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27/03/2017

Opinião - Judas, 30 moedas e a febre amarela

João Guilherme Vargas Netto*

Não me decidi nunca sobre o que achava pior, se a traição de Judas ou a baixa remuneração recebida por ele.

Esta cogitação me vem à mente com o estardalhaço criado, no sábado passado, pela manchete principal da Folha. Segundo ela, um conjunto restrito de dirigentes sindicais e parlamentares negociava com o Governo o afrouxamento da luta sindical contra suas “deformas” em troca de beneplácitos inalcançáveis sobre os recursos à disposição dos sindicatos.

Como acontece nestes casos, depois da denúncia e do escândalo, choveram explicações e desmentidos.

Alguns mais inábeis do que espertos, procuraram explicar o inexplicável dizendo aos quatro ventos das redes sociais que negociaram sim, mas não a troca dos direitos dos trabalhadores pela garantia de recursos aos sindicatos. Negociaram então o quê? Não se lembraram da lição de que a mulher de César deve, também, parecer honesta.

A maioria do movimento sindical, até mesmo os involuntariamente atingidos pela denúncia, protestou firme e decididamente.

Embora a grande mídia não tenha dado prosseguimento ao assunto (por enquanto...) a justa indignação do movimento sindical se fez notar pela multiplicidade de notas, manifestos e posicionamentos contra o estelionato.

Tudo isso acontece quando o movimento sindical se reagrupa visando o 28 de abril e percebe, com a vitória no dia 15 de março e frente à calamidade da aprovação apertada da terceirização irrestrita (apesar dos corpos moles), que é possível derrotar, no fim das contas, as iniciativas do Governo.

A conjuntura mudou de caráter com o debate desinterditado e com o afrontamento entre “fora Temer” e “fora Dilma” sendo substituído pelo da imensa maioria que compreende o esbulho e reage contra ele e a minoria que oportunisticamente se aproveita do desmanche social procurando tirar vantagens.

A ingenuidade e o despreparo dos “negociadores” ficaram escancaradas quando a matéria, plantada com certeza pelo Palácio do Planalto, deu conta no seu final de que o Governo não acreditava na possibilidade da entrega da mercadoria adulterada prometida.

A denúncia da Folha serviu para o movimento sindical como uma vacina contra a febre amarela (o amarelo é a cor da traição no simbolismo secular do movimento sindical) dos candidatos a Judas fodidos e mal pagos.

É com tristeza que registro que o companheiro Pavão não lerá esta coluna. Descanse em paz.

 


João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical

 

 

 

 

 

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