O Conselho Assessor de Transportes e Mobilidade Urbana do Conselho Tecnológico do SEESP esteve reunido, na quinta-feira última, 1/12, para discutir o uso de grandes bases de dados, conhecidos como Big Data e Warehouse, nos sistemas de transporte público. A programação contou com seis palestrantes e um amplo debate com foco no “aprimoramento da capacidade de tomar decisões”, como salientou Jurandir Fernandes, coordenador do conselho.
Fotos: Beatriz Arruda/SEESP
Murilo destacou o movimento Engenharia Unida na busca de melhorias ao País.
À abertura, o presidente do sindicato, Murilo Pinheiro, ressaltou dois recentes feitos da engenharia na contribuição pelo desenvolvimento nacional: o lançamento da Frente Parlamentar Mista da Engenharia, Infraestrutura e Desenvolvimento; e a Carta de Barra Bonita, resultado do encontro do movimento Engenharia Unida, em novembro último. Para Murilo, o conselho coloca em uso a inteligência tecnológica para planos de avanços. “Não adianta somente criticarmos, nós temos que propor soluções”, disse.
A cidade de São Paulo recebe cerca de 30 milhões de informações por dia dos usuários de ônibus, metrôs e trens, por meio da bilhetagem e monitoramento dos veículos, conforme informou Salvador Khuriyeh (foto à direita), diretor de infraestrutura da SPTrans. “Não adianta ter a informação e não saber utilizá-la”, salientou. Ele ainda contou que a Operação da Madrugada, realizada em fevereiro de 2015, foi a primeira operação inteiramente vigiada por controle inteligente na cidade. E que a partir dela foi observado que a tecnologia usada estava obsoleta e era necessário aprimorar o uso dos dados no sistema de transportes.
Em Campinas, um projeto em parceria com o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (Wbcsd, sigla em inglês) resultou numa plataforma que cruza os dados obtidos no monitoramento de 204 linhas de ônibus, transformando-os em gráficos e estatísticas. Tal ação possibilita análises, previsões e gestão mais assertiva do sistema. Segundo Carlos José Barreiro (foto à esquerda), secretário municipal de transportes e diretor-presidente da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), os dados são “matéria-prima de soluções, ocasionando até redução de gastos”.
Sociedade de "infoera"
Segundo o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Marcelo Zuffo, a sociedade está na “infoera”, em que o conhecimento é mais importante que a informação. “Com a enorme quantidade de informações hoje disponíveis, a TI, ou o Big Data pode funcionar como uma nova forma de Parceria Público-Privada (PPP)”, ensinou. Zuffo exemplificou sua afirmação com a empresa de serviços de transportes privado Uber: “Os dados (obtidos pela Uber) têm um grau de probabilidade. Isso ajudaria muito uma secretaria de trânsito saber locais de acidentes, engarrafamento.”
Para Zuffo (foto à direita), usar a ciência de dados para tomar decisões mais assertivas é atividade da engenharia. “Temos que quebrar paradigmas como um ônibus sem motorista etc., mas o computador não vai substituir a pessoa. O que for mais óbvio é do algoritmo, mas a capacidade analítica é do ser humano”, disse o professor.
Tecnologia
O diretor-presidente da empresa de bilhetagem Promobom Autopass, Rubens Fernandes Gil Filho, palestrou sobre as formas tecnológicas que podem auxiliar na captura de dados nos transportes. A modalidade mais utilizada hoje é a bilhetagem eletrônica. A empresa, que faz a curadoria do cartão BOM (Bilhete Ônibus Metropolitano), na cidade de São Paulo, recebe dados de mais de seis mil ônibus, somando mais de três mil valores diferentes de tarifas, entre cartões estudantes, regulares e outros, integrados também ao Metrô e à Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
Em planejamento, Gil Filho (foto à esquerda) expôs que há também o projeto piloto de pagamento de tarifas com cartões de crédito e débito. Além dos cartões, o diretor mencionou a tecnologia Pay de smartphones, que funciona como um espelho do cartão no celular, realizando transações por aproximação do aparelho.
A Autopass também avalia a bilhetagem por QR corde. “O passageiro pode ter o código no seu celular, ou mesmo adquirindo impresso nas bilheterias”, exemplificou Gil Filho, e prosseguiu: “ainda hoje, 30% de usuário de transporte público no Brasil pagam a tarifa em dinheiro”. Para ele, mobilidade é “facilitar a experiência do usuário, mas também o trabalho dos operadores e a gestão do poder concedente” – os três clientes principais que podem se beneficiar do uso de tecnologias da informação.
Startups de informações
De olho nas deficiências do mercado, as startups encontram grandes chances de inovar para construir soluções relevantes à mobilidade. Em sua palestra, Ivo Eduardo Roman Pons, diretor da Scipopulis Tecnologia, destacou o Big Data no uso de dados precisos e inteligências de maneira imediatas. A pequena empresa desenvolveu o aplicativo “Coletivo”, que mostra o tempo de chegada dos ônibus nos pontos de paradas. A partir daí, perceberam a importância das informações, das inteligências ao gestor, ocasionando “na melhoria do sistema como um todo”.
Hoje, a equipe de Roman Pons (foto à direita) monitora 70 milhões de quilômetros percorridos por dia, por 1.300 linhas de ônibus, com 15 mil veículos, integrados com bancos de dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). “São 100 mil previsões de tempo de chegada de ônibus por minuto”, contabilizou o diretor. O modo para o passageiro também compara o tempo de viagem do coletivo com o de um carro particular. Para o gestor do transporte, a interface tem alertas baseados no perfil histórico da linha. Se uma linha de ônibus apresenta problemas, o gestor pode antecipadamente acessar as câmeras da cidade para ver o que acontece, antes de mandar a equipe no local. “Isso acaba influenciando também nos custos”, informou Roman.
Outro trabalho nesse sentido é feito pela Cittati, startup de informações na mobilidade urbana, que disponibiliza aplicativo aos passageiros e monitoramento aos gestores. Fernando Matsumoto (foto abaixo à esquerda), gerente de produtos da Cittati, recebe 50 milhões de informações por dia, de forma voluntária (dos passageiros, por meio de pesquisas pelo aplicativo) ou involuntária (como geolocalização). Mesmo de forma voluntária, o gerente esclareceu que as informações são criptografadas no momento em que entram para a base de dados. “Não nos interessa saber quem é a pessoa, apenas as respostas da pesquisa”, disse. Matsumoto ainda completou sua palestra frisando que a tecnologia só funciona plenamente com o conhecimento: “O importante é saber o que fazer com tanta informação.”
Ambas as startups fazem parte do laboratório de mobilidade Mobi Lab, instalado na capital paulista para elaboração de projetos e soluções inovadoras em mobilidade urbana.
Ao final do debate, o coordenador Fernandes avaliou que o setor de transportes se encontra “no momento de buscar formas de aumentar produtividade”. Ele também ressaltou que muitas ações existem, porém o desafio é “analisar todos os dados obtidos com precisão e transformá-los em ações benéficas ao transporte e ao passageiro”.
Carlos José Barreiro
Ivo Eduardo Roman Pons
Rubens Fernandes Gil Filho
Fernando Matsumoto
Jéssica Silva
Comunicação SEESP