccard, que recebeu o piloto e ajudou a abrir o cockpit.
Piccard detalhou que o aparelho tinha, no amanhecer de quinta-feira, energia suficiente em suas baterias para continuar voando mais três horas, uma margem muito maior que a esperada. "É um prazer estar de volta", declarou Borschberg. "Tenho a impressão de continuar no ar", acrescentou este ex-piloto militar de 57 anos.
O aparelho decolou na quarta-feira, às 6h51, a uma velocidade de 35km/h, da pista da base militar de Payerne, aproveitando um dia radiante. O avião tem como única fonte de energia 11,6 mil células fotovoltaicas que cobrem suas asas e estabilizador e alimentam os quatro motores elétricos, com potência de 10CV cada. Também permitem recarregar as baterias de lítio polímero de 400kg cada.
Seu peso é muito leve (1.600kg) e as asas têm uma envergadura semelhante às de um Airbus A340 (63,4m). O aparelho demonstrou funcionar bem durante o dia, com um primeiro voo de sucesso em 7 de abril e outros 10 desde então.
Os painéis solares serviram durante as 14 horas de sol de quarta-feira para carregar as baterias de lítio polimerizado, de 400kg de peso, o que permitiu que o protótipo tivesse energia suficiente para voar durante a noite. "O objetivo de voar sem combustível é mostrar que podemos ser muito menos dependentes da energia fóssil do que se acredita", destacou Piccard.
A intensidade do sol era tamanha na quarta-feira que o piloto pôde apagar parte do dispositivo que carrega das baterias. No entanto, na última hora do dia, o avião voou muito rápido, impulsionado por forte vento, o que impediu o carregamento adequado.
Na tarde de quarta, os organizadores decidiram continuar com o voo durante a noite, ao considerar que as baterias estavam suficientemente carregadas para aguentar até o amanhecer de ontem. Para o diretor de voo, Claude Nicollier, foi "um voo magnífico, melhor que o previsto".
A viagem foi acompanhada pela Federação Internacional Aeronáutica (FIA), que registra os recordes da aviação. Uma primeira tentativa foi cancelada na quinta-feira da semana passada uma hora antes da partida prevista, por causa de uma avaria num componente eletrônico. Depois desse primeiro êxito, a equipe do Solar Impulse, formada por 70 pessoas, espera construir um segundo modelo para dar a volta ao mundo em cinco etapas, com início previsto para 2013 ou 2014.
Pai e avô exploradores
Bertrand Piccard faz parte de uma família de exploradores e cientistas. Ele é neto de Auguste Piccard, primeiro homem a atingir a estratosfera em um balão em forma de gôndola, em 1931. O pai de Bertrand, Jacques Piccard, usou o batiscafo e bateu o recorde do mundial de descida no oceano, ao mergulhar até 10.916m. O próprio Bertrand, acompanhado pelo inglês Brian Jones, deu a volta ao mundo em um balão em 1999. A dupla percorreu 45.755km em 19 dias, 21 horas e 47 minutos. O voo começou na Suíça e acabou no Egito.
Três perguntas para Bertrand Piccard, fundador do projeto Solar Impulse:
- Quando o senhor teve a ideia de um avião solar?
A ideia me ocorreu durante a aterrissagem do Breitling Orbiter III (balão com o qual o próprio Piccard deu a volta ao mundo em 1999). Partimos com 3,7t de propano líquido e aterrissamos com 40kg. Disse a mim mesmo: "Não é bom para o meio ambiente. Gostaria de permanecer em voo o tempo que quisesse e voar sem combustível". Nesse momento, nasceu a ideia.
- De onde vem esse espírito aventureiro?
Vem do gosto de explorar o desconhecido, de explorar novos contextos, de ir mais longe do que a gente acha possível. É o que vi durante toda a minha infância com o meu avô (Auguste) e meu pai (Jacques), e verdadeiramente é isso que me interessa na vida.
- Quanto à energia solar, foi seu avô quem o influenciou?
Meu avô já tinha escrito, em 1943, um grande artigo científico sobre a energia fotovoltaica. Sempre ouvi falar nas preocupações ambientais, graças ao meu pai e ao meu avô. Para eles, era muito importante proteger o meio ambiente e utilizar a tecnologia para consegui-lo. Hoje, existe a tecnologia, existem as soluções. O que se deve fazer é dar às pessoas vontade de utilizá-las, porque não são usadas. As soluções atuais permitem poupar cerca de 50% do petróleo que a nossa sociedade utiliza. Há 11 anos, as tecnologias para poupar energias fósseis não eram tão eficazes, estavam em seus primórdios. Agora, passamos a fronteira das energias limpas, que estão disponíveis, mas que são pouco ou nada utilizadas por falta de vontade política.
Fonte: Correio Braziliense
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