Imaginem um estádio de futebol lotado com duas torcidas adversárias aguerridas. Durante todo o jogo as manifestações de cada uma delas são praticamente simétricas dependendo do desempenho dos seus times respectivos; são água e óleo, não se misturam.
Mas há alguns instantes em que as manifestações das arquibancadas são unânimes e a emoção coletiva supera o parcialismo dos torcedores: um gol de placa, uma defesa incrível ou uma falta grosseira indesculpável; são água e vinho misturados.
Isto é unidade de ação, provocada pela emoção, maior que o fanatismo de cada torcida.
Na vida real e, em particular, na vida sindical a unidade de ação depende das pautas unitárias e da consciência dos trabalhadores organizados e mobilizados por suas entidades. Mas, como confirmação do que assistimos em uma partida emocionante, depende também da emoção que deriva, na maioria das vezes, de uma agressão desabrida aos direitos ou de uma intenção malévola reconhecida.
A unidade de ação deve ser construída com empenho, mas a manifestação maciça unitária depende de um gatilho emocional, de um número mágico (em uma negociação salarial) e de uma conjuntura em que a manifestação – e só ela – faz levantar toda a arquibancada.
Assim como não há, em um jogo, a possibilidade de determinar previamente os lances vibrantes, na atuação sindical é muito difícil predeterminar o “grande” acontecimento que ocorre no próprio desenrolar da luta.
Dito de maneira clara: é possível construir a unidade de ação, com pautas e gestos agregadores, mas é um erro “construir a greve geral”, por exemplo.
Esta construção seria hoje divisionista, por mais bem intencionada que seja e por mais consequentes que sejam os argumentos sobre a sua necessidade.
Transforma a tática da luta em elemento definidor para os rumos do movimento, em lugar das pautas unitárias e das ações comuns, principalmente as ações de resistência.
É como gritar gol! sem que haja o chute certeiro.
* João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical