Para atingir cenário em que o mundo deixe de ser dependente de combustíveis fósseis, Agência Internacional de Energia diz ser necessário dobrar gastos em ciência para desenvolver e aprimorar meios de geração
O mundo precisa dobrar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, tanto no setor privado quanto no público, para tornar a energia de fonte renovável a principal matriz energética nos próximos 40 anos. Essa é uma das conclusões do relatório "Perspectivas em Tecnologias Energéticas", apresentado no Brasil nesta quarta-feira (14/7).
O documento, lançado bienalmente pela Agência Internacional de Energia (AIE), traça cenários de redução de consumo de energia produzida com fontes fósseis no mundo. Para cortar pela metade a emissão de CO2 na atmosfera em 2050, utilizando como referência 2005, o estudo acredita ser necessário US$ 46 trilhões em quarenta anos. Os recursos seriam gastos no desenvolvimento de novas tecnologias, construção de usinas, inclusive nucleares, e no aumento da eficiência de estações já existentes.
"É uma grande quantia, mas menos do que previmos dois anos atrás", afirma o vice-diretor da AIE, Richard Jones, que veio ao Brasil apresentar os dados. "Os custos para trocarmos a matriz energética estão baixando".
Segundo Jones, a meta de dobrar os investimentos em quatro décadas é alta, mas factível e até econômica. "Quanto mais se gasta em pesquisa e desenvolvimento, menos se gasta em implementação de novas tecnologias. Cerca de dez vezes menos. As pessoas esquecem disso na hora de aumentar as despesas em ciência", analisa.
O estudo mostra que, caso nenhuma medida para alterar a matriz energética seja tomada e, levando em conta as tecnologias disponíveis hoje, a demanda por petróleo em 2050 seria 58% maior que em 2007 e a de carvão, 138%, o que levaria a forte aumento de preços desses minérios. A maior responsabilidade pelo aumento do consumo seria de países em desenvolvimento, como China e Índia.
Já o cenário alternativo, que prevê desenvolvimento de novas tecnologias e investimentos maciços em usinas nucleares, eólicas e maior aproveitamento de energia solar, calcula redução da dependência de combustíveis fósseis dos atuais 81% da matriz energética para 46% em 2050.
O estudo cita a necessidade de construção de 30 usinas nucleares no período, que totalizariam capacidade instalada de mil megawatts. É a fonte de energia que mais produziria no período, seguida pelas 35 usinas de carvão com técnicas de captura de carbono (500 MW) e as 20 de gás natural com captura de carbono (também 500 MW).
O maior esforço, no entanto, teria de ser feito em relação à instalação de painéis solares, ainda pouco presentes mundo afora. De acordo com a AIEA, seria necessário instalar 325 milhões de metros quadrados de painéis solares ao redor do mundo. Reformas nos atuais sistemas elétricos, a fim de torná-los mais eficientes, também são recomendadas.
A matriz energética teria de ser alterada principalmente no setor de transporte e construção, tanto nas economias mais desenvolvidas quanto nas emergentes, como Brasil e China. No setor de transporte, há uma grande aposta no desenvolvimento de carros a hidrogênio e elétricos, que comporiam cerca de metade das vendas de veículos em 2050.
Para o diretor geral do Centro de Pesquisas em Energia Elétrica da Eletrobrás (Cepel), Albert Melo, o estudo apresenta bons dados, mas é preciso lembrar da desigualdade de condições de investimento de cada país e as conseqüências do processo de mudança de matriz energética. "Acreditamos que todos os países precisam fazer esforços para diminuir suas emissões de gases poluentes, mas de formas distintas, de acordo com suas capacidades econômicas e sociais", comentou.
Marcelo Medeiros, do Jornal da Ciência
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