As práticas de compliance e governança corporativa trazem essa demanda na hora de aprovar um(a) candidato(a).
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
É cada vez mais usual – e é bom que seja assim! – falar sobre compliance (ou conformidade) e governança corporativa em todas as atividades econômicas no País. O primeiro termo origina-se do verbo inglês “to comply”, que significa estar de acordo com regras, condutas e em conformidade com leis e regulamentos externos e internos. Isso abrange atender desde normas específicas do empreendimento, como códigos de ética e de conduta, até órgãos reguladores, normas de mercado e questões legais pertinentes à atividade desenvolvida. Também envolve a definição de parâmetros para relação com terceiros (fornecedores, parceiros comerciais, distribuidores, funcionários públicos etc.), para evitar a exposição e envolvimento da companhia em fraudes e escândalos.
Já a governança corporativa envolve um conjunto de diretrizes e práticas ligadas à boa gestão para evitar o conflito de interesses entre gestores e acionistas, tal harmonização visa aumentar a rentabilidade do negócio a partir do que foi investido.
Fotos: Rosângela Ribeiro Gil | SEESP
Atendimento de apoio à carreira, no sindicato, já traz informações sobre processos
seletivos que destacam competências comportamentais.
A concepção desses programas já está presente, de alguma forma, em processos de recrutamento e seleção das grandes empresas, como observa Marismar Malara, da equipe do Oportunidades na Engenharia, setor do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP) de apoio à carreira de estudantes e profissionais da área. Formada em Administração de Empresas e técnica em Gestão de Recursos Humanos, nesta entrevista Malara aborda como se preparar e se qualificar para concorrer a vagas que exigem competências comportamentais baseadas em valores éticos, além do saber técnico pertinente ao cargo.
Como empregadores e empregados se alinham a esses procedimentos?
Eles precisam ter postura ética em todas as suas ações profissionais, agir em conformidade às regras, praticamente “tatuar” os compromissos éticos da corporação. Tudo isso compõe uma cultura organizacional que firma, para o mercado, a imagem de credibilidade, valor importante para ampliar espaço de atuação, obter novos investimentos, ganhar certificações.
O que é a boa governança corporativa?
É a prestação de contas com todos os dados apontados de forma correta para que os acionistas se sintam confiantes no trabalho desenvolvido. Isso mostra, ou comprova, que o investimento está sendo aplicado em ações que não tenham qualquer tipo de escândalo, desvios etc.. Ou seja, transparência em todo o caminho “percorrido” pelos recursos daquela empresa.
Por que as práticas de compliance estão ligadas às competências comportamentais?
É sempre bom lembrar que as empresas são feitas de pessoas. Isso significa dizer que precisamos ter pessoas com caráter totalmente ético para poder conduzir os negócios.
Essa cultura organizacional já está presente em processos de seleção e recrutamento?
Sim. Muitas empresas já adotam testes de competências éticas. O teste de caráter, por exemplo, é aplicado principalmente por grandes empresas de capital aberto que têm muita visibilidade na sociedade e que precisam prestar contas rigorosas e mostrar, todos os dias, que o negócio não tem falhas na gestão dos recursos.
Como assim, teste de caráter?
Nesses procedimentos, por meio de algumas técnicas, são identificadas competências específicas com perguntas para ver se a pessoa pode ter interesses pessoais que se sobreponham aos da corporação. Como a pessoa reage diante de ofertas de agrados ou presentes de fornecedores ou outros interlocutores – públicos ou privados.
Algumas empresas, inclusive, definem regras para recebimento de presentes, estipulando valores bem baixos ou até compartilhamento do agrado com todos da empresa. Até determinados tipos de conversa ou negociação não são aceitos de acordo com algumas práticas de compliance.
Significa ir além do saber técnico na hora da seleção?
Isso mesmo. Hoje o profissional pode ser muito competente na sua área técnica, mas se ele não passar no teste de competências comportamentais e de caráter, a possibilidade de não ser contratado é muito grande.
O setor Oportunidades na Engenharia trabalha técnicas e faz análises para preparar o estudante e o profissional de Engenharia à realidade atual do mercado de trabalho?
Nos nossos testes de coaching já conseguimos mapear alguns determinados perfis e trabalhar em cima disso para dizer o que pode e o que não pode, até dar um caminho para melhor se qualificar ou mesmo repensar algumas questões. No processo de simulação de entrevista, também temos alguns questionamentos que abordam valores éticos.
Outra realidade que abordamos nos nossos atendimentos é o teste de gamificação cada vez mais usado nos recrutamentos. Explicamos que, nele, os candidatos se sentem mais a vontade porque é um jogo e acabam se sentindo em casa jogando. E aí não tem como burlar, ou se é ético ou não.
Essa preocupação das empresas já está esboçada também para estágios e trainee?
Com certeza. A empresa quando busca um estagiário ou treineiro está investindo alto num profissional para conseguir resultado para ela própria.
Como essas políticas de governança corporativa e complaince são definidas?
Normalmente é pela alta gestão. São criados diversos comitês, tem o de ética, de administração etc. É a partir daí que se estrutura o programa.
Pode ter revisão dessas políticas?
Sim, até porque as empresas mudam o tempo todo. O mundo dos negócios é mutável.
Você poderia dar algumas dicas para estudantes e profissionais se adequarem a essas práticas?
Primeiro de tudo é saber se conhecer e entender aonde você quer chegar, quais são seus objetivos e buscar empresas que tenham relação com o que você deseja. A partir disso, estudar o que realmente tem a ver com você, buscar novos conhecimentos e desafios, programas de voluntariado. Buscar entender como os processos seletivos acontecem hoje, porque existem muitos modelos. Se atentar a detalhes, como vou me comunicar, minha postura, a expressão do corpo precisa estar adequada ao que se fala. Informação e qualificação fazem toda a diferença.
E como tudo isso se relaciona com os processos seletivos que já utilizam ferramentas da inteligência artificial (IA) para fazer uma busca por meio das palavras-chave?
Os sistemas vão buscar as palavras-chave de fato para ver se aquele currículo ou candidato está de acordo com a vaga tecnicamente, vamos dizer assim. Mas nos processos seletivos presenciais é que entra a questão da avaliação das competências comportamentais e de caráter. A palavra-chave não substitui a questão comportamental. Sempre vai ter o contato presencial antes de qualquer decisão por parte do contratante.
Visão holística de complaince. Fonte: Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
<< Outras informações >>
Algumas leis e normas ligadas à prática de compliance
* Lei nº 12.529/2011 (Lei de Defesa da Concorrência)
* Lei nº 12.846/2013 (“Lei Anticorrupção”)
* Decreto nº 8.420/2015 (regulamenta a Lei 12.846)
* Lei nº 13.303/2016 (“Lei das Estatais”)
* ISO 19600:2014 (Sistema de Gestão de Compliance)
* ISO 37001:2016 (Sistema de Gestão Antissuborno)
Pesquisa da Maturidade do Complaince no Brasil – 2017/2018 – da KPMG Consultoria
Em sua primeira edição, em 2015, 19% das empresas pesquisadas disseram não ter a função de compliance em sua estrutura, contra 9% em 2017. Atualmente, 71% dos entrevistados reconhecem que a política e o programa de ética e compliance de suas companhias estão implementados de forma eficiente. Em 2015, essa porcentagem era de 57%.
Para mais informação sobre o tema, indicamos o Guia Compliance, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)