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14/04/2020

Estudantes e engenharia da Mercedes-Benz se unem na fabricação de respiradores mecânicos

A iniciativa envolve o Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) e a Mercedes-Benz da região do ABC Paulista


Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

 

190 José Roberto MauáProfessor José Roberto Augusto, do IMT. Crédito: Divulgação | IMT.Em apenas uma semana, o Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), por causa da pandemia do novo coronavírus, teve de mudar toda a sua rotina presencial e colocar todos os seus conteúdos em formato digital e a aula em distância, online. Mas não só isso, como explica o professor José Roberto Augusto, também diretor do Centro de Pesquisas da instituição: “A partir do momento em que tudo aconteceu, onde o nosso mundo mudou de uma hora para a outra, nos vimos, inicialmente, preocupados em nos proteger. Mas, ao mesmo tempo, os nossos parceiros [empresas] começaram a nos pedir ajuda.”

 

Esse foi o start para que o laboratório do IMT, o FabLab, com os alunos de engenharia à frente, começasse a construir escudos faciais para os hospitais da região do ABC Paulista, onde está localizada a instituição de ensino. “O nosso FabLab não é uma fábrica, mas um laboratório, por isso começou construindo 50 por dia e hoje está em 250 máscaras diárias.” A ação solidária não parou por aí, como destaca o professor, e novas parcerias e ações foram sendo efetivadas, como a da Mercedes-Benz para a construção de respiradores mecânicos não invasivos e a criação de uma plataforma digital, a Desafio acadêmico – Mauá contra o coronavírus, para reunir demandas, sugestões e parceiros.

 

A ação específica dos respiradores está sendo possível graças à construção de um protótipo do equipamento pelos alunos de engenharia da Mauá, cujo objetivo é o uso provisório e emergencial quando um respirador profissional não estiver disponível. “A ideia é que salve vidas”, destaca o professor. Ele acrescenta: “Fizemos o modelo e apresentamos para a Mercedes-Benz que se interessou de imediato. Hoje, a montadora, que fabrica ônibus e caminhões, está se preparando dentro da sua linha de montagem para isso.”

 

O diretor de Planejamento e Engenharia de Manufatura da Mercedes-Benz do Brasil, o engenheiro industrial mecânico Ricardo Bocciardi, formado pela Universidade Santa Cecília (Unisanta), confirma e informa que a equipe de engenharia e de técnicos da montadora está trabalhando, mesmo em home office, até quase 10 horas por dia para acertar processos para adaptar a linha de produção da empresa, incialmente na planta industrial de São Bernardo do Campo. “Temos diversos equipamentos e maquinários que podem ajudar. Estamos adaptando o modelo criado pelos estudantes da Mauá ao ambiente fabril, ou seja, utilizando nossos recursos e até peças que já fabricamos, porque algumas temos em estoque.”

 

600 Respirador MauáProtótipo do respirador mecânico construído no laboratório do IMT. Crédito: Divulgação | IMT.  


Capacidade de transformação
O professor da Mauá realça que a engenharia tem a capacidade de transformar questões e situações complexas e emergenciais em várias partes mais simples para resolver o problema, “e isso os nossos estudantes estão vivenciando na prática”. Foi com esse espírito, gosta de salientar, que os alunos se debruçaram, com a orientação dos docentes, na construção do protótipo que “envolve muito a engenharia mecânica, a elétrica e até os alunos de design. O protótipo é um ventilador mecânico, um acionador de sistema de ventilação. O bonito é que ele é simples”.

 

190 Ricardo Mercedes BenzEngenheiro e executivo Ricardo Bocciardi, da Mercedes-Benz. Crédito: Divulgação.O executivo da montadora ressalta que os estudantes já trabalharam com o conceito de um produto de baixo custo e “a nossa engenharia está adaptando o modelo para fabricação em série com esse propósito”. Por isso, algumas adaptações necessárias foram feitas pela engenharia mecânica e mecatrônica, principalmente, da Mercedes: “A nossa ideia é substituir o acrílico de policarbonato pelo alumínio, cujo corte é a laser dando maior precisão. Ao longo dos testes que estamos fazendo junto à área médica, como o Hospital das Clínicas, a parte eletrônica está sendo redesenhada.”

 

O engenheiro da montadora faz questão de reforçar que tudo está sendo feito com bastante cuidado porque se trata de um atendimento para a área da saúde. “Nossos engenheiros estão conversando e aprendendo a “reengenheirar” com outro foco, saindo totalmente da indústria automotiva, mas tendo que utilizar algumas das nossas peças originais”, diz Bocciardi. Ele exemplifica: “Vamos tentar usar os nossos motores elétricos de cabine de caminhões, de limpador de para-brisa ou de levantamento do vidro da porta. Estamos testando para ver qual deles têm maior longevidade e confiabilidade.”

 

O modelo criado pelos estudantes da Mauá, salienta, é o respirador intermediário, ou seja, não é invasivo. “Existe um equipamento chamado ambu, que se parece com uma bexiga, que é pressionado manualmente para fazer a respiração da pessoa ou até para ressuscitá-la. Ele é a base do nosso equipamento, estamos mecanizando o acionamento desse equipamento médico, com controle de frequência e pressão da vazão de ar que vai entrar no pulmão do paciente. É uma mecanização que poderá ser usada durante o transporte do paciente, ou para um caso de emergência caso não tenha o respirador principal no momento, no hospital.”

 

O material que será produzido pela Mercedes-Benz, assegura o diretor de planejamento, será doado para as secretarias de saúde da região do ABC Paulista e também do Estado de São Paulo. “Uma contribuição para a sociedade, porque afinal de contas é um momento grave para todos.”

 

Ciência aplicada
A engenharia é a ciência aplicada ao dia a dia para facilitar o trabalho e a vida do homem, faz questão de ressaltar Bocciardi, por isso, avalia que o momento exige que a área aplique todo o seu saber para atender uma demanda primordial e urgente da sociedade, como essa da pandemia. “Não só a Mercedes como outras empresas vão se reinventar para se adequar à necessidade do momento. Esse é o papel do profissional de engenharia, transformar os elementos da natureza em ação em prol do ser humano.”

 

Vídeo institucional do IMT sobre o protótipo do respirador mecânico.

 

O professor e engenheiro mecânico José Roberto Augusto, do IMT, destaca que um problema mundial como esse, que afeta diretamente as pessoas e as famílias, obriga esse olhar da engenharia tão rápido, referindo-se aos estudantes e profissionais já formados. “Sabemos que essa pandemia vai impactar a economia, o estilo de vida não será mais o mesmo por muito tempo ou para sempre. Essa situação vai mudar o jeito que fazemos tudo, inclusive o de ensinar, com certeza. O futuro, percebemos, depende de todos.”

Autorizações necessárias
Segundo Bocciardi, a empresa já está preparada para iniciar a fabricação do equipamento, dependendo apenas de autorizações legais, como a da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Estamos sabendo que a própria ABNT [Associação Brasileira de Normas Técnicas] poderá baixar uma resolução para facilitar e flexibilizar algumas autorizações.”

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Comentários  
# Engenharia do bemCarmen 14-04-2020 13:29
Parabéns pela iniciativa da empresa e do curso de engenharia. Cidadania e solidariedade.
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