Com a pandemia, algumas soft skills ganham protagonismo, como saber ser resiliente
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
Nesta segunda e última parte da entrevista com a equipe de Oportunidades na Engenharia, área de orientação à carreira do SEESP, a mestre em Administração e gestora Alexandra Justo e a administradora de empresas Marismar Malara orientam sobre as competências comportamentais que estão em maior evidência, hoje, no mercado de trabalho. Uma dessas é a resiliência, que Justo explica o que é e como podemos desenvolvê-la. “Neste período de pandemia, a resiliência se tornou muito requisitada nos processos seletivos”, observa. Ainda nessa linha, a gestora fala, também, como a comunicação se tornou fundamental para os profissionais de Engenharia e sobre como estar de acordo com a política de compliance no mundo corporativo.
Com o distanciamento social e o home office compulsório, a partir de março último, como lembra Malara, a área, assim como todo o sindicato, teve de se reposicionar rapidamente para poder continuar a atender, e bem, aos profissionais e estudantes. “Já fazíamos atendimentos personalizados online para facilitar as pessoas que residiam fora da capital paulista, com a pandemia estendemos essa modalidade para todos. O que também significou um saldo positivo, pois os processos seletivos, na sua grande maioria, estão, hoje, 100% digital”, explica.
Ainda nessa reinvenção no atendimento, de forma pioneira e inédita, a área criou um curso online sobre LinkedIn, em apenas um mês. Malara, que foi a conteudista e apresentadora do curso, destaca que o Oportunidades na Engenharia quis ajudar aos profissionais e estudantes representados pelo SEESP. A experiência deu tão certo que o curso teve uma edição que foi disponibilizada para os 18 sindicatos filiados à Federação Nacional dos Engenheiros (FNE).
Confira esses e outros temas na entrevista a seguir.
Quais as competências comportamentais mais importantes para o profissional da engenharia?
Alexandra Justo – Competência vai muito além da somatória de conhecimentos, habilidades e atitudes. Na verdade, é o resultado até este momento, da construção da sua vida que expressa tudo o que conheço e aprendi até os dias atuais, além do que sei fazer, ou seja, o que coloco em prática a partir do que aprendi na vida e com a grande cereja do bolo, como coloco as coisas em prática, como me comporto, baseado em que valores, como julgo as questões e tomo decisões.
A riqueza das competências comportamentais está na compreensão das atitudes que é tudo o que conheço, conheci e aprendo, e continuo aprendendo e coloco em prática. Uma coisa é a pessoa se dizer resiliente, outra coisa é verdadeiramente ser e, de fato, conseguir cumprir a resiliência no dia a dia profissional que também será um reflexo da vida pessoal.
Sempre falamos muito em resiliência, uma competência comportamental muito solicitada, que vem ganhando maior destaque em razão de todos os desafios que estamos enfrentando por conta da pandemia. Ou seja, ela ganha protagonismo como competência comportamental desejada nos processos seletivos atuais.
Você pode nos falar mais sobre a resiliência, já que ela está tão em alta?
Alexandra Justo – A resiliência, de fato, vem ganhando maior destaque em razão de todos os desafios que estamos enfrentando por conta da pandemia. Ela é a capacidade, a forma como uma pessoa consegue lidar com conflitos, desafios, problemas, situações adversas e se adaptar. Como ela consegue se ressignificar e retornar para seu estado de equilíbrio. Uma boa questão para reflexão e desenvolvimento é refletir como fomos resilientes neste período de pandemia. Ou seja, ela ganha protagonismo como competência comportamental desejada nos processos seletivos atuais.
Por exemplo: vamos imaginar quantos empregados perderam entes queridos e colegas de trabalho, nesses meses, e retornaram para o seu trabalho na área da saúde para lidar com a própria Covid-19. Como você lidaria com isso, com 100% do seu profissionalismo, qualidade, equilíbrio emocional e humanização no atendimento?
Quais outras competências importantes na atualidade e que vão significar uma mudança muito grande para os profissionais da Engenharia?
Alexandra Justo – A marca forte dos engenheiros é o raciocínio lógico, uma competência inerente à profissão. Ele é primordial sim, mas, hoje, esse profissional também precisa desenvolver a comunicação. Ou seja, é necessário deixar claro o que pretende, o que necessita para desenvolver seu trabalho, seus projetos, saber negociar e envolver as pessoas. O raciocínio lógico é inerente, mas esclarecer e comunicá-lo no cotidiano do trabalho é tão necessário quanto. A comunicação é uma gigante estrutura para a liderança poder ocorrer. Outra competência muito desejada é saber trabalhar em equipe, é quando o profissional demonstra sua capacidade de integrar e manter bom relacionamento com todas as pessoas, sabe lidar com a diversidade e é cooperativo e inclusivo.
Como desenvolver essas competências?
Alexandra Justo – Aprender a aprender. Ler, estar aberto aos conhecimentos, ver os exemplos, mas, fundamentalmente viver a equipe, se abrir para ouvir. As lideranças são muito bem vistas. Quem eu quero como líder? Quero pessoas que me representem, mas acima de tudo que tenham valores e colaborem com os objetivos pessoais e organizacionais. Esses objetivos quando se unem proporcionam um ambiente de trabalho muito mais favorável à felicidade e isso leva a resultados diferenciados dentro da organização.
