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14/09/2010

UE cria plano bilionário de banda larga superveloz

 

     Pela estratégia, todos os europeus deverão ter acesso à internet em banda larga até 2013 e conexão com velocidade acima de 30 megabits por segundo (Mbps) em 2020, comparado a 2 Mbps atualmente, que já viabiliza boa parte das aplicações e fluxo de vídeo contínuo. Em dez anos, o objetivo é de que 50% ou mais de residências europeias tenham acesso à internet por modernas fibras ópticas tecnológicas com conexões ultravelozes acima de 100 Mbps.
       O documento europeu, ao qual o Valor teve acesso, prevê necessidade de investimentos entre 38 bilhões de euros e 58 bilhões de euros para alcançar o acesso a 30 Mbps, usando uma mistura de tecnologia VDSL (que permite acesso em alta velocidade) e nova geração sem fio. Mas a fatura varia de 181 bilhões de euros a 268 bilhões de euros para garantir os 100 Mbps para metade das residências em 2020.
       Os investimentos pelas empresas de telecomunicações na Europa têm sido em geral o equivalente a 12% e 14% do faturamento. Em 2008, os investimentos totais em banda larga na Europa foram de 24,7 bilhões de euros (excluindo cabo), dos quais 20 bilhões de euros efetuados pelos operadores tradicionais e quase 5 bilhões de euros por operadores alternativos.
       Para encorajar as companhias de telecomunicação, Bruxelas acenará com mais crédito do Banco Europeu de Investimentos (BEI) e instrumentos para reduzir custos dos investimentos, levando em conta que 80% da fatura para implantar novas redes fixas é na área de engenharia civil.
       Atualmente, um quarto da população europeia tem acesso a banda larga, quase igual à taxa de 26% nos Estados Unidos. São 126 milhões de usuários do serviço de rede fixa e outros 24 milhões de assinantes por redes sem fio (3G). Os preços na Europa caíram e o pacote médio fica em 40 euros mensal para acesso à banda larga fixa, excluindo telefonia e serviços de TV.
       Segundo a UE, a demanda global por banda larga cresce 50% a 60% ao ano, impulsionada pelo maior uso da internet nos mais variados setores. E a Europa corre para não ser superada tecnologicamente. Europeus costumam lembrar que a Coreia do Sul, por exemplo, planeja conectar 1 milhão de casas com 1 Gigabit por segundo (Gbps) até 2012, velocidade pela qual pode-se fazer o download de um filme de duas horas em apenas 12 segundos - ou seja, 500 vezes mais rápido do que a média da velocidade da internet europeia hoje.
       Para a UE, a banda larga superveloz, através de redes de fibra ou sem fio, constitui um pré-requisito para ter uma economia digital forte e liderança nas novas tecnologias e aplicações. O impacto econômico do que está em jogo para a Europa é enorme.
       Em 2008, o faturamento do setor de comunicações eletrônicas europeu foi de 351 bilhões de euros, dos quais metade veio do setor de informação e comunicação; 50% da receita veio de telefonia fixa e banda larga, e a outra metade das comuniques móveis.
       Ocorre que a demanda global por tecnologias da informação e comunicação alcança 2 trilhões de euros por ano, mas apenas um quarto disso vem das companhias europeias. O documento estima que se a Europa ficar atrás na corrida por internet superveloz, terá afetada sua inovação, disseminação de conhecimento e distribuição on-line de bens e serviços e a própria expansão econômica.
       Daí o engajamento na economia baseada na internet. O número de europeus que faz compras on-line é previsto para atingir 174 milhões até 2011. O gasto médio do consumo europeu on-line supera a despesa dos americanos na web e o comércio eletrônico europeu pode chegar a 263 bilhões de euros em 2011. As vendas de roupas, pacotes de viagens e eletrônicos superam cada um mais de 10 bilhões de euros por ano.
       Além disso, a soma de todas as formas de vídeo (TV, vídeo por demanda, internet etc) representarão mais de 90% do tráfego da internet em 2013. Em 2008, menos de 230 milhões de músicas e 6,6 milhões de filmes foram baixados na Europa, enquanto nos EUA esses números superaram 1 bilhão e 28,6 milhões respectivamente, através de canais de distribuição que se multiplicam, como iTunes, YouTube e Facebook.
