Jéssica Silva
Comunicação SEESP
Quando o viaduto na Marginal Pinheiros cedeu, em novembro último, e depois, a ponte de acesso à Via Dutra foi interditada, acendeu-se o alerta para a má condição e falta de manutenção em obras. Diante disso, demonstrou-se a necessidade de se debater a conservação das cidades. Em seminário realizado no dia 16 de abril, o SEESP reuniu especialistas e técnicos para discutirem o tema, como Maurício Marcelli, diretor-presidente da empresa de perícia técnica Critério Experts, e Alex Abiko, professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) em Gestão urbana e habitacional.
Marcelli contou que os principais clientes da Critério Experts são companhias de seguro e que a empresa já realizou mais de 6.500 processos de sinistros. Segundo ele, há um costume em trabalhar com a correção de problemas, e não com a prevenção destes. “Mas grandes corporações já estão vendo que sai mais caro consertar do que prevenir”, ressaltou.
O engenheiro é autor do livro “Sinistros na construção civil – Causas e soluções para danos e prejuízos em obras”. A partir de sua experiência, atestou que a manutenção de uma obra está ligada à qualidade do projeto. “Às vezes tem lugares, edificações prediais, industriais que não se consegue acessar em determinadas áreas que, com o tempo, precisariam ser inspecionadas”, ele externou.
Nesse sentido, Marcelli alertou aos vícios ocultos, problemas que podem passar despercebidos pela falta de manutenção, ocasionando acidentes. Ele usou como exemplo a queda de um hangar em que o agente causador foi o vento, mas a causa raiz era corrosão na estrutura metálica. “Eram os pinos de ancoragem que, com o tempo, umidade etc., perderam aderência, mas havia indícios em algumas peças que poderiam levar o engenheiro atento a ver que era preciso uma análise criteriosa”, disse.
“Se a gente não fizer manutenção preventiva adequada e, depois, corretiva, vamos ter perda útil (da obra), comprometimento da segurança, do conforto e até a depreciação do valor”, salientou. Na sua visão, também é importante que se tenha um cadastro das construções da cidade, pois “muda o governo, muda a Secretaria e não continuam, querem inventar a roda de novo”.
Fotos: Beatriz Arruda
Na visão de Marcelli, a manutenção de uma obra está ligada à qualidade do projeto.
Como observou Alex Abiko, toda obra causa impacto na cidade e a conservação destas, ao mesmo tempo em que é importante, é também muito difícil. Ele apresentou números sobre o crescimento da população urbana, uma tendência global. No Brasil, 85% dos 210 milhões de habitantes estão na cidade. “Temos 5.570 municípios no País, nem dez foram projetados (...). As cidades simplesmente acontecem”, enfatizou.
Abiko apontou a zeladoria urbana como um bom começo à conservação das cidades, mas que o trabalho deve ser feito de forma integrada por todos os níveis de governo, não apenas pelo municipal. “Na Região Metropolitana de São Paulo são 38 municípios”, dimensionou o palestrante, exemplificando a complexidade do tema.
Para ele, são duas apostas para as soluções. No campo da engenharia, a importância da educação continuada. Ele argumentou que, durante a graduação o engenheiro muitas vezes não recebe uma ideia de manutenção, apenas da construção do novo. “Diversas outras profissões já perceberam que desenvolver uma atitude de educação continuada ao longo da vida é melhorar sua qualidade técnica, a qualidade do seu trabalho”, afirmou.
Pensando na conservação das cidades, Abiko citou as smart cities, que classificou como sendo “a ideia da digitalização da sociedade, onde se utilizam dispositivos, softwares, equipamentos para melhorar a qualidade”, não exclusivamente digital, mas que “acelera a obtenção de sua sustentabilidade econômica, social e ambiental”. O professor, inclusive, coordena a Comissão Especial da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que está discutindo as normativas e requisitos para implantação de cidades inteligentes.
Alex Abiko aponta educação continuada na engenharia e desenvolvimento de smart cities para conservação das cidades.
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