Tecnologia simples, à base de garrafas pet, pode ser crucial para países mais pobres.
Uma técnica conhecida há mais de 30 anos para obter água potável acaba de ser refinada. O armazenamento do líquido em uma garrafa pet sob a radiação solar deixava-o próprio para consumo após seis horas.
Agora, um estudo financiado pelo Instituto de Pesquisa Translacional em Saúde e Ambiente na Região Amazônica (Inpetam) comprovou como reduzir esta espera para apenas uma hora. Basta acrescentar uma pequena quantidade de azul de metileno, uma substância não tóxica e facilmente encontrada em farmácias.
A substância, de acordo com a pesquisa, cumpre o papel de catalisador da reação, degradando rapidamente o DNA das principais bactérias patogênicas presentes na água.
Nos países africanos que já aplicaram o experimento, a ocorrência de diarreia caiu até pela metade. Não é um resultado desprezível. A infecção é registrada pelo menos 4 bilhões de vezes por ano em todo o mundo, principalmente em regiões onde não há serviço de saneamento básico. Cerca de 1,8 milhão de pessoas morrem todos os anos por diarreia.
- Conseguimos apressar o método Sodis (abreviação de "Solar Disinfection"), há muito conhecido, recorrendo a uma substância de fácil acesso - comemora Álvaro Leitão, pesquisador do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ. - O azul de metileno costuma ser usado no tratamento da cistite. Nós o aproveitamos, embora em uma quantidade muito menor do que a necessária para remediar aquela doença.
Para realizar o experimento, a equipe de Leitão apelou para um simulador solar, um equipamento adquirido no ano passado que permite ajustar a emissão de radiações a diversos contextos - por exemplo, um dia ensolarado de verão, ou nublado de inverno.
Com o aparelho usado nos testes, ficou comprovado que o azul de metileno permitirá a limpeza da água em áreas que, até então, não poderiam ser contempladas pelo método, já que não dispunham de radiação solar intensa por seis horas.
Em áreas tropicais, por sua vez, a substância apressará a produção já existente de água própria para o consumo.
Equipes vão comparar incidência de diarréia
A Inpetam já apresentou a nova fórmula em algumas cidades amazônicas, como Porto Velho, Ji-Paraná e Ouro Preto do Oeste, todas em Rondônia e com alto índice de contaminação da água. As palestras, ainda sem previsão de término, contam sempre com a presença de um médico.
- O projeto continuará em vigor por até cinco anos - revela Leitão. - Depois, vamos comparar estatisticamente a incidência de diarreia antes e depois de apresentarmos o azul de metileno. O pesquisador acredita que a fórmula também possa ser aproveitada em certas localidades fluminenses, onde a contaminação da água também é alta.
Por aqui, a divulgação da garrafa pet com a substância coube ao Projeto Ciência na Praça, em que experimentos de laboratórios são levados para próximo das crianças.
Renato Grandelle, O Globo
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