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29/05/2018

Projeto Indústria 2027 avalia impactos de 8 tecnologias disruptivas

Fonte: Unicamp

O futuro da indústria brasileira frente ao avanço tecnológico acaba de ser delineado por estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Campinhas (Unicamp) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a pedido da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Instituto Euvaldo Lodi (IEL). A iniciativa, denominada Projeto Indústria 2027, avaliou os impactos de oito tecnologias disruptivas em dez sistemas produtivos, no horizonte de cinco e dez anos. Além de descortinar esse horizonte, o documento traz recomendações às empresas para ampliarem a sua competitividade a partir das vantagens proporcionadas pela inovação. “Esse projeto é um bom exemplo de como a aproximação entre a academia e o setor produtivo pode gerar resultados que contribuam para o desenvolvimento do país”, avalia o professor Mariano Laplane, titular da Diretoria Executiva de Relações Internacionais (Deri) e coordenador do estudo no âmbito da Unicamp.



Foto: Divulgação Unicamp

linha de montagem honda em Sumare SP foto unicampLinha de montagem Honda, em Sumaré (SP)

 

 

Os detalhes do Projeto Indústria 2027, que foi desenvolvido ao longo de 14 meses e contou com a coordenação-geral do ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e professor colaborador aposentado do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, Luciano Coutinho, foram divulgados na quinta-feira (24/5) pela CNI. Em linhas gerais, o documento, construído pelo esforço de 75 pesquisadores, considera que o setor industrial enfrentará importantes desafios pela frente, mas também terá boas oportunidades para crescer no período analisado. “O Brasil pode e deve pensar em construir o futuro da indústria com ambição, além de ter visão de longo prazo”, entende Luciano Coutinho. “Investir na capacitação de pessoas e de empresas, além de ações por meio de programas e instrumentos coordenados, monitorados e sintonizados às empresas são alguns dos direcionamentos para avançarmos”, acrescenta.

A diretora de Inovação da CNI e superintendente nacional do IEL, Gianna Sagazio, elogia o trabalho realizado por Unicamp e UFRJ e destaca a importância do estudo para orientar o planejamento estratégico das empresas. “O Projeto Indústria 2027 desenhou um cenário até então desconhecido para a indústria brasileira. A disrupção está em curso, mudando modelos de negócio, a forma de produzir, os produtos produzidos. É um novo peso, de influência crescente, na competitividade das empresas e, consequentemente, dos países. Por isso, essa iniciativa da CNI e do IEL é tão importante. É uma contribuição valorosa ao desenho de estratégias nacionais e corporativas para nos direcionarmos rumo ao desenvolvimento”.

Ainda segundo a executiva, construir essa perspectiva e avaliar a capacidade de resposta do Brasil “somente foi possível porque contamos com duas das melhores universidades do país - a UFRJ e a Unicamp - no projeto, além do engajamento das lideranças empresariais da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI). O projeto buscou, e conseguiu, aproximar indústria e academia para entender a transformação digital pela qual passamos”.


Mariano Laplane explica que o estudo reuniu dois grupos de pesquisadores das duas universidades: um especializado em pesquisa e inovação e outro nos setores industriais. Os primeiros analisaram quais tecnologias trarão impactos significativos para a indústria ao longo da próxima década. Os segundos fizeram uma avaliação do atual estágio da produção e qual a capacidade dos segmentos de incorporar tecnologias disruptivas. “Depois, fizemos o cruzamento das avaliações. Para chegarmos às conclusões contidas no estudo, nós também promovemos várias rodadas de discussão, entrevistamos centenas de empresários e consultamos especialistas do exterior, por meio de parcerias com a Universidade de Cambridge e com a OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico] em Paris”, detalha.


De acordo com o coordenador do Projeto Indústria 2027 na Unicamp, a mensagem que emergiu desse esforço de investigação foi que tanto no plano doméstico quanto no internacional as novas tecnologias trarão grande impacto para o desenvolvimento industrial. “Entretanto, segundo os especialistas, a incorporação da inovação por parte das empresas não ocorrerá naturalmente. Há uma série de obstáculos a serem superados, tanto dentro quanto fora das corporações.  No âmbito das empresas, há a questão, por exemplo, da adaptação da produção às novas tecnologias. No âmbito da sociedade, há questões fundamentais a serem discutidas, como a segurança cibernética e a privacidade dos cidadãos no mundo digital”, pondera.

O cenário desenhado pelo estudo, reafirma Mariano Laplane, abre inúmeras oportunidades para a indústria brasileira, mas é preciso saber aproveitá-las. “Temos que estar preparados, pois essas oportunidades serão rapidamente capturadas. Do contrário, teremos que pagar royalties pelo uso de determinadas tecnologias. Nunca é demais lembrar que o Brasil possui atributos muito positivos, como biodiversidade, clima, população ainda jovem e um enorme mercado interno. Temos condições de sermos originais, de sermos criativos. Não temos capacidade de liderar esse processo, visto que enfrentamos um momento importante de fragilidade política e econômica, mas podemos participar do jogo”, pontua o docente.

Uma boa maneira de se empregar as novas tecnologias, afirma Mariano Laplane, é aplicá-las na melhoria da qualidade de vida dos brasileiros, por meio da qualificação de setores como educação, saúde, segurança e transporte. “Obviamente, a sociedade terá que participar desse processo e manifestar o seu desejo. O governo, por seu turno, terá que agir e incluir essas questões na sua agenda. Nunca é demais lembrar que o mundo passou por três revoluções industriais. Estas não somente transformaram os modos de produção, mas também mudaram comportamentos e modos de vida”, finaliza.

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