O Núcleo Jovem Engenheiro realizou, no dia 4 de junho último, mesa-redonda com especialistas para discutir problemas relacionados às inundações nas cidades a partir das informações levantadas junto aos moradores do bairro Itaim Paulista, de São Paulo, que sofrem com o fenômeno regularmente após precipitação pluviométrica. Inicialmente, a coordenadora do núcleo, Marcellie Dessimoni, agradeceu a presença dos profissionais, estudantes e recém-formados em engenharia e ressaltou que o projeto “Cresce Brasil – Itaim Paulista” já integra os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU). “Precisamos aproximar a nossa área cada vez mais das pessoas, aliar a engenharia ao protagonismo humano, além de buscarmos, claro, a nossa segurança profissional”, observou.
Fotos: Beatriz Arruda/SEESP
Abertura da atividade contou com a participação do coordenador do projeto Cresce Brasil,
Fernando Palmezan (ao microfone); de Marcellie Dessimoni, do Núcleo Jovem Engenheiro;
e dos diretores Celso Renato de Souza (esq.) e José Carlos Bento
A primeira apresentação foi da professora Melissa Cristina Pereira Graciosa, da Universidade Federal do ABC (UFABC), que agradeceu muito a oportunidade de contribuir com o projeto do sindicato. “A iniciativa de vocês vem ao encontro do que acredito deva ser a engenharia e a universidade”, elogiou. Na sequência, ela detalhou conceitos pertinentes à temática, fazendo a seguinte pergunta: “Por que a cidade está sempre embaixo de água?”. Segundo ela, são várias as causas naturais e antrópicas que devem ser sempre consideradas a partir da bacia hidrográfica inserida dentro de um contexto urbano. “Estamos falando, no caso dos fenômenos naturais, das chuvas, das ressacas marinhas etc.. Já no caso antrópico (tudo aquilo que resulta da intervenção humana), temos as ocupações das várzeas, a impermeabilização de áreas e canalização e tamponamento dos rios urbanos.” E acrescentou: “O rio, em seu estado natural, não aguenta a urbanização.”
Outro ponto destacado pela professora foi a devida conceituação dos termos enchente, alagamento e inundação. O primeiro refere-se ao aumento do nível do rio; o segundo é quando as redes de drenagem não funcionam; e o último é no momento em que as águas atingem as pessoas nas cidades. Para trabalhar essas situações, a engenharia, observa Graciosa, dispõe da moderna drenagem urbana que aborda de forma integrada a bacia hidrográfica, com quatro objetivos: controle da quantidade e da qualidade; restauração dos rios urbanos e recarga dos aquíferos com o restabelecimento da parcela de infiltração. “A ferramenta que temos à disposição hoje é o plano diretor de macrodrenagem”, salienta.
* Confira aqui a apresentação da professora da UFABC
Na sequência, o delegado sindical do SEESP Pedro Bonano, da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), apresentou a missão da empresa que é a de promover a melhoria contínua da qualidade de vida da população, oferecendo produtos e universalizando serviços de saneamento ambiental. Para ele, é fundamental que a engenharia saiba se comunicar com todos os segmentos da sociedade e também com os profissionais de outras áreas. Ao mesmo tempo, defendeu que o lucro de quem quer que seja não pode se sobrepor à qualidade e procedimentos vitais da engenharia.
Bonano salientou que para cada dólar investido em saneamento se economiza cinco dólares em saúde curativa, citando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). “O saneamento está ligado diretamente à redução da mortalidade infantil”, também observou.
* Confira aqui a apresentação de Bonano
Já a professora Claudia Bittencourt, das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e engenheira na Sabesp, atuando na regulação do setor de saneamento, destacou a importância de se saber o que é recurso hídrico para se saber as soluções necessárias nas cidades, assim como construir uma educação para a civilização que está em pequenos gestos, como a de não jogar lixo no chão em hipótese alguma. “Tudo é meio ambiente e todas as ações, desde projetos grandiosos de engenharia até ações individuais, são importantes.” Ela explicou que a sustentabilidade compreende três pilares: o social, o ambiental e o econômico. E falou sobre a evolução do conceito já que teve um tempo, disse, que o nível de poluição indicava o desenvolvimento de um país.
