Fonte: Unicamp
O futuro da indústria brasileira frente ao avanço tecnológico acaba de ser delineado por estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Campinhas (Unicamp) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a pedido da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Instituto Euvaldo Lodi (IEL). A iniciativa, denominada Projeto Indústria 2027, avaliou os impactos de oito tecnologias disruptivas em dez sistemas produtivos, no horizonte de cinco e dez anos. Além de descortinar esse horizonte, o documento traz recomendações às empresas para ampliarem a sua competitividade a partir das vantagens proporcionadas pela inovação. “Esse projeto é um bom exemplo de como a aproximação entre a academia e o setor produtivo pode gerar resultados que contribuam para o desenvolvimento do país”, avalia o professor Mariano Laplane, titular da Diretoria Executiva de Relações Internacionais (Deri) e coordenador do estudo no âmbito da Unicamp.
Foto: Divulgação Unicamp
Linha de montagem Honda, em Sumaré (SP)
Os detalhes do Projeto Indústria 2027, que foi desenvolvido ao longo de 14 meses e contou com a coordenação-geral do ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e professor colaborador aposentado do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, Luciano Coutinho, foram divulgados na quinta-feira (24/5) pela CNI. Em linhas gerais, o documento, construído pelo esforço de 75 pesquisadores, considera que o setor industrial enfrentará importantes desafios pela frente, mas também terá boas oportunidades para crescer no período analisado. “O Brasil pode e deve pensar em construir o futuro da indústria com ambição, além de ter visão de longo prazo”, entende Luciano Coutinho. “Investir na capacitação de pessoas e de empresas, além de ações por meio de programas e instrumentos coordenados, monitorados e sintonizados às empresas são alguns dos direcionamentos para avançarmos”, acrescenta.
A diretora de Inovação da CNI e superintendente nacional do IEL, Gianna Sagazio, elogia o trabalho realizado por Unicamp e UFRJ e destaca a importância do estudo para orientar o planejamento estratégico das empresas. “O Projeto Indústria 2027 desenhou um cenário até então desconhecido para a indústria brasileira. A disrupção está em curso, mudando modelos de negócio, a forma de produzir, os produtos produzidos. É um novo peso, de influência crescente, na competitividade das empresas e, consequentemente, dos países. Por isso, essa iniciativa da CNI e do IEL é tão importante. É uma contribuição valorosa ao desenho de estratégias nacionais e corporativas para nos direcionarmos rumo ao desenvolvimento”.
Ainda segundo a executiva, construir essa perspectiva e avaliar a capacidade de resposta do Brasil “somente foi possível porque contamos com duas das melhores universidades do país - a UFRJ e a Unicamp - no projeto, além do engajamento das lideranças empresariais da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI). O projeto buscou, e conseguiu, aproximar indústria e academia para entender a transformação digital pela qual passamos”.
Mariano Laplane explica que o estudo reuniu dois grupos de pesquisadores das duas universidades: um especializado em pesquisa e inovação e outro nos setores industriais. Os primeiros analisaram quais tecnologias trarão impactos significativos para a indústria ao longo da próxima década. Os segundos fizeram uma avaliação do atual estágio da produção e qual a capacidade dos segmentos de incorporar tecnologias disruptivas. “Depois, fizemos o cruzamento das avaliações. Para chegarmos às conclusões contidas no estudo, nós também promovemos várias rodadas de discussão, entrevistamos centenas de empresários e consultamos especialistas do exterior, por meio de parcerias com a Universidade de Cambridge e com a OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico] em Paris”, detalha.
De acordo com o coordenador do Projeto Indústria 2027 na Unicamp, a mensagem que emergiu desse esforço de investigação foi que tanto no plano doméstico quanto no internacional as novas tecnologias trarão grande impacto para o desenvolvimento industrial. “Entretanto, segundo os especialistas, a incorporação da inovação por parte das empresas não ocorrerá naturalmente. Há uma série de obstáculos a serem superados, tanto dentro quanto fora das corporações. No âmbito das empresas, há a questão, por exemplo, da adaptação da produção às novas tecnologias. No âmbito da sociedade, há questões fundamentais a serem discutidas, como a segurança cibernética e a privacidade dos cidadãos no mundo digital”, pondera.
O cenário desenhado pelo estudo, reafirma Mariano Laplane, abre inúmeras oportunidades para a indústria brasileira, mas é preciso saber aproveitá-las. “Temos que estar preparados, pois essas oportunidades serão rapidamente capturadas. Do contrário, teremos que pagar royalties pelo uso de determinadas tecnologias. Nunca é demais lembrar que o Brasil possui atributos muito positivos, como biodiversidade, clima, população ainda jovem e um enorme mercado interno. Temos condições de sermos originais, de sermos criativos. Não temos capacidade de liderar esse processo, visto que enfrentamos um momento importante de fragilidade política e econômica, mas podemos participar do jogo”, pontua o docente.
Uma boa maneira de se empregar as novas tecnologias, afirma Mariano Laplane, é aplicá-las na melhoria da qualidade de vida dos brasileiros, por meio da qualificação de setores como educação, saúde, segurança e transporte. “Obviamente, a sociedade terá que participar desse processo e manifestar o seu desejo. O governo, por seu turno, terá que agir e incluir essas questões na sua agenda. Nunca é demais lembrar que o mundo passou por três revoluções industriais. Estas não somente transformaram os modos de produção, mas também mudaram comportamentos e modos de vida”, finaliza.
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