O Estado de São Paulo é um dos maiores consumidores de energia do País, por isso há todo um planejamento de ações que envolvem decisivamente a engenharia para construir um modelo energético não só para o Estado, mas para o Brasil. A observação é do secretário estadual de Energia e Mineração, João Carlos de Souza Meirelles, que apresentou a palestra “Política energética”, na manhã do dia 1º de junho, em reunião do Comitê Gestor do Conselho Tecnológico do SEESP. O evento ocorreu na sede do sindicato, na Capital paulista. O presidente da entidade, Murilo Celso de Campos Pinheiro, agradeceu a presença da autoridade e destacou que os engenheiros paulistas, assim como os do País, estão engajados em ajudar o desenvolvimento estadual e nacional com a apresentação de propostas e ações efetivas. “Estamos colocando à disposição o nosso tempo e conhecimento. Vamos trabalhar, ´engenheirar´”, disse o dirigente sindical.
Na perspectiva de enfrentar a crise no setor que, segundo Meirelles, é gigantesca, ele defendeu o conceito de gerar energia próxima aos centros consumidores com a fomentação da criação de projetos inovadores, que levem em conta a utilização do gás natural como garantia de oferta firme, a ampliação da produção das energias renováveis, a eficiência energética e a redução das emissões de carbono. Para ele, São Paulo precisa estar à frente da construção de um modelo de matriz energética, que tenha como base a utilização intensa do gás natural. “A nossa história foi feita em cima desse insumo”, salientou, lembrando que o estado paulista começou a construir pequenas hidrelétricas já na década de 1870 e, em 1928, inaugurou a Henry Borden, em Cubatão, usina que começou a gerar 890 megawatts (MW). “Na sequência, passamos a construir todas as hidrelétricas que podíamos – como as dos rios Paranapanema, Rio Grande, Tietê e finalmente as do rio Paraná.”
Fotos: Beatriz Arruda/SEESP
Meirelles faz palestra sobre "Política energética no Estado de São Paulo"
Apresentando um cenário nacional da área, Meirelles lamentou que hoje o País esteja com sobra de energia, não devido a nenhum sucesso de construção de hidrelétrica, mas ao fracasso no crescimento econômico. “Estamos com uma queda no consumo de energia no Brasil na ordem de 4,5%, ao mesmo tempo enfrentamos um desarranjo brutal das linhas de transmissão e na distribuição com efeitos econômicos extremamente perversos.” Por isso, conclama: “Precisamos atuar de forma diferente.”
Desafios à engenharia
Nesse sentido, o secretário solicitou à engenharia de São Paulo e do Brasil empenho total na questão e lamentou o descuido com que se tratou o gás natural na matriz energética até agora. “O Brasil praticamente não usa o gás na geração termoelétrica. Hoje temos apenas algumas usinas de emergência instaladas, que foram feitas para serem de ponta e não de base. E isso é um grande defeito”, critica.
Paralelo a esse empenho, Meirelles considera importante a ampliação do uso das energias renováveis. Ele argumenta que “há um imenso leque de oportunidade, tanto para a energia solar, eólica e biomassa”. E acrescenta que as renováveis serão as grandes fontes de sustentação de energia dentro dos próximos 25 anos. “Por isso, é imprescindível que haja uma energia na base, e essa se chama gás”, defende.
O secretário apresentou um quadro estatístico onde mostra um declínio na produção hidrelétrica de São Paulo: “Nós que já fomos mega-produtores, hoje estamos com capacidade de 14,87 gigawatts (GW) de potência e o Brasil, 92,16 (GW).” A totalização com outros insumos energéticos – termoelétrica biomassa e fóssil, fotovoltaica, eólica e nuclear –, faz o estado alcançar 22,863 GW ante 142 GW do País. A indicação é inversa quando se trata de gás natural. Ele explicou: “Em 1980, a participação do gás na matriz energética de São Paulo era quase zero, hoje ela representa 7% e os derivados de cana, 31%.” Esse cenário, indicou Meirelles, exigirá profissionais da engenharia extremamente habilitados para lidar com as termoelétricas a gás.
Profissionais acompanharam exposição atentamente, na sede do SEESP, na Capital paulista
A partir de 2010, ressalva ele, São Paulo estourou na produção desse insumo. “Aí está a explicação porque estamos dando relevo ao tema.” Meirelles disse que tal feito se deve as três rotas da Petrobras, com a exploração das áreas do pós e pré-sal, e que já se estuda uma quarta fonte com a construção de um complexo de 500km em parceria com a Comgás. “Esse novo duto trará mais 15 milhões de metros cúbicos por dia (MMm³/dia) de gás a São Paulo”, comemorou. Para se ter uma ideia da importância do valor, hoje o Estado, nas três áreas de concessões ligadas à petrolífera brasileira, consome 17 MMm³/dia.
“Temos um potencial gigantesco nessa área. Para tanto, precisamos formar engenheiros, técnicos, tecnólogos capazes de se debruçarem, com sucesso, nesse desafio.” A perspectiva desse novo sistema, apresentou o secretário, também prevê a construção de um porto de regaseificação em Santos para ampliar a segurança no suprimento de gás a partir de outras partes do mundo.
Para ele, é preciso colocar a engenharia na fronteira dessa modernização. Pinheiro, ao finalizar a atividade, falou que o sindicato, de forma pioneira, criou uma faculdade de engenharia de inovação, o Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), que tem o propósito de assumir desafios de desenvolvimento com sustentabilidade. “É a nossa contribuição ao País com uma faculdade de excelência.”
* Confira a apresentação completa do secretário estadual de Energia e Mineração aqui.
Rosângela Ribeiro Gil
Imprensa SEESP