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20/02/2020

Competência e profissionalismo não têm gênero

 

Em comemoração ao 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, trazemos a trajetória profissional da engenheira Luciana Mascarenhas da Costa Marroni na Marinha do Brasil.

 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

Ela é a primeira engenheira e a segunda mulher a ser promovida ao Generalato em toda a história das Forças Armadas do País, que remonta a 1824 quando decreto do imperador Dom Pedro I criou a Marinha e o Exército. Após 194 anos, precisamente em 25 de novembro de 2018, Luciana Mascarenhas da Costa Marroni se tornava, aos 52 anos, Contra-Almirante da Marinha. Formada engenheira eletricista com ênfase em eletrônica, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), iniciou carreira militar ao ser aprovada no concurso para o Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha, em 1989. Hoje, como destaca, são 122 mulheres no Corpo de Engenheiros da instituição.

600 Almirante Luciana Mascarenhas 1Almirante Luciana Mascarenhas da Costa Marroni iniciou carreira na Engenharia da Marinha, aos 23 anos de idade. Crédito: Divulgação | Marinha.

 

A almirante lembra o início da carreira, aos 23 anos, como um período de adaptação ao ambiente a bordo de navios e estaleiros. “Subi em mastros para alcançar antenas. Desci ao fundo do dique para acompanhar reparo de domos [equipamentos grandes que vão no casco do navio para proteger o sonar e a navegabilidade da embarcação]. Entrei em domos para trocar transdutores e em tanques de água e óleo (vazios!) de submarinos para medir isolamento ou trocar hidrofones.” 

A vida familiar, salienta, conseguiu ser conciliada com a profissional. “Conheci meu marido na Marinha, ele é engenheiro, temos dois filhos. Uma família que muito me orgulha.” Conheça mais a trajetória da engenheira, a seguir.

Como se sentiu ao ser promovida a Oficial General?
O sentimento é de reconhecimento pela dedicação ao trabalho desenvolvido ao longo desses quase 31 anos. Felizmente, a Marinha, sempre no intuito de se adaptar às mudanças da sociedade, reestruturou os Corpos e Quadros de oficiais, tornando possível o acesso de militares do gênero feminino ao Generalato. Tendo cumprindo os requisitos necessários, eu tive a felicidade de ter sido escolhida para a promoção ao posto de Contra-Almirante. Anteriormente, no ano de 2012, a Contra-Almirante Médica Dalva foi a primeira mulher a conquistar o posto, e em 2018 ocorreu a minha promoção.

Como percebe a participação da mulher na sociedade?
É nítida a crescente participação das mulheres no mercado de trabalho como um todo. Ainda temos predominância masculina ou feminina em certas carreiras, como no caso do Corpo de Saúde da Marinha, que tem o total de 62% de mulheres, enquanto no Corpo de Engenheiros a predominância é masculina, fenômeno que pode ser observado desde o ingresso na universidade. Para mim, as mulheres podem ser competentes e eficientes em qualquer lugar. Seja qual for a atividade ou carreira que elas quiserem abraçar, com foco e dedicação poderão alcançar o sucesso.

A engenharia e a carreira militar vieram juntas?
A engenharia veio primeiro, quando em 1983 decidi prestar vestibular para engenharia eletrônica. Tomei conhecimento da oportunidade de ingresso na Marinha ainda na universidade, pois meu irmão, que é médico, havia entrado recentemente para o Corpo da Saúde da MB. Por isso me inscrevi no concurso para o então Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha logo assim que concluí a graduação, tendo a felicidade de ser aprovada logo na primeira tentativa.

O que faz a engenharia na Marinha?
O Corpo de Engenheiros da Marinha admite muitas áreas, tais como Arquitetura e Urbanismo, Engenharia de Materiais, Mecatrônica, Engenharia de Produção, Engenharia de Sistemas de Computação, Engenharia de Telecomunicações, Engenharia Elétrica, Engenharia Eletrônica, Engenharia Mecânica, Engenharia Naval, Engenharia Química e Engenharia Civil. As atividades desenvolvidas pelos engenheiros são bastante diversas, tais como: manutenção, pesquisa, desenvolvimento e gerência de projetos, elaboração de especificações técnicas, avaliação operacional, desenvolvimento e suporte de sistemas, entre outras.

