Soraya Misleh/Comunicação SEESP
Coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), José Roberto Cardoso acaba de lançar, em coautoria com o também docente da instituição José Aquiles Baesso Grimoni, o livro “Introdução à Engenharia – Uma abordagem baseada em ensino por competências” (Editora LTC, 2021, 264 páginas). A obra é acompanhada de material suplementar – videoaulas e planos pedagógicos para professores, acessíveis mediante cadastro no site da editora.
O livro traz em seu bojo as exigências constantes das novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) da engenharia, homologadas pelo Ministério da Educação em abril de 2019 e em cuja comissão de elaboração participaram seus autores. Destina-se aos estudantes do primeiro ano de graduação na área, quando, como explica Cardoso, é oferecida a disciplina “Introdução à Engenharia”.
Clique aqui para adquirir o livro e acessar o material suplementar.
Segundo o professor, atualmente, como aponta a obra, a formação precisa focar também competências. Antes, o objetivo fundamentalmente eratransmitir conteúdo (cálculo, física, tecnologia etc.), o que não é mais suficiente para ser um bom engenheiro. A importância dada a humanidades era ínfima, e essa é a grande transformação no século XXI, em que a estrutura administrativa se transformou. Agora a equipe não se concentra mais em um único ambiente e pode ter parte inclusive no exterior. “Competências passam a ser absolutamente relevantes num ecossistema como esse”, pontuou Cardoso.
O especialista enumera, entre elas, ter visão sistêmica, conhecimento avançado em TI [tecnologia da informação], fluência em pelo menos um idioma estrangeiro, ser bom comunicador para expressar suas ideias, saber trabalhar em equipe multidisciplinar para assumir sua liderança. “No passado, engenheiros eram formados na filosofia de que atuariam isolados. Era muito sequencial, concebia-se e depois se projetava. Agora no projeto tudo ocorre simultaneamente”, enfatiza Cardoso.
Como exemplo, ele cita que na construção de um edifício, é preciso ter múltiplos conhecimentos, como em gestão econômica, sociologia, marketing, não mais apenas engenharia civil e arquitetura.
“Antes bastava ao engenheiro obedecer a uma ordem, hoje precisa ter visão integral do processo, compromisso, saber expressar opinião e questionar antes de simplesmente fazer, ter raciocínio crítico. Não pode mais ser um agente passivo, o que não é teimosia”, ensinou.
Ainda de acordo com o professor, uma das competências mais requeridas hoje, apontada no livro, é ser flexível. “Isso está relacionado ao que chamamos inteligência emocional, e todo profissional deve ter.” Implica, como detalha, aceitar opiniões diversas, ter paciência, autocontrole, empatia, saber dialogar, não ser arrogante, autoritário. “Um CEO normalmente é contratado pelo alto QI [coeficiente intelectual], mas é demitido pelo baixo QE [coeficiente emocional]”, alerta Cardoso.
Consciência socioambiental
O anexo do livro traz ainda a preocupação do chamado movimento “Engenharia para a paz”, que conta com o engajamento de Cardoso. Ou seja, busca elevar a consciência socioambiental do futuro engenheiro.
“Ele tem que saber que qualquer projeto gera impactos. É preciso conhecer a origem da matéria-prima, por exemplo se de extração de alguma mina, poço de petróleo, floresta, se é madeira de desmatamento ou não. Celular, por exemplo, tem lítio na bateria, extraído no Congo em condições escravagistas. Tendo essa consciência, o engenheiro pressionará para que venha de fontes confiáveis, não explore o meio ambiente ou outro ser humano. E vai projetar equipamentos para que, quando não forem mais utilizáveis, seus rejeitos não agridam o ambiente”, aposta o professor da Poli-USP.
Isso, concorda Cardoso, pode refletir em inovações, ao encontro dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) elencados pela Organização das Nações Unidas (ONU). “Setenta e cinco por cento deles envolvem engenharia e para atingir suas metas, é preciso ter consciência socioambiental”, concluiu.
As competências necessárias, apresentadas no livro, portanto, demandam valorização do engenheiro. “Isso trará mais dignidade à profissão.”