Depois de investir pesadamente em universidades de elite, país lança plano focado em educação técnica
Depois de criar universidades de elite e de se tornar o país com mais estudantes de ensino superior do mundo, a China lançou no mês passado um plano de educação para a próxima década focado no ensino profissionalizante e na descentralização como forma de atender melhor o mercado de trabalho.
"A revolução agora é criar condições de trabalho aos estudantes", disse à Folha Dongmao Wen, pró-reitor da Escola de Educação da Universidade de Pequim.
As novas orientações foram formalizadas no documento Programa de Reforma e Desenvolvimento da Educação Nacional 2010-2020, resultado de um encontro do dia 13 de julho, em Pequim, com as 200 maiores autoridades educacionais do país.
Entre as principais metas está o "desenvolvimento vigoroso da escola vocacional", o equivalente ao ensino profissionalizante, com duração média de dois anos.
"É o canal mais importante para (...) aliviar as contradições da estrutura de oferta e demanda do mercado de trabalho", diz o documento.
"O principal objetivo é a capacitação para o mercado de trabalho. É por isso que a massificação das escolas vocacionais ocupou o lugar da educação universitária em massa [no programa]", disse, Liu Chengbo, diretor associado do Centro Nacional de Pesquisa em Desenvolvimento Educacional do Ministério da Educação.
Segundo o diretor do centro, Zhang Li, o ensino superior já passou por grandes transformações desde o início dos anos 1990. Para os próximos anos, as mudanças incluem descentralizar o ensino superior e aproximá-lo do mercado de trabalho.
Zhang cita números para demonstrar o salto do ensino superior da China: de 7,86 milhões de estudantes, em 1998 (9,8% dos recém-formados no ensino médio), saltou para 29 milhões (24,2%) em 2009, ultrapassando os EUA como a maior população universitária mundial.
O grande problema para o governo é que, nos últimos três anos, os recém-formados encontram cada vez menos vagas no mercado de trabalho. Neste ano, só 72,2% dos 6,3 milhões que concluíram o curso acharam emprego.
Já as universidades de elite foram contempladas pelo Projeto 985, em 1998, com a criação de 39 universidades de alto nível. Dessas, nove foram escolhidas como principais centros de excelência.
Segundo Zhang, o novo plano educacional prevê aprofundar o Projeto 985. Como exemplo, o diretor menciona que atualmente o programa espacial chinês emprega cerca de 10 mil pesquisadores de nível universitário com menos de 30 anos.
Levantamento feito pelo jornal "Financial Times" mostra que a China é o segundo país em número de artigos em publicações acadêmicas, e que deve ultrapassar os EUA em 2020.
Por outro lado, no ranking das melhores universidades asiáticas feito pela consultoria QS, a mais bem colocada é a Universidade de Pequim, num distante 12º posto.
"As universidades chinesas não alcançaram o topo, mas estão subindo rapidamente", disse o americano Philip Altbach, do Centro para Educação Superior Internacional do Boston College.
Altbach disse que o sistema de ensino chinês ainda sofre com problemas sérios, como corrupção, plágio e falta de orientação para pesquisa, descontrole na qualidade de instituições privadas, além da falta de democracia, no caso das ciências sociais.
"Muitos estudantes e professores estão mais interessados em fazer dinheiro do que em fazer ciência. O maior problema para atingir um nível mundial é construir uma meritocracia baseada em transparência acadêmica."
Fabiano Maisonnave, Folha de SP
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