       Para a UE, o investimento em crescimento 'inteligente' depende muito da eficiência e do uso eficaz da internet. E a velocidade do acesso à web 'é central para alcançar isso'. Estudo recente da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) diz que a poupança em apenas quatro setores da economia - transporte, saúde, eletricidade e educação - justifica a construção de redes nacionais de FTTH (Fiber-to-the-Home, tecnologia de interligação de residências através de fibras ópticas para o fornecimento de serviços de comunicação de dados, TV e rádio digital, internet e telefonia convencional).
       Mas no mercado da UE para telefonia fixa e banda larga, com peso de € 175 bilhões em 2009, 79% da tecnologia de acesso em banda larga é ADSL, que explora redes de cobre ou coaxiais (usados na telefonia e TV a cabo). Somente 4% da rede é fibra óptica FTTH, com velocidade acima de 100 Mbps.
       Segundo Bruxelas, um problema é que a concorrência entre operadores tradicionais e novos dá incentivo para investimentos em redes com tecnologias que exploram a infraestrutura atual de telefone (de cobre) e menos em FTTH, que é mais veloz, mas também mais cara. Fora das áreas de concorrência, os operadores parecem relutantes a ir além das redes de ADSL.
       A participação de mercado dos operadores de telecomunicação existentes é de 45,5%, os operadores alternativos ficam com 36% e os de cabo com 14,8%. Mas a UE avalia que o mercado para serviços de banda larga na Europa não se caracteriza por concorrência efetiva. A liberalização do setor começou nos anos 90, permitiu o surgimento de novos operadores, mas as autoridades nacionais identificam posições de 'poder de mercado significativo' detido pelas antigas companhias monopolistas.
       'Precisamos de um equilíbrio entre a necessidade de promover investimentos eficientes e inovação em novas infraestruturas, e assegurar a concorrência para o benefício dos consumidores europeus', tem afirmado a comissária europeia de tecnologia, Neelie Kroes.
       Os incentivos concretos para os investidores podem demorar um pouco. Mas até 2011 a UE diz querer facilitar o uso total de fundos europeus pelos países para ampliação da banda larga. Alega que de 2,3 bilhões de euros previstos para projetos de banda larga, os países só usaram 18% por causa de dificuldades na liberação do dinheiro. A UE tem mais € 1 bilhão pelo Fundo de Desenvolvimento Rural e outros recursos no orçamento.
       Sobretudo, a Europa vai desenvolver instrumentos de financiamento da banda larga. O Banco Europeu de Investimentos já financia 2 bilhões de euros por ano, em média, para 'projetos economicamente viáveis de banda larga'. A ideia é ampliar esse valor, considerando que sua participação com 1 bilhão de euros atrai investimentos adicionais privados entre 6 bilhões e 15 bilhões de euros, dependo do risco do projeto. A UE quer que autoridades nacionais e locais estimulem decisivamente Parceria Publico-Privado (PPP), não hesitando em usar fundos públicos.
       A redução dos custos de investimento dos projetos terá um foco especial. Inclui reduzir barreiras para os operadores. Os alternativos poderão implantar suas redes de fibras ópticas ao mesmo tempo que os operadores atuais. Os governos poderão assumir custos de serviços de engenharia para acelerar a implantação das redes. Redes de fibras ópticas construídas para ligar entidades públicas (escolas, bibliotecas, clínicas) poderão ser usadas para ampliar conexão superveloz para toda a comunidade.
       A criação de fundos e planos nacionais de investimentos deverá também ser definida até o ano que vem. Tudo isso levando em conta que os estados-membros têm enormes diferenças entre eles. A UE quer também que os países-membros implantem rapidamente políticas que ampliem o espectro da banda larga.
       A UE estabelece novas datas para mais ações: em 2011, fará proposta para os financiamentos de banda larga. Em 2012, fará uma revisão das práticas dos custo de redução dos investimentos. E até 2013, espera ter reforçado e distribuído os fundos para a banda larga superveloz através de instrumentos comunitários.

