Alex Oliveira é engenheiro eletricista e há um ano desenvolve a nova função em empresa farmacêutica, na cidade de Cork.
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
A atividade é diferente, com certeza. E quem vai falar sobre ela é o engenheiro eletricista Alex Oliveira, de 45 anos de idade. Depois de trabalhar no Brasil, após se graduar na área, em 1999, na Universidade Federal de Itajubá (Unifei), em Minas Gerais, conseguiu ser “encontrado”, como gosta de dizer, pela atual empregadora da Irlanda, uma fabricante farmacêutica.
Ele vem seguindo o perfil do SEESP no LinkedIn e parabeniza as atividades da entidade, assim como os serviços oferecidos pela área Oportunidades na Engenharia. Foi nessa rede social que também “nos encontramos” para essa entrevista, via e-mail; ele, na Irlanda, país que está quatro horas à frente do horário oficial de Brasília.
O caso de sucesso do engenheiro, que conseguiu uma boa colocação por meio do LinkedIn, é visto por Marismar Malara, da equipe Oportunidades na Engenharia e conteudista do curso “LinkedIn para Engenheiros”, como um reforço para que os profissionais mantenham seus perfis atualizados naquela que é considerada uma importante rede profissional. O curso, inclusive, está em sua segunda edição pela Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), com inscrições abertas até 15 de julho próximo para estudantes e profissionais de engenharia. Para se inscrever clique aqui.
Oliveira, ainda no Brasil, atuou em empresas como Eli Lilly, Dow Chemical, Baxter, Alcatel, entre outras, e fez mestrado em Engenharia Eletrônica, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2006; e MBA em Gestão, na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2017.
Olá, engenheiro Alex Oliveira, nos encontramos por meio do LinkedIn. Você na Irlanda; eu, no Brasil. Como você vê o LinkedIn na vida de um(a) profissional?
Acredito que o LinkedIn, como rede profissional, é fundamental nos dias de hoje. Assim como nos encontramos por meio desse veículo via internet, também fui encontrado pelo meu atual empregador aqui na Irlanda por meio dele. Da mesma forma que redes sociais fazem parte de nossa vida atualmente para fins de entretenimento, uma tendência é que para fins profissionais redes como o LinkedIn se consolidem como parte da rotina profissional. Entendo extremamente valioso o uso de redes como essa tanto para empresas, como para entidades de categoria, sindicatos e conselhos de classe, no sentido de melhor comunicar e para desenvolver seus profissionais, contribuindo também com o desenvolvimento do País, trabalho que o SEESP oportunamente desenvolve.
Você pode nos falar um pouco da sua vida aqui no Brasil, da sua graduação e especialização, por exemplo?
Venho de família humilde. Com dedicação e boas notas, consegui bolsas de estudo no ensino médio, além de bolsas de pesquisa durante o ensino superior que me ajudaram a viver fora de casa, estudando em uma universidade federal. Sempre busquei investir em minha carreira, não me limitando a minha formação inicial em engenharia, mas fazendo um mestrado e um MBA para ampliar e diversificar meus conhecimentos.
Acredito que os profissionais precisam conciliar sua experiência prática no trabalho com conhecimento conceitual adquirido em treinamentos e especializações. Trabalhando duas décadas na competitiva indústria da grande São Paulo, busquei capacitação em formações que pudessem ser uteis no dia a dia, mas que também proporcionassem uma projeção maior caso partisse para uma carreira internacional.
Como recebeu o convite para trabalhar na Irlanda?
Sempre busquei manter meu perfil atualizado no LinkedIn, incluindo informações sobre palestras técnicas como as que fiz na Alemanha e Estados Unidos, além de artigos como um que recentemente publiquei em uma revista americana (Uptime Magazine), disponibilizando informações relevantes a minha carreira profissional por meio de posts nessa ferramenta.
Essa prática atraía a atenção de profissionais que me contatavam para trocar experiências, bem como de recrutadores, inclusive internacionais, sendo um deles meu atual empregador – empresa de engenharia, especializada em mão de obra para setores críticos, desde a indústria farmacêutica até fabricantes de semicondutores. Eles buscavam captar profissionais para atender uma indústria farmacêutica aqui na Irlanda, e acabaram me encontrando no Brasil. Assim, fizeram todo o processo para viabilizar meu visto de trabalho que me trouxe para cá em meados do ano passado.
