Jornal da USP
Também, acredita-se que os dados refletem a falta de apoio familiar, de amigos e até das próprias instituições de ensino, o que fez a ONU definir como uma das metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável a busca pelo acesso e participação feminina de forma igualitária na ciência.
Quando Maria Julia Marques começou a graduação em Ciências Físicas e Biomoleculares no Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, percebeu que a proporção total de alunos homens era muito maior que a de mulheres. A estudante, que hoje é mestranda em Física Biomolecular, concorda que a predominância masculina dentro dos cursos de ciências exatas pode afetar o desempenho das meninas. “Eu presenciei alguns casos de machismo durante a graduação. Também cheguei a ver desistência dentro dos cursos, acredito que pela falta de acolhimento e de apoio para essas meninas. A predominância masculina é até no corpo docente, temos muito mais professores homens do que mulheres.”
A experiência de Maria Julia faz parte desse quadro mundial, pois na USP a situação não é diferente. O Anuário Estatístico de 2020 aponta que as mulheres representam menos de 30% do total de alunos matriculados nos cursos de ciências exatas ou nas carreiras relacionadas ao STEM – sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática.
Foi pensando em ampliar a permanência das mulheres nos cursos de graduação em ciências exatas que alunas, pesquisadoras e professoras voluntárias do IFSC idealizaram o grupo Minas do IFSC, no início deste ano. A ideia é construir um espaço de inclusão, apoio e acolhimento para alunas recém-chegadas, num espaço onde possam compartilhar dúvidas, experiências e ideias com outras alunas da graduação e da pós-graduação.
“Dentro de um espaço majoritariamente masculino, queremos ajudar meninas que estão chegando na graduação a terem confiança de que estão no lugar certo”, destaca a professora Tereza Cristina da Rocha Mendes, coordenadora do projeto Minas do IFSC. “Não é um canal para divulgar a ciência feita por mulheres, mas sim um espaço para unir as graduandas — principalmente as calouras, ainda mais agora na pandemia — que estão inseguras com a escolha do curso. Com as palestras, vamos apresentar cientistas e pesquisadoras inspiradoras a essas jovens.”
O grupo também funciona como um “fórum virtual”, por meio do Discord — plataforma de comunicação instantânea, que troca mensagens de texto, áudio e vídeo. É por lá que as mulheres se reúnem para bate-papos e enviam comunicados sobre as atividades e encontros. As alunas também promovem eventos como palestras com pesquisadoras e cientistas, que são transmitidas pelo Youtube, sessões de cinema — chamadas CineMinas — e debates.
As participantes do projeto também promovem o “amadrinhamento” das calouras, em que alunas mais velhas se conectam com as recém-chegadas. A intenção é que esse contato possibilite maior apoio e acolhimento e fortaleça a relação entre as estudantes.
“Quando eu entrei no IFSC, em 2015, senti a necessidade de ter um grupo de apoio às meninas recém-chegadas. Um lugar em que a gente possa compartilhar histórias e conversar tanto sobre a graduação, quanto sobre a vida”, lembra Maria Julia, acrescentando que ficou muito feliz quando convidada a participar do grupo Minas do IFSC. “Fiquei muito honrada e feliz com o convite! Aceitei na hora. Estou amando ter contato com outras alunas da graduação e da pós-graduação, que eu ainda não conhecia, além de poder conhecer outras pesquisadoras do País.”
Para participar do grupo, basta entrar em contato com as alunas por meio da página do Facebook, Instagram (@minasdoifsc), ou canal do Discord. Mais informações podem ser encontradas na plataforma do projeto em: www.ifsc.usp.br/~lattice/minas.