Todos aqueles que pensaram no afastamento da presidente Dilma como uma forma de pacificar o País e estabilizar a situação política, restaurando-se a moralidade pública, erraram feio.
Mesmo sendo muito difícil que o Senado reverta o afastamento de Dilma, o governo de transição tem se revelado como um conjunto de homens ditos experientes obrigados a executar aos olhos de todos, uma série de ações, recuos, passos em falso e trapalhadas de principiantes na condução política. Muita avidez, pouco siso. Continuamos em plena crise, com o País dividido, apreensivo e sofrendo com a recessão, que passa a ser enfrentada, pela nova equipe econômica de maneira exclusivamente rentista, antipopular e antiestatal.
Uma coisa fica clara a cada dia que passa e é que o compromisso fundamental da transição – pelo menos no que diz respeito aos temas sindicais – consiste em procurar aplicar um tríplice programa regressivo (sem mencionar outros temas, como a terceirização):
- idade mínima de 65 anos para aposentadoria, de homens e mulheres, com a unificação das regras para todos os setores e atropelando direitos;
- o negociado prevalente sobre o legislado, sem garantias;
- desvinculação dos benefícios sociais do valor do salário mínimo que pode perder sua política de valorização.
Estas três orientações necessitam de uma reforma constitucional (diferentemente da terceirização, por exemplo, cujo projeto foi aprovado na Câmara sob o comando de Eduardo Cunha e com o voto contrário do atual ministro do Trabalho e que está parado no Senado) e confrontam-se com as posições afirmadas das direções sindicais e passam a exigir com maior vigor sua unidade de ação e de resistência.
Que esta unidade é necessária, não resta dúvida. Que esta unidade é possível, depende do bom senso e da experiência das direções, cujo compromisso de classe deve ser afirmado muito mais em respeito às bases dos trabalhadores e menos em relação às eventuais manobras de cúpula.
Há no movimento sindical e no movimento social uma determinação de luta. Isto pode ser demonstrado em São Paulo pelo empenho mobilizatório nos trabalhadores da construção civil, nos metroviários, nos ferroviários, nos motoristas de ônibus, nos professores universitários e mesmo nos alunos de cursos secundários e profissionalizantes.
Se o clima é de apreensão na sociedade e de barata-voa na equipe de transição, para o movimento sindical continua a valer o ensinamento de décadas: unir sempre, dividir jamais.
* João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical