O presidente da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), Murilo Pinheiro, que também está à frente da CNTU, fala sobre a mobilização da categoria que marca a comemoração do Dia do Engenheiro neste ano, celebrado oficialmente em 11 de dezembro.
Oficialmente celebrado em 11 de dezembro, o Dia do Engenheiro neste ano tem comemoração marcada pela luta desses profissionais por reconhecimento ao seu trabalho e retomada do crescimento econômico. Em entrevista, o presidente da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), Murilo Pinheiro, que também está à frente da CNTU, falou sobre as principais reivindicações da categoria, que incluem respeito ao piso salarial e a implantação de carreira pública de Estado nas três instâncias de governo. Ainda, o dirigente destacou a mobilização por medidas que impulsionem o desenvolvimento nacional traduzido no movimento "Engenharia Unida" e pelo projeto "Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento".
Foto: Beatriz Arruda
Murilo Pinheiro fala sobre atuação da FNE durante encontro "Engenharia Unida",
realizado em novembro, em Barra Bonita/SP.
Quais são as principais bandeiras de luta da FNE em defesa dos engenheiros no Brasil?
A FNE luta por remuneração justa e planos de carreira compatíveis com as responsabilidades da categoria, condições de trabalho adequadas e oportunidade de atualização profissional. Essas são as condições básicas e essenciais para que os engenheiros possam desempenhar suas funções a contento e dignamente. Nesse contexto, atuamos pelo cumprimento da Lei 4.950-A/66, que estabelece o salário mínimo profissional definido em nove salários mínimos para jornada de oito horas e em seis para jornada de seis horas. Esta lei é válida para os engenheiros que atuam em regime de CLT, mas também pode e deve ser usada pelas administrações públicas como referência na remuneração dos profissionais estatutários. Nossa federação também vem trabalhando em favor da aprovação do PLC 13/2013, que prevê a carreira pública de Estado para engenheiros e arquitetos nas três instâncias da administração. A medida seria importante fator de valorização profissional, mas principalmente garantiria quadros técnicos qualificados para atuar nos municípios, nos estados e na União. Também muito importante para que o engenheiro tenha oportunidades é que haja crescimento econômico, daí a nossa preocupação em participar do debate público sobre o tema. Isso tem sido feito, desde 2006, por meio do projeto "Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento". E mais recentemente com o movimento “Engenharia Unida”.
O que é o projeto “Cresce Brasil”?
É um projeto que foi lançado em 2006 pela FNE como contribuição a um plano nacional de desenvolvimento, cujas premissas são democracia, preservação ambiental e distribuição de renda. A primeira edição, elaborada num período de estagnação econômica, defendia a possibilidade de retomada do crescimento econômico aos patamares de 6% ao ano. Isso exigia ampliar investimentos públicos e privados para 25% do PIB e promover alterações na política econômica, baixando juros e incentivando a produção. O documento que trazia essas propostas, elaborado a partir do trabalho de consultores em cada um dos temas e de vários seminários em todas as regiões do País com a participação de milhares de profissionais, apontava os gargalos em infraestrutura e o que precisava ser feito. Os temas tratados foram energia, transporte e logística, transporte público e mobilidade, comunicação, saneamento, ciência e tecnologia e agricultura. Desde então, o projeto vem sendo atualizado constantemente e vem abordando aspectos que a FNE considera mais relevantes em cada momento. Entre as várias etapas, estão uma discussão sobre as regiões metropolitanas, a crise financeira de 2008 e como superá-la, os desafios da indústria brasileira e as possibilidades trazidas pela Copa 2014 em termos de aperfeiçoamento da infraestrutura. Neste ano, lançamos um novo documento que foca as cidades, abordando a qualidade de vida da população e o desenvolvimento local. O objetivo foi travar essa discussão por ocasião das eleições municipais e, depois disso, com os prefeitos eleitos. O documento aborda o financiamento dos municípios, habitação, saneamento, mobilidade urbana, iluminação pública e internet pública.
Desde 2006, quais foram as conquistas para a categoria por meio do projeto "Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento"?
