Recessão pesada e longa; retomada de crescimento demorada; colchão social dos trabalhadores esgarçado; manobras políticas. Diante desses elementos de fundo no quadro político-social, a única alternativa para o movimento sindical dos engenheiros é a Engenharia Unida. Esse é o diagnóstico dado pelo consultor sindical João Guilherme Vargas Netto, durante a reunião de diretoria da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), na terça-feira (14/9), na sede do Sindicato dos Engenheiros no Estado de Goiás (Senge-GO).
De acordo com ele, a recessão por que passa o Brasil não tem data para terminar. Contrariando a ideia de ciclos breves de recessão econômica, a economia mundial vive uma desaceleração prolongada e a brasileira segue no mesmo ritmo. “As condições estruturais hoje são de tal maneira que as melhoras serão lentas não só em relação a nossa economia com o mundo, como no mercado interno”, explica.
Outras dificuldades apontadas por ele, para os profissionais, é o atual cenário em que empresas vinculadas à engenharia estão acossadas pela recessão, pela corrupção e pelo combate à corrupção. Vargas Netto enumera os diversos fatores causadores do prolongamento da crise: os indicadores dos setores produtivos (indústria, agricultura e serviços) demonstram grande capacidade ociosa, ausência de investimento e queda continuada da renda dos trabalhadores.
No ultimo semestre, 40% das negociações produziram reajustes salariais inferiores à inflação do período e a maioria das decisões nos tribunais garantiram reposições parceladas. Ou seja, a massa salarial tem uma tendência a cair. “Isso reforça a tese de uma recessão que se prolonga, embora os jornais anunciem uma retomada iminente. Mas, é muito mais um jogo de política ou de confiança do que uma análise do fato material, real. A pergunta que temos feito é: ‘por que nesse quadro prolongado de decrescimento, de recessão, não há crise social?’”
Para o consultor sindical, a explicação é o acúmulo financeiro, dos últimos anos, com conjuntura favorável de ganhos reais com aumento do salário mínimo e do emprego. Com isso, o conjunto da sociedade acumulou uma reserva que ele chama de ‘colchão social de proteção’, que também inclui legislação trabalhista favorável, com diminuição da informalidade e garantia de seguro desemprego, por exemplo, além de aumento no volume das poupanças. “No último ano, com todos os elementos graves da recessão e da crise política, o colchão social foi usado para mitigar ou fazer desaparecer a crise social”, avaliou. No entanto, como há prazo de validade para essa reserva, já que o dinheiro vai sendo gasto, a tendência é que a situação se agrave.
Unidade do movimento sindical
Na avaliação de Vargas Netto, nos últimos oito meses, a unidade do movimento sindical brasileiro, que tinha atravessado uma década sendo construída, foi fortemente desafiada diante da crise politica. No entanto, observa ele, apesar de haver divergências entre as entidades sobre os rumos políticos que o País deveria seguir, o primordial é garantir os direitos já conquistados pela classe trabalhadora. “Ao invés de estimular os elementos politicamente artificiais, de divisão, houve bom senso para, apesar das diferenças, unificar em torno de plataforma”, afirmou. Exemplos disso para ele são ações como a inédita reunião entre 18 representantes dos metalúrgicos, de todos os espectros do setor, que coincidiu com as declarações do ministro do Trabalho e Emprego, Ronaldo Nogueira, de cogitar o aumento da jornada de trabalho para 12 horas diárias. Do encontro da categoria saiu a decisão de paralisação na quinta-feira (29/9), para defender os direitos trabalhistas, previdenciários e contra o enxugamento do Estado.
Efeito manada
Por outro lado, vê-se o chamado efeito manada na Câmara, que mobilizou recentemente 450 votos favoráveis à cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), influenciados pela opinião pública, mas também articulados pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia. “Não teremos facilidade na Câmara diante do rigor ideológico do presidente da Câmara”, avalia. E completa: “Se não enfrentarmos a opinião no sentido de construir uma visão favorável aos trabalhadores, se formos basicamente a luta, numa perspectiva de movimento sindical contra governo, independente de opinião, teremos uma derrota que só vamos entender quando a cortina do palco baixar."
Para reverter esse quadro, no qual ele inclui violações de direitos democráticos, como a livre manifestação do pensamento, Vargas Netto enfatiza que o movimento sindical precisa manter a unidade de ação na defesa intransigente das bandeiras e atenção em Brasília para eventuais manobras. Já em relação à categoria, ele faz um alerta: “O mundo das empresas de engenharia está acossado. Prestem atenção no que está por trás das 12 horas de jornada diária proposta. O ministro [do Trabalho] tem uma proposta arraigada que é o salário-hora. Pensem num conceito salário-hora e pensem para onde vai a profissão se isso for aprovado. E a lei do piso salarial profissional, como ficará?."
Deborah Moreira
Comunicação FNE