Mais de 40 milhões de toneladas de resíduos eletroeletrônicos (REEE) foram descartadas em todo o mundo em 2014. No Brasil, estimativas governamentais e estudos publicados apontam que um habitante gera a cada ano algo em torno de 2,6 kg a 6,5 kg desse tipo de resíduo, que inclui desde geladeiras e fogões até celulares e computadores. Esses resíduos, se não destinados adequadamente, podem ocasionar graves problemas ambientais e à saúde humana. Mas se forem bem aproveitados também podem ser uma grande fonte de recursos, pois integram aquilo que os especialistas vêm chamando de 'minas urbanas'.
De acordo com a pesquisadora do Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Rachel Horta Arduin, que trabalha na avaliação dos impactos ambientais das alternativas de tratamento de equipamentos de tecnologia da informação e comunicação, com foco em celulares, esses aparelhos contêm metais nocivos à saúde humana, como chumbo e cádmio, mas também aqueles de alto valor agregado, como ouro, paládio e níquel, que ficam concentrados em alguns componentes, tais como os circuitos impressos dos telefones celulares e tablets. “Melhorar a gestão dos REEE representa uma oportunidade ambiental e econômica, daí o conceito de minas urbanas. A produção de equipamentos eletroeletrônicos requer o uso de materiais com disponibilidade limitada e alto valor agregado. A reciclagem pode, portanto, evitar a extração de novos recursos”.
Hoje esse material é pouco aproveitado no País. Grande parte desses resíduos vai parar em aterros e lixões. Apesar de a Política Nacional de Resíduos Sólidos ter estabelecido a implementação da logística reversa para resíduos eletroeletrônicos, o acordo setorial que irá operacionalizar o sistema de gestão ainda não foi publicado. Sendo assim, não existe uma estruturação do sistema de gestão de REEE no Brasil, apenas algumas ações isoladas de coleta e tratamento.
“De forma geral, o processo de reciclagem de REEE praticado no Brasil é incipiente, e pouco eficiente quando comparado com tecnologias existentes em outras nações. Já existem algumas empresas que possuem tecnologias mais avançadas, porém não representam a realidade nacional. Quando esses resíduos são tratados, os componentes com maior valor agregado são exportados para tratamento em plantas ao redor do mundo. Estima-se que, atualmente, o Brasil exporte material de alto valor agregado a preço similar ao da sucata comum de REEE.”
Experiência francesa
A solução para o problema não é de fácil implantação. A título comparativo, de acordo com a agência francesa de meio ambiente e energia (Ademe), a França, que possui um sistema de tratamento de resíduos eletroeletrônicos implementado desde 2005, consegue uma taxa de coleta de tudo que é produzido de apenas 38%. Alternativas, no entanto, estão sendo pensadas.
O IPT está desenvolvendo um projeto para quantificar o desempenho ambiental do processamento destes resíduos em diferentes cenários de reciclagem e destinação final, utilizando a abordagem de avaliação do ciclo de vida (ACV). A ideia é comparar diferentes opções de gestão dos resíduos em sua etapa final, de descarte. “Em termos práticos, o resultado final permitirá demonstrar quantitativamente os benefícios ambientais - por meio de categorias de impacto como potencial de aquecimento global e consumo de água - de realizar a logística reversa para reciclar os REEE frente à disposição final em aterros.”
O Instituto também dispõe de capacitação para desenvolvimento de projetos voltados para a avaliação de rotas tecnológicas de separação e reciclagem dos subprodutos de resíduos eletroeletrônicos, seja por via físico-química ou térmica. Como afirma a pesquisadora Sandra Lucia de Moraes, “os processos de reciclagem são avaliados e desenvolvidos desde a escala laboratorial até a piloto, permitindo um diagnóstico da viabilidade técnico-econômica do aproveitamento dos recursos. Os REEE sem dúvida possuem alto potencial econômico, principalmente se levarmos em conta a diminuição das reservas minerais brasileiras de alto teor. É possível dar uma destinação comercial ao que hoje é visto como resíduo”.
Fonte: Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)