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27/06/2016

Papel da indústria do cimento nas emissões de CO2

Responsável por 5% das emissões de CO2 no mundo, a produção global de cimento pode se tornar mais sustentável graças à pesquisa científica e a inovações tecnológicas, defendeu José Goldemberg, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), na conferência de abertura do 7º Congresso Brasileiro de Cimento, realizado pela Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), entre 20 e 22 de junho, em São Paulo (SP).

No Brasil, a participação da indústria cimenteira nas emissões de CO2 é metade da média mundial, cerca de 2,6%. De acordo com Goldemberg, isso se deve a inovações já adotadas pelo setor e que estão sendo identificadas e avaliadas por um estudo sobre as tecnologias voltadas à produção de cimento no país, do qual é coordenador técnico.

“Para cada tonelada de cimento produzida no Brasil são emitidos 600 kg de CO2, o que está abaixo da média mundial, de cerca de 900 kg por tonelada, mas ainda representa um desafio se considerarmos que a produção precisa ser incrementada diante das diversas demandas pelo produto. Apesar das variações ao longo do tempo, há um decréscimo de 1% das emissões ao ano – pequeno, mas importante, e que pode ser ampliado se forem reforçadas medidas como a busca por novas fontes de energia, como a biomassa, e a intensificação do uso de adições ao clínquer”, disse.

Produto da calcinação de calcário e argila em fornos que chegam a até 2 mil °C de temperatura, o clínquer é a base da “receita” do cimento. Boa parte da redução das emissões de CO2 se deve à diminuição da porcentagem dessa matéria-prima, altamente poluente, no processo de produção. Além disso, muitas indústrias utilizam filtros que reduzem a poluição gerada ao longo do processo da produção do cimento e substituem parte do combustível fóssil queimado nos fornos por biomassa ou lixo, como pneus usados.

Essas e outras medidas estão sendo identificadas pelo mapeamento, parceria da indústria nacional do cimento com a Agência Internacional de Energia (IEA), o Conselho Empresarial Mundial de Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, na sigla em inglês) e a Corporação Financeira Internacional (IFC, na sigla em inglês).

“Trata-se de uma iniciativa atrelada aos compromissos assumidos pelo Brasil em Paris, na 21ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 21), mas considerando a importância da expansão do setor diante das demandas nacionais, atendendo a viabilidade econômica e tendo como horizonte o ano de 2050”, disse Goldemberg.

Para o embaixador José Antônio Marcondes, subsecretário-geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores, reduzir as emissões de CO2 é, além de uma necessidade ambiental, uma maneira de modernizar o setor e fazê-lo avançar tecnologicamente.

“A COP 21 não foi apenas sobre o clima, mas também sobre desenvolvimento. Ao reduzirmos as emissões de gases do efeito estufa, nós estaremos utilizando tecnologias melhores, mais eficientes e que, portanto, trazem benefícios não só do ponto de vista ambiental, mas também para os negócios”, afirmou. “É uma relação em que todos ganham”, completou Goldemberg.

Alternativas

Entre as inovações apresentadas ao longo do congresso esteve uma nova formulação para a produção de cimento, desenvolvida na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) com o apoio da FAPESP. Os pesquisadores conseguiram aumentar a proporção de filler de calcário cru, matéria-prima que dispensa a calcinação pela qual é obtido o clínquer e que é responsável por mais de 80% do consumo energético e 90% das emissões de CO2 (leia mais em agencia.fapesp.br/17215).

Empregado desde a década de 1970, o filler não podia ter sua quantidade aumentada na fórmula do cimento por comprometer a qualidade do produto. Os pesquisadores desenvolveram uma formulação com teores de 70% da matéria-prima sem prejuízos ao produto final, o que possibilita ampliar a produção de cimento sem que seja necessária a construção de mais fornos.

Além das melhorias no processo de produção, Goldemberg destacou a importância dos combustíveis alternativos para a sustentabilidade do setor, que podem substituir o coque – resíduo sólido obtido da eliminação da maior parte do material volátil de combustíveis líquidos, como óleos pesados derivados da destilação do petróleo, ou de combustíveis sólidos, como o carvão mineral.

“Cerca de 65% do combustível usado para produzir cimento é coque de petróleo, mas há várias alternativas que podem ser adotadas. Na indústria cimenteira da Polônia, por exemplo, 80% dos combustíveis vêm dos resíduos urbanos, o que ajuda a resolver dois problemas: o da sustentabilidade na produção do cimento e o das prefeituras, que não tinham mais onde pôr o lixo das cidades após a União Europeia proibir a existência de lixões”, contou.

Para José Otavio Carneiro de Carvalho, presidente do SNIC, essas e outras medidas são necessárias para que a indústria supra as diversas demandas da sociedade por cimento.

“O Brasil, como país em desenvolvimento, tem um importante programa de infraestrutura a ser construído, e o cimento é a base para moradias, hospitais, escolas, portos, aeroportos, estradas, rodovias, hidrelétricas. O desafio é produzir o cimento necessário para o desenvolvimento buscando, ao mesmo tempo, soluções para reduzir ainda mais as emissões de CO2 e melhorar a eficiência energética. A ciência e a tecnologia são importantes aliadas nesse sentido.”

De acordo com a Portland Cement Association, dos Estados Unidos, o consumo mundial de cimento deverá crescer 3,7% até o fim do ano e 4% em 2017. Em 2015, foram consumidos mais de 4 bilhões de toneladas do produto.

 

Fonte: Agência Fapesp/Diego Freire

 

 

 

 

 

 

 

 

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