Você disse que exerce a função de engenheiro de confiabilidade na fábrica de vacinas em Cork. Pode nos falar a respeito?
A engenharia de confiabilidade – reliability engineer – ainda não é muito conhecida ou compreendida em geral no Brasil, embora segmentos industriais com alta criticidade e complexidade (como químico e farmacêutico) já estejam investido nesses profissionais. O foco da atividade está na redução dos potenciais riscos e falhas associadas a equipamentos e processos industriais. Sendo uma mistura de atividades de projetos e manutenção, a engenharia de confiabilidade atua desde o design até a otimização de práticas de manutenção, buscando a excelência nos processos de fabricação.
Meu trabalho é aumentar a confiabilidade de nossos equipamentos e processos, liderando desde investigações de falhas e criando planos de manutenção, até atuando em projetos tanto no aspecto técnico como estratégico, garantindo o sucesso destes projetos de alto investimento e complexidade. Em uma fábrica de vacinas como a que trabalho, sinto-me gratificado com o meu papel de contribuir não apenas com a eficiência e produtividade, mas principalmente por eliminar riscos aos processos de fabricação e também às pessoas, sobretudo manufaturando produtos de tamanha importância como as vacinas aqui produzidas.
Como foi a sua adaptação à cultura do país europeu?
Embora fazendo várias viagens internacionais, sobretudo a trabalho em minha carreira, mas sempre tendo vivido no Brasil, a adaptação à cultura foi tranquila, mas também desafiadora. Viajar e viver na Europa são coisas bem diferentes. O inglês aqui na Irlanda é britânico, com particularidades do sotaque irlandês, mas com o tempo se acostuma. O clima foi um pouco desafiador no inverno e parte do outono (com períodos alternados e até às vezes concomitantes de chuva, vento e neve), mas a primavera e verão têm temperaturas agradáveis que convidam explorar passeios ou atividade ao ar livre.
A cultura local é de vida simples e tranquila, fazendo uma cidade, apesar de bastante industrializada e com 200 mil habitantes como é Cork, lembrar o estilo tranquilo e turístico de Gramado no sul do Brasil. Profissionalmente a adaptação foi mais rápida e natural, desde os aspectos técnicos até à língua inglesa no exercício da profissão, pois atuei mais de 90% de minha carreira em empresas globais, onde a cultura corporativa e rotina de trabalho são bem semelhantes.
Como tem sido a rotina na Irlanda nesses tempos de pandemia de Covid-19?
Como uma pandemia global, o impacto aqui na Irlanda não foi diferente. Em meados de abril último, tivemos um pico bem alto proporcionalmente à população daqui. Todavia, as ações coordenadas do governo local – como o rastreamento dos casos e testes realizados em grande escala – e a valiosa colaboração da população ajudaram a reverter a curva, minimizando as fatalidades e contento o avanço descontrolado da epidemia.
A preocupação atual é de uma possível segunda onda aqui na Europa com a redução das medidas de contenção, naturalmente aliviadas agora quando os números são favoráveis. Nossa rotina mudou completamente, fazendo uso de home office sempre que possível, distanciamento social e diversas práticas adicionais – desde higienização intensiva até compras pela internet –, para nos manter seguros e contribuir para a segurança de todos, algo que a população local tem feito bem por aqui, sobretudo nos últimos meses.
Vocês também estão pesquisando vacina para combater o novo coronavírus?
Posso responder como pessoa física que, assim como de conhecimento comum na mídia, o fabricante farmacêutico em que atuo, da mesma forma que outras empresas globais, está trabalhando em projetos para uma vacina também contra o coronavirus, dando sua contribuição para ajudar no combate a essa crise global da Covid-19 – de forma semelhante ao realizado para um vírus muito perigoso, porém também contido por uma vacina, que foi o Ebola.
O desafio de todos os fabricantes é desenvolver e aprovar com milhares de testes uma vacina segura, para depois enfrentar o próximo desafio de manufaturar os milhões, ou bilhões, de doses necessárias. Considero-me uma pessoa que acredita na ciência, mas também tenho fé em Deus que a humanidade vai conseguir superar esse desafio do coronavirus e tentar tirar lições desse aprendizado para o futuro.