Bittencourt mostrou a evolução em prol do meio ambiente, citando o Relatório Brundtland, também conhecido como “Nosso Futuro Comum”. No início da década de 1980, a ONU retomou o debate das questões ambientais e indicou a primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, para chefiar a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, para estudar o assunto. O documento final foi apresentado em 1987 e propôs o desenvolvimento sustentável, que é “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades”.
Nesse sentido, ressalvou a engenheira química, é importante que as políticas públicas sejam criadas a partir desse entendimento sobre o que é sustentabilidade.
* Confira aqui a apresentação da professora da FMU
Maior parque linear do mundo
Fechando as atividades do dia, a coordenadora do Programa Várzeas do Tietê do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee), Marta Maria Alcione Pereira, apresentou o Parque Várzeas do Tietê (PVT) que tem 75 km de extensão e 107 km2 de área, colocando-o como o maior parque linear do mundo. Implantado ao longo do rio Tietê, unindo o Parque Ecológico do Tietê (localizado na Penha) e o Parque Nascentes do Tietê (localizado em Salesópolis), o projeto foi apresentado pelo Daee em 20 de julho de 2010 e teve início em 2011.
O empreendimento, destacou Pereira, beneficiará diretamente três milhões de pessoas da Zona Leste da capital e indiretamente toda a população da Região Metropolitana de São Paulo. O investimento previsto é de R$ 1,7 bilhão até 2022, sendo que a programação de trabalho está dividida em três fases. A primeira, de 5 anos, entre 2011 a 2016, será implantada num trecho de 25km entre o Parque Ecológico do Tietê até a divisa de Itaquaquecetuba. A segunda etapa tem 11,3 quilômetros e abrange a várzea do rio em Itaquaquecetuba, Poá e Suzano, com previsão de término em 2018. E a terceira fase, de 38,7 quilômetros, se estenderá de Suzano até a nascente do Tietê, em Salesópolis e deverá ser concluída em 2022.
Segundo ela, o objetivo do programa é recuperar e proteger a função das várzeas do rio, além de funcionar como um regulador de enchentes, salvando vidas e o patrimônio das pessoas. O PVT também oferecerá uma grande área de lazer à população, com 33 núcleos de lazer, esportes e cultura; 77 campos de futebol; 129 quadras poliesportivas; 7 polos de turismo; ciclovia com 230 km de extensão; recomposição de mata ciliar, equivalente a 360 campos de futebol; reordenação da ocupação das margens; recuperação e preservação do meio ambiente; despoluição de córregos; redução de 3.800 milhões m3 em perdas de água, entre outros benefícios.
* Confira aqui a exposição da coordenadora do Daee
A mesa-redonda contou com a participação, ainda, do coordenador do “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), Fernando Palmezan, para quem a ação do núcleo do SEESP agrega ainda mais valor e maturidade ao projeto lançado há dez anos pela entidade. “Desde 2006, discutimos grandes temas nacionais, e agora, no debate das cidades, temos a contribuição do núcleo jovem que se debruça num problema que aflige uma comunidade paulistana.” Estiveram presentes os diretores do sindicato Celso Renato de Souza (São José dos Campos) e José Carlos Bento (Marília). Os trabalhos técnicos do Itaim Paulista do Núcleo Jovem Engenheiro contam a assessoria do professor Marcelo de Melo Barroso, do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec).
Da esquerda para a direita: Marta Maria Alcione Pereira (Daee); Marcelo de Melo Barroso (Isitec);
Melissa Graciosa (UFABC); Marcellie Dessimoni; Pedro Bonano (Sabesp) e Claudia Bittencourt (FMU)
Rosângela Ribeiro Gil
Imprensa SEESP