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09/06/2021

Óleo de tomilho é utilizado no combate ao Aedes aegypti

Jornal da Unicamp*

 

Conhecido como coadjuvante no tratamento da tosse, o óleo natural de tomilho também possui propriedades que podem auxiliar na guerra contra a dengue. Essa é a aposta da Prefeitura de Adamantina, que recentemente adquiriu 500 quilos de partículas encapsuladas com o óleo de tomilho, capazes de eliminar, em até 48 horas, 100% das larvas do Aedes aegypti.

 

O mosquito responsável pela transmissão da dengue, transmite também outras doenças como zika vírus, febre amarela e chikungunya. “A ideia é que essas partículas sejam distribuídas de casa em casa, com o auxílio de nossos agentes comunitários de saúde, de modo que todos os quintais de Adamantina estejam preparados para enfrentar o mosquito Aedes aegypti”, conta Gustavo Taniguchi Rufino, Secretário de Saúde do município e responsável pelo licenciamento da tecnologia.

 

Desenvolvida na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (FEA/Unicamp), a tecnologia é fruto do estudo conduzido pela equipe liderada pela professora Ana Silvia Prata. A pesquisa mostrou que as partículas contendo óleo de tomilho encapsulado, quando em contato com a água, liberam gradativamente um princípio ativo com ação larvicida, capaz de combater 95% das larvas do mosquito em 24 horas, chegando a 100% de eficácia em 48 horas.

 

A pesquisadora explica que através de um estudo sistemático de formulações foi possível obter partículas que se comportam de forma semelhante aos ovos depositados pela fêmea do Aedes aegypti. Do mesmo modo que os ovos, as partículas apenas entram em ação após o contato com a água. A partir desse contato, o ovo entra em incubação para originar a larva, o que ocorre em cerca de três dias.

 

“Esse é justamente o tempo que as partículas levam para liberar a quantidade de composto ativo necessária para eliminar as larvas do mosquito, ou seja, as partículas conseguem mimetizar o ciclo do ovo” relata Prata, elencando ainda outras características do produto. “O óleo de tomilho é um produto natural e atóxico, e ainda apresenta propriedade antimicrobiana que contribui para o aumento de vida de prateleira do produto acabado” enfatiza Prata.

 

Partículas de tomilho UnicampProdução das partículas com óleo de tomilho encapsulado em escala laboratorial por processo de extrusão. Abaixo, as partículas com composto ativo encapsulado.
Fotos: Arquivo Pessoal Ana Silvia Prata.
As cápsulas são produzidas por meio de um processo de extrusão termoplástica, tendo como base o amido de milho que representa 95% da composição da partícula. Esta combinação de fatores resultou em um produto acessível devido à matéria-prima barata e ao processo escalonável. Ressalta-se que as partículas se mantêm funcionais por até cinco ciclos de chuva.

 

As partículas contendo o composto ativo, o óleo de tomilho encapsulado, foram desenvolvidas para utilização em lugares onde é comum o acúmulo de pequenos volumes de água, como vasos de plantas, pneus e garrafas. Prata explica ainda que como a liberação do composto ativo se dá apenas em contato com a água, assim que a água evapora, essa liberação é interrompida até que haja novo contato com água e um novo ciclo recomece. Além disso, a quantidade de óleo que sai da partícula é regulada pela sua concentração em água e nunca é liberada toda de uma vez.

 

 

Adamantina na luta contra a dengue

Com uma população de cerca de 35 mil habitantes, Adamantina vem sofrendo com números elevados nos casos de dengue nos últimos anos. Foram mais de 2.700 casos apenas em 2019, quando a prefeitura da cidade chegou a decretar situação de emergência em função do risco de epidemia. Em 2020, mesmo com a pandemia por coronavírus, os números foram altos.

 

O Secretário de Saúde da cidade conta que foi por meio de uma reportagem que soube da pesquisa com o óleo de tomilho e, imediatamente, procurou entrar em contato com a pesquisadora responsável para saber mais detalhes sobre o projeto. “Ao conhecer as características do produto, em especial a segurança que oferece, tanto para quem vai manusear como para o meio ambiente, nós nos decidimos pelo licenciamento, que foi realizado por intermédio da Agência de Inovação Inova Unicamp”, explica Rufino.

 

Ele pretende monitorar a implementação da estratégia na cidade, a fim de coletar dados sobre a eficiência do uso das partículas. Para Prata, que de início ficou surpresa com o contato da Secretaria de Saúde de Adamantina, a parceria representa uma oportunidade de obter maior detalhamento sobre a utilização do óleo de tomilho no combate à dengue.

“A coleta de dados é importante pois todos os testes que fizemos até o momento foram laboratoriais, enquanto o monitoramento na cidade vai nos fornecer dados da aplicação na prática, o que certamente irá contribuir para otimizar todo o processo”, relata Prata.

 

A execução do processo de utilização das partículas contendo o composto ativo do tomilho em Adamantina, originalmente estava prevista para 2020, porém a pandemia atrapalhou os planos, e apenas no início deste ano as partículas ficaram prontas. Rufino conta que devido ao período de estiagem que observam no momento, não estão ocorrendo casos de dengue na cidade. A previsão é que assim que se inicie o próximo período de chuvas, em meados de outubro, a distribuição das cápsulas comece a ser executada.

 

A pesquisadora e o Secretário de Saúde são unânimes com relação à potencial consequência do uso das partículas pela população. “Nós acreditamos que colocar as partículas num vaso de plantas, por exemplo, e monitorar todo o processo possa desempenhar um papel educativo, conscientizando as pessoas sobre a importância de evitar possíveis criadouros”, explica Prata.

 

Rufino complementa informando que inicialmente, a ideia é demonstrar à população que trata-se de um produto funcional, eficaz e seguro, para a seguir distribuí-lo, de modo que os moradores possam fazer o controle em suas próprias residências. “Nosso intuito é estabelecer uma parceria na luta contra a dengue, com população e poder público, fazendo cada um a sua parte”, conclui Rufino.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

*Com informações e imagens da Agência de Inovação da Unicamp. Texto original publicado em 2/6/2021. 

 

 

 

 

 

 

 

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