Enquanto perdurar o caráter transitório da atual cena política brasileira, com uma presidente afastada e um vice-presidente em exercício e a sucessão escandalosa de delações que tem sido para os brasileiros bestializados a oração cotidiana, reconheço ser muito difícil a expressão concreta e imediata da unidade de ação sindical.
Por desconfiança, por ressentimento, por incompreensão e por oportunismo as direções sindicais resistem a adotar posicionamentos comuns, embora ocorram reuniões e conversas qualificadas que apontam a possibilidade e a necessidade de tal comportamento e balizam sua reconstrução gradativa.
A unidade de ação deve ser reconstruída, mesmo neste período transitório e isto por duas razões principais. A primeira delas é a experiência unitária recente que produziu vitórias e avanços; sirva de exemplo-mãe a política de valorização do salário mínimo.
A segunda razão é a consolidação da equipe econômica do governo, a mais neoliberal, homogênea e poderosa da história recente do país e que já confronta o movimento sindical dos trabalhadores com uma pauta regressiva que, para se enfrentada com êxito, exigirá a máxima unidade, garantidora de mobilização maciça.
São três o eixos em torno dos quais já se deve construir a unidade para a resistência:
1- A pauta econômica geral, com o completo predomínio dos rentistas, que impõem estado-mínimo, corte de verbas sociais, desnacionalização, privatização e jurolândia nas alturas; a pauta econômica é pró-recessiva;
2- A pauta da reforma previdenciária que pretende passar uma lixa grossa nos benefícios da previdência pública;
3- A pauta antissindical que visa privilegiar o negociado sobre o legislado nas condições vigentes de fragilidade sindical (recessão, dificuldades da representação sindical e ações jurídicas e patronais); a pauta antissindical também se manifesta na legalização da terceirização.
À resistência nestes três eixos pode-se acrescentar a difícil luta parlamentar pela legalização dos recursos sindicais que, se não contar com a unidade plena das direções, dificilmente chegará a bom termo.
* João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical