Em comemoração ao Dia da Mulher, 8 de março, trazemos a trajetória profissional da engenheira Dirlane Maria Albino, gerente da Votorantim Cimentos.
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
Texto atualizado no dia 06/03/2020 - às 14h22
Antes de se formar engenheira, em 2001, aos 28 anos de idade, Maria Albino trabalhou na área hospitalar. Foi nessa época que teve o primeiro contato com a profissão, fazendo-a decidir por essa graduação na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Finalizada a faculdade, prosseguiu com os estudos: em 2010, fez pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho. Em 2012, participou de um projeto de gestão ambiental, por seis meses, na Austrália, Filipinas e Indonésia. Na Votorantim, iniciou carreira em 2014, como coordenadora de Meio Ambiente da Regional Sudeste, em Sorocaba, no interior de São Paulo, onde conheceu o esposo, que também fazia parte do time da companhia.
Ter optado pela engenharia foi uma das melhores escolhas que fez em sua vida, enfatiza. Para ela, mais do que uma carreira, “é um modo de pensar, raciocinar e de ser”. Todavia, recorda, nada veio de “mão beijada” na profissão. “Foram anos intensos, de muita entrega, dificuldades e angústias. Mas que embasaram toda a minha carreira profissional, desde o meu primeiro emprego até hoje.”
Numa profissão onde a presença masculina é predominante, Maria Albino defende a diversidade. “Ela contribui para uma sociedade mais completa, bonita e feliz”. Por isso, não tem dúvida de que é um curso para mulheres. “Temos engenheiras que estão fazendo a diferença em empresas no Brasil e no mundo. Ainda somos poucas na posição de liderança, mas, certamente, vamos abrir caminho para muitas que virão.”
Fazer engenharia foi sua primeira opção?
Sou natural de Sabará, município na região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais. À época, as alternativas de cursos profissionalizantes, na cidade, eram magistério, científico e patologia clínica. Optei, então, pela área de saúde e passei a trabalhar em um hospital.
Com curso técnico na área de saúde e sem interesse pelo magistério, entrei para o cursinho pré-vestibular já focada na área de Exatas. Foi quando tive o primeiro contato com Engenharia Química, área com que me identifiquei e decidi fazer minha graduação, e fiz na Universidade Federal de Minas Gerais.
Como iniciou carreira da profissão?
Comecei em meu primeiro emprego como estagiária, em uma cervejaria. Em três anos fui efetivada, assumindo os cargos de staff de gerente, supervisora da Estação de Tratamento de Água e Efluentes e, por fim, coordenadora de Meio Ambiente. Após um período em João Pessoa (PB), voltei para Divinópolis, em Minas Gerais, em 2004, para trabalhar na área ambiental de uma companhia de mineração. Três anos depois, fui para o departamento de Diretoria de Pesquisa e Exploração Mineral dessa mesma empresa, em Belo Horizonte, uma área global, quando tive o primeiro contato com a área de Saúde e Segurança.
Em 2010, já motivada pelo assunto, fiz pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho. Um convite para participar de um projeto de gestão ambiental me levou, em 2012, por seis meses, para Austrália, Filipinas e Indonésia. Em 2014, recebi o convite para trabalhar na Votorantim Cimentos, quando me instalei em Sorocaba, no interior de São Paulo.
E desafios?
Um dos grandes desafios foi assumir um cargo bastante técnico, estratégico para a empresa e com perfil de gestão. Com apenas dois anos de casa, tive a segunda ascensão na carreira: fui convidada para ser coordenadora de Saúde, Segurança e Meio Ambiente na primeira regional da Votorantim Cimentos que unificaria as três áreas. A terceira alavancagem veio dois anos depois, com a promoção para me tornar gestora em nível nacional.
Como é trabalhar numa profissão com predominância masculina num local também com a mesma característica?
Apesar de atuar em uma indústria tradicionalmente masculina, temos muitas mulheres técnicas que trabalham na operação da Votorantim Cimentos e procuro tratar todos de igual para igual. Minha receita para superar as discriminações é ter jogo de cintura, bom humor e alto astral sempre. É necessário driblar as brincadeiras inapropriadas com seriedade, leveza e bom humor. Tudo depende da maneira como se reage às provocações. Nós escolhemos onde queremos estar. Logo no início da minha vida profissional, decidi seguir três principais premissas: ser honesta, não levantar bandeiras e não me vitimizar.
Como tem sido o seu aperfeiçoamento profissional?