Quais são seus planos para o futuro em termos profissionais?
Planejar o futuro é algo sempre difícil, sobretudo nos dias desafiadores que vivemos atualmente. Iniciei minha carreira de engenharia no Brasil em 1999, aos 24 anos, tendo consciência de que contribui bastante para o desenvolvimento do meu país. Estamos felizes vivendo aqui e me sinto realizado com essa experiência profissional também. O retorno não apenas financeiro, mas o reconhecimento profissional para a área de engenharia, bem como a qualidade de vida, são fatores que motivam viver em países de primeiro mundo como a Irlanda. Desta forma, isso me faz pensar que no momento não tenho planos de retornar em médio prazo ao Brasil, porém gosto de uma frase que diz: “O futuro a Deus pertence”. Portanto, sigo trabalhando e vivendo com minha esposa e meu filho aqui, assim como fiz no Brasil, sempre fazendo minhas atividades com seriedade e comprometimento, e esperando o melhor para o futuro, onde quer que possa estar.
Quais conselhos você daria para jovens profissionais e estudantes de engenharia?
Reconheço o desafio dos jovens estudando engenharia, e também dos recém-formados nessa profissão. Passei por isso e entendo as dificuldades. Grande parte do exercício da engenharia é associada ao desenvolvimento tecnológico, projetos de infraestrutura e atividades na área industrial, o que aumenta sobremaneira o desafio dos que iniciam essa carreira e que pretendem exercer essa profissão no Brasil, como eu fiz por 20 anos. Entretanto, por mais que possa parecer uma frase comum, acredito que devemos fazer o que realmente gostamos. Toda atividade profissional tem seus percalços do dia a dia, com fases de bonança, mas também períodos de dificuldades, principalmente latentes aos profissionais que iniciam essa jornada.
Não digo conselho, mas uma dica que passo é que o jovem não troque seus sonhos de exercer a engenharia pelo apelo financeiro de outras oportunidades, mas busque sua realização com um projeto de investir em sua capacitação e com determinação buscar seus objetivos. Também, dentro do possível, tentar focar em alguns segmentos que podem ser estratégicos para sua carreira, customizando seus treinamentos e experiência para tornar-se mais atrativo ao mercado, seja local ou internacional. É algo que em médio prazo pode trazer um retorno gratificante e fazer valer suas horas e horas de dedicação com estudos, que não terminaram na sua graduação em uma carreira na área de engenharia, mas assim como em outras áreas.
E o futuro da engenharia no Brasil e no mundo?
A engenharia mudou muito no Brasil, assim como no mundo, nas últimas décadas. Neste contexto, os desafios ao exercício desta profissão no Brasil, sobretudo no segmento industrial onde atuei praticamente toda minha carreira, são consideráveis por diversos fatores. Mas pensando nas variáveis que temos controle, ou pelo menos poder de influência, considero que grandes oportunidades surgirão para os profissionais desta área no Brasil, assim como mundialmente.
Desde as comunicações, transportes e subsídios essenciais à vida como a energia e água, não podemos pensar em nossa vida sem a presença da engenharia. Por exemplo, a alimentação e a saúde, fundamentais a nossa sobrevivência, são impensáveis nos dias modernos sem passar pela engenharia, que por meio do desenvolvimento tecnológico, viabiliza a produção e industrialização de alimentos para o consumo, bem como o desenvolvimento e fabricação de medicamentos ou equipamentos médicos, imprescindíveis à manutenção de nossa saúde.
A globalização trouxe alguns desafios adicionais a essa desafiadora carreira no Brasil, porém abriu portas ao desenvolvimento local, assim como fez em outros países em desenvolvimento ou mesmo desenvolvidos que captam profissionais e compartilham tecnologias que contribuem para aumentar a qualidade de vida de todos no planeta. Embora me considere bem realista, também busco sempre ser otimista em minha vida, assim acredito que os próximos anos, apesar dos desafios à frente (desde pandemias como do novo coronavírus que vivemos hoje, até futuras crises econômicas ou conflitos armados), serão muito promissores no Brasil e no mundo em geral, sobretudo para os profissionais que decidirem verdadeiramente abraçar essa carreira tão honrosa e gratificante como da Engenharia.