Sabemos da importância de saber ouvir. Estamos em constante mudança, tecnologias, processos, formas de falar, ideias a compartilhar, culturas se relacionando cada vez mais, sendo assim, é necessário estarmos abertos ao novo. O aprender a desaprender e a reaprender, avalio, faz parte de um processo de comunicação e de trabalho em equipe gigante.
E a política de compliance?
Alexandra Justo – O mundo necessita de pessoas que saibam o que é seu e o que é do outro. Parece um conceito tão simples, mas cada vez mais, os processos seletivos nas organizações buscam a segurança de que estão contratando pessoas idôneas, que estarão em sintonia com a política de compliance em qualquer situação e lugar de trabalho.
Como a área de reposicionou com a pandemia?
Marismar Malara – Já fazíamos atendimentos personalizados online para facilitar as pessoas que residiam fora da capital paulista. As agendas presenciais eram realizadas mais com os profissionais de São Paulo. Com a pandemia, todo o nosso atendimento migrou para o remoto. O que também significou um saldo positivo, pois os processos seletivos, na sua grande maioria, estão, hoje, 100% digital.
Essa situação reforça a necessidade de estarmos atentos às mudanças do mundo profissional para nos adaptarmos de forma ágil. Ou seja, aprender e reaprender. Com essa prática online, o profissional ou o estudante já saberá lidar com o processo seletivo digital das empresas.
Quais as dicas para esses processos digitais?
Marismar Malara – Orientamos sobre os ruídos, o ambiente, como se apresentar, para onde olhar, e quais são os pontos que o recrutador levará em conta para a avaliação. Está sendo muito positivo essa nova etapa do atendimento, que deverá permanecer.
Com a pandemia, vocês criaram o curso LinkedIn para Engenheiros. Como foi essa experiência de ser conteudista do curso?
Marismar Malara – Com o isolamento social, percebemos que poderíamos oferecer um curso com conteúdo que realmente significasse aprimoramento para os nossos profissionais. O LinkedIn é um espaço importante para o profissional se divulgar da melhor forma possível, as grandes empresas, recrutadores estão lá; e com a pandemia essa rede cresceu muito. O curso apresenta um passo a passo de como utilizar as diversas funcionalidades do LinkedIn, desde como definir o perfil profissional, como usar a foto pessoal, até como escrever o “Sobre”. O nosso objetivo foi contribuir com a categoria e, o principal, o curso foi inteiramente gratuito.
Quando se fala em LinkedIn e processos virtuais, também falamos de palavras-chave.
Marismar Malara – Exatamente. As palavras-chave precisam ser pensadas de uma maneira personalizada a partir da atuação, da experiência e dos títulos do profissional. Elas também estão diretamente ligadas ao nível de aperfeiçoamento e capacitação, porque quanto mais conhecimento, mais palavras-chave aderentes ao mercado se poderá ter. Ou seja, precisa de muito foco e muito entendimento por parte desse profissional sobre ele mesmo e sobre o mercado e saber juntar isso para a definição da palavra-chave.
O que 2020 traz de aprendizado para 2021?
Alexandra Justo – A pandemia trouxe a Covid-19 e também nos aproximou mais virtualmente. Quando se trabalha com a iminência de riscos que envolvem a vida e a saúde aprendemos a dar mais sentido e qualidade para o tempo. Os atendimentos virtuais trouxeram essa grande informação de que o mundo vai continuar existindo, as pessoas estão vivas e são reais e elas estão aprendendo a ser reais no mundo virtual. Então isso fica como uma lição para a área de Oportunidades para o próximo ano.
Tivemos evoluções gigantes, como o curso de LinkedIn. Mas até o próprio LinkedIn não para e se atualiza constantemente, por isso, para 2021, pensamos em trazer essas atualizações para os nossos profissionais de uma forma mais dinâmica.
Nesse período, com as pessoas mais receptivas, também tivemos uma aproximação maior com recrutadores de grandes empresas e consultorias, com headhunters, com especialistas. Acredito que é uma aproximação que se efetivará ainda mais em 2021. Podemos esperar novidades da área de Oportunidades para o próximo ano!
Qual o balanço que você faz de 2020 e como prosseguimos?
Alexandra Justo – A pandemia trouxe o risco da vida, isso fez com que repensássemos muitas coisas. Do processo deste ano, levamos uma percepção muito importante que é estarmos abertos para trabalhar com pessoas diversas, para a inclusão e dizer não ao preconceito. Descobrimos que trabalhar de forma interdisciplinar é uma riqueza, respeitando o conhecimento de cada um. Acredito que poderia acrescentar que uma linda palavra-chave do engenheiro é engenharia.
Queria deixar uma grande dica. Para que as nossas soft skills aconteçam e estejam em constante desenvolvimento precisamos, de fato, nos conhecer. Para isso é preciso ser humilde o suficiente para reconhecer tudo que temos de bom e tudo que temos ainda que melhorar. Minha mensagem é para que a gente se reconheça, se conheça cada vez mais, mas que a gente tenha esse olhar de foco, mesmo continuando usando máscaras, álcool em gel e todos os cuidados que são vitais. Nem que precisemos usar máscaras por anos, espero que não tantos, a nossa vida vai continuar e precisamos viver da melhor forma possível.
O meu olhar positivo é o que me ajuda a sair disso. Estou esperando muito da engenharia na ajuda nos processos das vacinas. Conto muito com vocês, engenheiros!
Confira a primeira parte da entrevista
* Oportunidades na Engenharia faz balanço dos serviços oferecidos