O “Cresce Brasil” foi uma importante contribuição da FNE à mobilização pela retomada do crescimento. Como resultado dessa mobilização, o governo federal lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que articulou uma série de obras e projetos de infraestrutura, o que trouxe oportunidade de trabalho e relevância social para a categoria que ficou no ostracismo durante os anos de estagnação. Entre 2003 e 2013, segundo estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) a pedido da FNE, o mercado formal para o engenheiro cresceu mais de 87%. E os melhores resultados foram nos anos de maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a partir de 2007. Ou seja, o “Cresce Brasil” trouxe conquistas essenciais à categoria. Lamentavelmente, esse ciclo virtuoso na economia sofreu um recuo. Daí, hoje propormos uma mobilização ainda mais forte unindo o conjunto das entidades da engenharia.
E qual o papel do movimento “Engenharia Unida”?
O movimento “Engenharia Unida” é uma ampla coalizão que reúne os engenheiros e demais profissionais da área tecnológica, por meio dos sindicatos, associações representativas, conselhos profissionais, universidades, empresas e entidades patronais. A proposta é que essa aliança possa oferecer saídas às dificuldades enfrentadas pelo País na atualidade e contribuir com o permanente avanço no futuro. A bandeira principal desse movimento é a retomada do desenvolvimento socioeconômico, contando com a imprescindível valorização da engenharia e dos seus profissionais. Durante o encontro "Engenharia Unida - Mobilização pela retomada do crescimento e valorização dos profissionais”, realizado na cidade de Barra Bonita (SP), nos dias 24, 25 e 26 de novembro, foram afirmados os objetivos do movimento, sintetizados na “Carta de Barra Bonita”.
O que propõe essa coalizão para enfrentar a crise?
Em linhas gerais, é preciso adotar medidas que estimulem a produção e garantam mais produtividade à nossa indústria e valor agregado aos nossos produtos. Isso exige inovação e é uma tarefa da engenharia. Como consequência, é preciso abandonar a lógica de favorecimento ao rentismo, ou seja, os juros altos que remuneram a especulação e desestimulam o investimento produtivo. Também é necessário que o Estado retome os investimentos em infraestrutura para que tenhamos condições melhores de produção e também para movimentar a economia. Um passo importante seria retomar as milhares de obras paradas existentes no País.
Qual a importância do movimento “Engenharia Unida” para as demandas atuais dos profissionais da engenharia?
O movimento “Engenharia Unida”, ao formar uma ampla coalizão de profissionais, tem o potencial de fortalecer a luta e o encaminhamento de reivindicações dos engenheiros e demais profissionais da área tecnológica. Certamente, esse conjunto de muitas vozes unidas será mais facilmente ouvido que cada profissional ou cada entidade atuando isoladamente. Com o mote da retomada do crescimento e valorização dos profissionais, a “Engenharia Unida” traz em sua pauta questões essenciais para a categoria, como o salário mínimo profissional e a carreira pública de Estado.
Na sua avaliação, como devem ser os profissionais de engenharia que vão para o mercado? A FNE atua nesse campo de formação?
Em primeiro lugar, é preciso uma sólida formação, com ensino de excelência. Também, o currículo deve compreender, além das matérias básicas e técnicas, competências que são necessárias para o exercício bem-sucedido da profissão nos dias de hoje. Isso inclui capacidade de trabalho em equipe, espírito empreendedor, capacidade de se comunicar bem. O aluno de engenharia deve aprender a aprender sempre e ser incentivado a criar, fazer, ousar. Também deve desenvolver um profundo senso de responsabilidade social e ambiental. É com essa mão-de-obra que contamos para construir um país avançado. A FNE atua nesse campo debatendo o tema por meio do “Cresce Brasil” e apoiando o Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), criado e mantido pelo Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP), que atua dentro dessa perspectiva. Indo para a quarta turma de Engenharia de Inovação no próximo semestre, o projeto tem se mostrado um sucesso.
Rita Casaro
Comunicação FNE