No início da carreira, até o posto de Capitão de Corveta, geralmente o Oficial Engenheiro Naval desempenha funções mais técnicas. Após atingir certa antiguidade, as funções se tornam mais gerenciais, mas isso não é uma regra.

Como foi o início do serviço na Marinha?
Inicialmente não havia ingresso de mulheres diretamente no Corpo/Quadro específico, existia o Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha. Em 1989, quando ingressei na MB, todas nós, independente de nossas formações acadêmicas, iniciamos no Curso de Formação de Oficiais (CFO) e formávamos uma única turma de 41 Guarda-Marinhas. A primeira Organização Militar (OM) na qual servi foi um Centro de manutenção, onde trabalhei inicialmente com equipamentos radar e, por um longo período, com equipamentos sonar.

Foram muitos os desafios?
O desafio foi me adaptar ao ambiente a bordo de navios e de estaleiro, onde por diversas vezes as atividades se desenrolavam. Subi em mastros para alcançar antenas, desci ao fundo do dique para acompanhar reparo de domos, entrei em domos para trocar transdutores e em tanques de água e óleo (vazios!) de submarinos para medir isolamento ou trocar hidrofones, embarquei em navios para testar equipamentos. Adaptei-me bem e gostei demais destas atividades. Quando era Capitão-Tenente fui selecionada para cursar o mestrado em telecomunicações na Naval Postgraduate School, em Monterey, Califórnia (EUA), o que considero uma das maiores oportunidades que a Marinha me proporcionou.

Em algum momento pensou em desistir?
Jamais pensei em desistir. Pelo contrário, a cada novo desafio me sentia mais motivada.

Quais as funções atinentes ao Generalato?
O Oficial General presta assessoria em nível estratégico à alta Administração Naval, podendo desempenhar sua função em diversas posições dentro da Instituição. Quando titular de Organização Militar, atua ainda como um CEO, sendo o responsável pelas estratégias e pela visão da OM, alinhando-as às diretrizes da Força.

Como tem sido o seu aperfeiçoamento profissional ao longo da carreira?
A Marinha oferece diversas oportunidades para que seus militares, Oficiais ou Praças e servidores civis, estejam em constante atualização profissional. Além do mestrado, realizei cursos relacionados a equipamentos, curso de inteligência, curso de Estudos Navais e o Curso de Altos Estudos e Política Estratégica.

Como faz o balanço da sua trajetória profissional até os dias?
Sou muito realizada com a carreira que trilhei até aqui. Sempre dedicada a realizar meu trabalho da melhor forma, estive sempre pronta quando as oportunidades apareceram, isso é importante. Consegui conciliar a vida profissional com a vida pessoal sem dificuldades, tenho dois filhos e uma família que muito me orgulha.

E o futuro?
O projeto de futuro próximo é a Marinha, onde ficarei enquanto a Instituição julgar adequado. Após a passagem para a reserva talvez ainda trabalhe, caso surja uma atividade que me atraia. Se não surgir, vou descansar, praticar mais atividades físicas – hoje pratico apenas corrida –, viajar e cuidar de netos que meus filhos venham a me dar.

Como conciliou vida profissional e familiar?
Sempre tive uma boa base familiar, a começar pelos meus pais, que eram médicos, e sempre foram minhas melhores referências, tanto no campo pessoal como no campo profissional. Conheci meu marido no CFO, ele também é engenheiro, éramos da mesma turma e ali começou nosso relacionamento, que se solidificou e nos trouxe dois filhos. Sempre contei com o apoio e incentivo do meu marido e em todos os desafios que enfrentei até aqui, como me mudar para outro país com duas crianças pequenas por dois anos para realizar meu Mestrado, isso foi essencial.

Por fim, qual o recado que a senhora daria às mulheres brasileiras engenheiras?
Eu diria a elas que abracem a carreira e trabalhem focadas, sempre produzindo o melhor trabalho que puderem. A carreira é árdua e o caminho é longo, mas é repleta de oportunidades e desafios. Estejam prontas para quando as portas se abrirem. Vão em busca de seus objetivos e jamais deixem de acreditar em vocês mesmas. Nas carreiras dessa área há uma predominância masculina, mas competência, profissionalismo e dedicação não possuem gênero.

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