Serviço no Brasil é um dos mais caros entre 160 países
       Levantamento da União Internacional de Telecomunicações (UIT) mostra que o usuário no Brasil paga o equivalente a 4,5% de sua renda mensal pela assinatura de banda larga, com o serviço sendo um dos mais caros entre 160 países avaliados.
       Em comparação, a Coreia do Sul, que não tem as pretensões geopolíticas e econômicas do Brasil no cenário global, oferece o acesso mais rápido do mundo à internet, com os usuários gastando um terço do que gastam os brasileiros, ou 1,4% de sua renda mensal com o serviço.
       O secretário-geral da UIT, Hamadoun Touré, diz que o preço e o acesso são os maiores problemas para as populações de países em desenvolvimento, por causa do alto custo para conexão internacional, ou mesmo da falta de escolha de operadores.
       "Mesmo se a internet estiver disponível em suas áreas, com conteúdo interessante em sua língua, as pessoas frequentemente não podem pagar as altas taxas para usar (a web mais veloz)", afirmou Touré ao Valor.
       A disponibilidade de banda larga (alta velocidade) é considerada um indicador essencial do desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação. O Banco Mundial estima que países de renda média e baixa onde a densidade de banda larga aumenta 10%, o crescimento econômico é acelerado em mais de 1%.
       O diretor da UIT nota que o mercado para banda larga cresce aceleradamente em todo o mundo. O número de assinantes de acesso por linha fixa, que era 479 milhões ao fim de 2009, deve superar "facilmente" 500 milhões este ano.
       Por sua vez, as conexões por banda larga sem fio (móvel), que atualmente "oferecem a mais promissora conexão para o maior número de pessoas", pode chegar a 900 milhões de assinantes em dezembro, em meio a um total de 5 bilhões de assinantes de telefonia celular. Ou seja, quase um quinto de todos os usuários de celulares estarão habilitados a acesso em banda larga.
       "Em termos de evolução tecnológica, estamos vendo velocidade maior, aparelhos novos e mais capazes e dispositivos com mais funcionalidades, além de alguns desenvolvimentos intrigantes de conteúdo e aplicações", afirma.
       Ele sugere que os governos tomem medidas para se evitar uma internet com 'duas velocidades', tanto entre usuários de países desenvolvidos e em desenvolvimento, quanto entre as zonas urbana e rural.
       Touré defende firme atuação de reguladores e autoridades para minimizar o impacto de barreiras aos usuários de países em desenvolvimento, inclusive para reforçar a expansão econômica.
       A consultoria Booz & Company calcula que o aumento de 10% na taxa de acesso à internet rápida pode elevar a produtividade do trabalho em 1,5% nos cinco anos seguintes.
       A situação do mercado de banda larga varia muito de acordo com o país avaliado. A Dinamarca e a Holanda são os líderes mundiais na cobertura do serviço sob essa tecnologia, com acesso por cerca de 40% da população, comparado a 26% nos Estados Unidos.
       Na Finlândia, o governo decidiu que é um direito legal de todos os cidadãos ter acesso a uma velocidade de pelo menos 1 megabit por segundo (Mbps) de conectividade. A Letônia é o país na Europa que tem a maior rede de fibras implantada em relação a outras tecnologias. O acesso sem fio, que permite sobretudo conexão a computadores portáteis, ganha força na Áustria, Suécia, Portugal e Irlanda.
       A Dinamarca quer garantir conexão de 200 Mbps até 2015. E o governo conservador da Grã-Bretanha considera um "escândalo" que menos de 1% da população do país tenha acesso à internet por meio de fibra óptica, comparado aos 10%, em média, nos outros paises europeus.
       De maneira geral, Touré se diz otimista sobre o papel e as perspectivas da banda larga e do setor de telecomunicações no rastro da crise econômica global.

 

(Assis Moreira, Valor Econômico)
www.fne.org.br

 

 

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