Jéssica Silva
Comunicação SEESP
A primeira plenária do IX Encontro Ambiental de São Paulo (EcoSP), promovido pelo SEESP nesta quinta-feira, 21/3, colocou em pauta resíduos sólidos e as possibilidades que favorecem o meio ambiente e toda a população a partir da reutilização máxima destes recursos.
Quem mediou a mesa foi o diretor do sindicato Fernando Palmezan Neto e, iniciando as palestras, o diretor técnico da Associação Brasileira da Indústria da Iluminação (Abilux), Isac Roizenblatt.
O engenheiro eletricista falou sobre a importância de se reciclar as lâmpadas de mercúrio fluorescentes, ainda presentes em muitas casas e prédios como escolas, hospitais, empresas. “O mercúrio é um metal pesado, perigoso, tóxico”, argumentou. Cada lâmpada desse modelo, conforme explicou o palestrante, tem em torno de 5 a 7 ml de mercúrio – nos antigos modelos de termômetros, há 120g. “Pode parecer pouco, mas se tiver 1 ml tem que reciclar”, ele atestou.
Fotos: Beatriz Arruda
Isac Roizenblatt abordando a logística reversa das lâmpadas fluorescentes no EcoSP.
Por volta dos anos 2000 iniciou-se o debate sobre a destinação do lixo e, em 2016, é que surgiu o acordo setorial e a Lei dos Resíduos Sólidos, colocando as empresas para trabalharem também em prol da reciclagem. “Fizemos o caminho de volta das lâmpadas”, contou Roizenblatt.
Daí surgiu a associação Reciclus, responsável por organizar e coletar as lâmpadas fluorescentes com sistema que, segundo o engenheiro, acompanha “da saída do mercado à recicladora, em que toda informação é controlada online e sempre à disposição do governo e da população”. Com a ação, as grandes produtoras das lâmpadas hoje são obrigadas arcar com o custo também da reciclagem.
Hoje, a Reciclus tem 1.249 pontos de coleta e mais de 2,6 milhões de lâmpadas de mercúrio já foram recolhidas para reciclagem. No site da associação é possível procurar o ponto mais próximo por meio do CEP. Roizenblatt explicou que o mercúrio reciclado é destinado a laboratórios e maquinações que ainda necessitam do material. Nada é descartado: “o pó fluorescente das lâmpadas pode ser usado até na fabricação de tijolos”, ele contou.
“Lixo é um erro de design”
Com este mote é que Flavia Cunha, fundadora da empresa de gestão de resíduos Casa Causa, falou aos participantes sobre o conceito lixo zero, uma meta segundo ela “ética, econômica, eficiente e visionária” para guiar as pessoas a mudarem seus modos de vida, incentivando os ciclos naturais sustentáveis, “onde todos os materiais são projetados para permitir sua reutilização e uso pós-consumo”.
"Se você faz parte do problema, você também é parte da solução”, ressaltou Flavia Cunha na palestra sobre conceito lixo zero.
A empreendedora se autodenomina uma “lixólatra”, pois entendeu que no lixo há muito valor. Neste sentido, o termo economia linear, com produção, consumo e descarte, não faz mais sentido. “Os recursos naturais são finitos, a população está crescendo, não temos lugar para condicionar os resíduos que geramos, não dá mais para ser assim”, ela argumentou.
O conceito lixo zero, segundo Cunha, abrange todos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). “Se o lixo tem valor, se as pessoas que trabalham com o lixo vivem a partir disso e melhorarmos esse circuito, vamos erradicar a pobreza, melhorar tecnologia, vamos ter uma educação de qualidade, um trabalho de consumo e produção responsável”, defendeu citando as metas globais.
Uma pessoa produz em média 30kg de lixo por mês, segundo estudos apresentados pela palestrante. Sobre a forma de descarte, Cunha lembrou que ainda hoje 64% dos municípios brasileiros utilizam os lixões, método este que deveria ter sido descontinuado em 2015 – segundo a política nacional de resíduos sólidos – e teve prazo estendido para 2021. “Estamos com os dias contados para manter esses aterros”, ela salientou.
Do lixo produzido, 40% provêm de restos de alimentos. “Comida é lixo, gente?” questionou com humor a palestrante. Ela exemplificou como reduzir a produção de lixo por meio da compostagem, técnica de decomposição dos materiais orgânicos que pode ser feita em casa. Além disso, Cunha salientou a importância de separar o que pode ser reciclado, como plásticos e latas de alumínio, do que realmente é lixo, como papel higiênico etc.
A empreendedora ressaltou que, apesar do esforço individual que as pessoas têm o dever de cumprir, ainda há a necessidade de uma indústria que pense no meio ambiente, nas produções circulares e não linear, além de políticas e iniciativas que objetivem uma educação voltada à sustentabilidade.
Cunha destacou ainda duas iniciativas neste sentido, o portal Recicla Sampa, com os pontos de coleta seletiva na cidade, e o aplicativo Cataki, que mostra onde está o catador de reciclagem mais próximo. “Se você faz parte do problema, você também é parte da solução”, desafiou a palestrante.
O EcoSP continua nesta sexta-feira, 22/3. Confira programação e transmissão online clicando aqui.