O Instituo de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e a Prefeitura de Bertioga assinaram, em dezembro último, um convênio para um projeto-piloto que deverá auxiliar as prefeituras municipais do estado de São Paulo a reduzirem custos de investimentos e de operação no gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos (RSU) e também incorporarem avanços tecnológicos no aproveitamento energético dos materiais e na minimização da massa e do volume destinados à disposição final.
O projeto denominado ‘RSU – Energia’ é resultado de uma demanda feita ao IPT pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, que visa estruturar uma plataforma de conhecimentos para apoiar os municípios na avaliação de rotas alternativas de tratamento de resíduos sólidos urbanos, levando-se em conta os aspectos socioambiental e econômico – segundo a Lei 12.305, que instituiu em agosto de 2010 a Política Nacional de Resíduos Sólidos, os resíduos sólidos urbanos são aqueles originários de atividades domésticas em residências urbanas (resíduos domiciliares) e também da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana (resíduos de limpeza urbana).
A previsão de duração do projeto é de 24 meses. Os pesquisadores do IPT irão avaliar o impacto dos processos de coleta seletiva, separação e pré-tratamento na eficiência das tecnologias (conteúdo energético dos resíduos), aplicar uma ou duas tecnologias em escala de demonstração em um bairro de Bertioga, estabelecer a infraestrutura (competências técnicas e laboratoriais) necessária para que o IPT possa apoiar os municípios nas decisões relativas aos resíduos e desenvolver ou adaptar novas tecnologias. “Os resíduos sólidos urbanos são uma matéria-prima complexa, pois incluem materiais heterogêneos, úmidos e variáveis em função do consumo e estações de ano. Na Baixada Santista, por exemplo, aproximadamente 54% do total coletado são materiais orgânicos”, explica Cláudia Echevenguá Teixeira, pesquisadora do Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas do IPT e coordenadora do projeto.
Escolha de Bertioga
Com 55.660 habitantes, a cidade foi selecionada pela sua localização na Baixada Santista, região de alta suscetibilidade à contaminação (geologia local) e limitada quanto às opções de áreas de disposição de resíduos, assim como em razão da previsão de encerramento nos próximos anos da atual área destinada aos resíduos de Bertioga, que é o aterro sanitário Sítio das Neves na cidade de Santos.
Além disso, foram identificadas ações na gestão de resíduos da cidade que vão ao encontro dos objetivos do projeto, como a prática da coleta seletiva em 100% da área municipal, a instalação em maio de 2015 de um centro de gerenciamento e beneficiamento de resíduos e a existência de uma equipe técnica disponível. Segundo Marisa Roitman, secretária de Meio Ambiente de Bertioga, o município produz cerca de 2.100 toneladas de resíduos sólidos urbanos mensalmente, mas na alta temporada o volume aumenta de seis a oito vezes.
O projeto interdisciplinar será coordenado no IPT pelo Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas e contará com a participação de outras seis unidades do Instituto: o Laboratório de Processos Metalúrgicos, o Laboratório de Engenharia Térmica, oLaboratório de Combustíveis e Lubrificantes, o Laboratório de Análises Químicas, oLaboratório de Recursos Hídricos e Avaliação Geoambiental e o Laboratório de Biotecnologia Industrial, que abordarão os processos de pré-tratamento físico dos resíduos, seguido de tratamento por biodigestão e/ou térmico de maneira integrada.
Os resultados do projeto deverão permitir a consolidação de um programa de atendimento na busca de soluções para os resíduos, o qual estará disponível a qualquer município paulista. “Este programa pretende que o IPT se torne um canal direto e permanente de apoio tecnológico aos municípios paulistas, para auxiliar a encontrar as soluções mais viáveis dos pontos de vista técnico, econômico e ambiental para os resíduos, prestando serviços como a avaliação das tecnologias de tratamento e dos limites de aplicação e demonstração de novas tecnologias”, explica Cláudia. “Além disso, será possível o treinamento de técnicos das prefeituras em tratamento de resíduos, além do apoio na implantação e monitoramento desses sistemas”.
Três fases, dois anos
O projeto está dividido em três etapas. A primeira é a criação de um projeto de planta de avaliação/demonstração, com mapeamento das alternativas tecnológicas, definição da escala de instalação, elaboração de layout das unidades e definição de prazo e custo. A previsão de duração é de três meses.
A segunda fase será a montagem e o desenvolvimento da planta, com memorial descritivo detalhado e contratação de fornecedores de máquinas e equipamentos que serão instalados. Estão incluídas nessa etapa, cuja previsão é de duração de 15 meses, a criação de um protocolo de coleta de amostras de resíduos, com mobilização e integração da população para o caso escolhido, o lançamento do programa de auxílio aos municípios, com um evento e divulgação dos mapeamentos, e a inauguração das unidades e realização de testes de monitoramento.
A terceira e última etapa será colocar em prática o programa pelo IPT, com operação, monitoramento e avaliação da planta instalada em Bertioga e a proposta de solução para o município. A previsão é de duração de seis meses, totalizando dois anos de projeto.
“O estudo pode ser considerado inédito porque está inserido na realidade local, considerando variáveis técnicas, econômicas e sociais, e também prevê a integração de diferentes rotas tecnológicas em escala piloto e laboratorial, assim como a sensibilização da população na responsabilidade compartilhada da geração dos resíduos, o que irá contribuir para a melhoria da qualidade da matéria-prima a ser usada para suprir os sistemas de tratamento e aproveitamento que serão montados”, afirma Cláudia.
Fonte: IPT