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08/01/2019

Artigo – O pulo da onça

João Guilherme Vargas Netto*

 

Dizem que os grandes animais antediluvianos, ao sofrerem uma ferida letal, levavam um tempo enorme para morrer. Seu cérebro, minúsculo, era tardo em processar tal informação.

 

O movimento sindical dos trabalhadores brasileiros atravessa uma fase difícil em que a dessindicalização é galopante e há um retardo nas consciências para compreender o avassalador desafio que lhe é imposto e que não é de agora.

 

Depois de anos de globalização, que destruiu as bases industriais, de uma recessão severa e renitente, que eliminou milhões de empregos, e dos efeitos desorganizadores da lei trabalhista celerada, mal consegue se manter como movimento relevante, ainda que dirigentes e ativistas abnegados persistam na resistência e no esforço unitário.

 

Mas isso não basta se não levarmos em conta a necessária modificação da estratégia capaz de enfrentar e resolver os problemas novos criados pela vitória do bolsonarismo.

 

A tripartição das tarefas do Ministério do Trabalho e sua extinção são o resumo do quadro de dificuldades criado para os trabalhadores formais, para o movimento sindical e para a negociação coletiva.

 

O bolsonarismo, que é consequência, em grande parte, de um estado de coisas socialmente desorganizado, apresenta-se como o adversário mais consequente da ação sindical. Procura estrategicamente separar, com uma muralha da China verde e amarela, o núcleo organizado dos trabalhadores (em particular o próprio movimento sindical) da massa de milhões e fazer com que as instituições representativas entrem em colapso em suas expressões coletivas.

 

Para resistir a isso é preciso, em primeiro lugar, garantir a continuidade da existência de entidades sindicais de peso, de representatividade ainda incólume (afirmada em campanhas salariais efetivas e com resultados) e com capacidade de ação, uns 50 sindicatos de grandes categorias no Brasil inteiro.

 

Os dirigentes sindicais mais experientes e combativos devem se preocupar com esta nova etapa da luta e concentrar seus esforços nestes 50 pilares da resistência e da ressurgência do movimento, superando a fase da unidade de ação das cúpulas sem expressão equivalente nas bases.

 

Para preparar o pulo da onça, é preciso ser onça.

 

 

 

 

Joao boneco atual

 

 

 

 *Consultor sindical. Artigo originalmente publicado no boletim da Agência Sindical de 8/1/2019.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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