Depois de ter feito a primeira pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho, segui o conselho do meu antecessor no cargo e me dediquei a uma segunda pós-graduação específica em Segurança, pois já possuía outras duas especializações focadas em Meio Ambiente. Dessa vez, fiz o curso em Higiene Ocupacional. Ele dizia que todo profissional da segurança tem que ser também um higienista.
Poderia nos contar sobre as suas atividades à frente desse cargo?
Sou responsável pela segurança de todos os funcionários de mais de 30 fábricas da companhia em território nacional. São cerca de sete mil colaboradores. Entre 2017 e 2021, a empresa investirá cerca de R$ 200 milhões, em seis Normas Regulamentadoras todas focadas nas melhorias estruturais do ambiente de trabalho. As seis normas são relacionadas à proteção contra incêndio, espaço confinado, trabalho em altura, atividades elétricas, proteção de máquinas e vasos de pressão. Ainda sob minha responsabilidade está a condução do SafeStart, um programa internacional presente em mais de 30 países que apresenta resultados tangíveis na área de segurança. Na Votorantim Cimentos, o foco está em oito unidades de cimento, quatro de concreto e quatro centros de distribuição.
Também sou Guardiã de um dos protocolos críticos da Votorantim Cimentos no Brasil: o de espaço confinado. Isso significa que eu tenho que ser especialista no assunto para entender as leis relacionadas ao tema e buscar e sugerir práticas mais restritivas que garantam mais segurança ao funcionário. A Guardiã também é responsável pela diretriz do documento e pelo treinamento de auditores e profissionais de segurança sobre este determinado protocolo.
Como faz o balanço da sua trajetória profissional até os dias atuais?
Olhando para toda a minha carreira profissional, desde a minha escolha técnica, universitária, estágios, empregos, desenvolvimento e crescimento, me sinto muito feliz! Construí a minha carreira consciente de cada etapa, cada degrau.
Acho importante você tomar conta da sua carreira e manter os valores que escolheu desde o início dela, como respeito e honestidade!
Planos para o futuro?
Se quero crescer ainda mais? Com certeza! Costumo dizer que o céu tem espaço para todos e que estamos neste mundo para brilhar, cada um do seu jeito e na sua área de atuação. Assim, trabalhar de forma colaborativa é o segredo para sermos mais efetivos, melhores profissionalmente e mais felizes enquanto seres humanos. E quem não quer se sentir mais completo e feliz?
A relação entre vida pessoal e familiar e profissional é tranquila?
É preciso ter foco e disciplina e tirar o máximo proveito do que está fazendo. Se estou no trabalho, estou 100% nele. Se estou com minha família, aproveito cada minuto. Vejo as pessoas trocando o dia pela noite, em reuniões sem sentido, postergando decisões e, com isso, trabalhando 24 horas todos os dias.
Evito ir a reuniões que, de fato, não me dizem respeito e dou autonomia para meu time resolver as questões do dia a dia. Não temos que fazer tudo, temos que fazer o que faz a diferença no resultado que buscamos.
É claro que, às vezes, você precisa entregar algo importante e vai trabalhar até mais tarde. Mas tem que ser uma exceção e não a regra geral.
Pessoalmente, estar casada com alguém que conhece e respeita o seu trabalho e a sua rotina, ajuda em muito. Em dias mais estressantes, você precisa ter o apoio da família, às vezes precisa de um tempo extra para terminar aquele material importante ou alguém que te leve para fazer algo diferente, uma pausa para relaxar e se distrair um pouco.
Como falaria da engenharia para as mulheres?
Acredito que cada um precisa fazer suas escolhas, profissionais e pessoais. Acredito que a diversidade contribui para uma sociedade mais completa, mais bonita e mais feliz.
Todas as profissões são importantes e cada um deve se sentir completo com o que faz, só assim fará sentido.
Ter optado pela engenharia foi uma das melhores escolhas que fiz na minha vida e, se fosse possível voltar atrás, teria feito exatamente o mesmo curso, na mesma universidade. Mais do que uma carreira, é um modo de pensar, de raciocinar, de ser.
Foram anos intensos, de muita entrega, dificuldades e angústias. Mas que embasaram toda a minha carreira profissional, desde o meu primeiro emprego até hoje.
É um curso para mulheres?
Com certeza! Temos várias mulheres engenheiras que estão fazendo a diferença em várias empresas no Brasil e no mundo. Ainda somos poucas na posição de liderança, mas, certamente, vamos abrir caminho para muitas que virão.