logo seesp ap 22

 

BannerAssocie se

12/10/2021

Engenharia agronômica: a ciência que alimenta o mundo

 

Professor e estudante da Unesp-Botucatu destacam caráter social da profissão.

 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

 

400 Filipe Giardini Bonfim Unesp 1Professor Filipe Pereira Giardini Bonfim, da FCA-Unesp, campus Botucatu. Crédito: Acervo pessoal.O Brasil saiu da condição de importador de alimentos para se tornar um grande provedor para o mundo, nos últimos 40 anos. O País vem se constituindo num forte potencial agrícola e o que se vê é que a engenharia agronômica vem ganhando relevância. Hoje, segundo estatísticas do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), temos cerca de 109 mil engenheiros agrônomos registrados em todo o território nacional. Uma profissão, como define o coordenador do curso da modalidade na Faculdade de Ciências Agronômicas na Universidade Estadual Paulista (FCA-Unesp), campus Botucatu, Filipe Pereira Giardini Bonfim, totalmente ligada à sociedade e sustentabilidade. “O curso de engenharia agronômica, no Brasil, se instalou por volta de 1887 e a regulamentação da profissão se deu por volta de 1910. De lá para cá, é uma ciência que evolui o tempo todo numa interação singular com a sociedade e o meio ambiente”, observa.

 

É esse potencial agrícola que despertou o interesse do estudante paulistano Vinícius Saraiva Lustosa Santos para a profissão. Ele entrou na Unesp/Botucatu aos 19 anos, em 2018: “Sempre enxerguei a agricultura como um grande potencial econômico do Brasil e uma oportunidade de crescer junto. Além disso, no ensino médio gostava muito de botânica e fisiologia das plantas.”

 

Mineiro de Belo Horizonte, Bonfim se formou engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Minas (UFMG) e desenvolveu sua carreira científica do mestrado até o pós-doutorado em instituições mineiras, respectivamente, em Viçosa (UFV) e na Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). Nesta entrevista ao Oportunidades na Engenharia, do SEESP, em celebração ao Dia da Engenharia Agronômica, neste 12 de outubro, Bonfim mostra toda a sua paixão pela profissão que abraçou aos 19 anos, em 2003, ano em que entrou na graduação.

 

Desde 2012 na FCA-Unesp, o docente ressalta que não consegue ver a área desvinculada da sua função social. “Tudo o que a gente faz tem um cunho social, pois ela é uma ciência que alimenta o mundo”, ressalta. A atuação do profissional, diz Bonfim, está em tudo: “É quase impossível acordar de manhã e não ter tido contato com algum produto acabado da produção agrícola.”

 

Nesse sentido, o professor faz questão de relacionar a importância da profissão: “Estamos na base da nossa dieta e até dos nossos alimentos recreativos – da cerveja, vinho, cachaça, chás, leite até o café.” O campo de atuação é realmente extenso, como ensina Bonfim, podendo incluir a bioenergia e a produção de fitoterápicos e fitopreparados, que são medicamente com base na produção vegetal, e ainda a área de cosméticos.

 

Segurança alimentar e ética
A engenharia agronômica também se relaciona à questão da segurança alimentar, “que é o compromisso de manter a uniformidade de oferta de alimentos em quantidade e qualidade para a nossa população”. Neste item, entra a discussão do efeito residual de defensivos e de agrotóxicos no produto que chega ao consumidor. “Trabalhamos diretamente com a vida das pessoas, portanto, este é um tema que precisa estar cada vez mais presente na formação desses profissionais”, defende, e está presente no curso da FCA-Unesp, garante o docente.

 

O discente observa outro aspecto social da engenharia agronômica que é a de se empenhar para ajudar nas melhorias contínuas de políticas de distribuição de alimentos “para que os mais necessitados, principalmente, tenham acesso aos alimentos e, desta forma, contribuir para a erradicação da fome”.

 

Profissionais cidadãos
A visão tão responsável sobre o desempenho da profissão que já se expressa nas palavras do estudante é construída, segundo o professor Bonfim, com uma estrutura pedagógica que combina o saber técnico e a vivência entre os corpos docente e discente. “Posso definir nosso trabalho em dois elos, o da própria matriz curricular e o extra curricular”, informa. Este último, como diz, se dá com a abertura significativa na relação interpessoal dentro do espaço universitário. “Essa vivência próxima, além de garantir uma resposta em termos de conteúdos absorvidos, tem impacto comportamental muito grande vendo questões éticas nas linhas de pesquisa que desenvolvimentos, por exemplo”, relaciona.

 

Ainda dentro desse escopo, Bonfim fala do zelo do curso da Unesp ao receber o ingressante, para tanto, são mantidos contatos iniciais com os pais, a família. “Nos preocupamos, inclusive, em saber em quais condições os alunos, como vão morar, como vão se manter. É uma relação que olha o aluno como um ser humano, que tem uma história social e econômica. Acreditamos muito que ajudamos no desenvolvimento ético de futuros profissionais cidadãos, primeiramente”, explana.

 

E dentro da matriz temos diversas disciplinas que trabalham questões sociais e éticos – ética de profissão, de comercialização, temos também a questão do zelo pelo nosso ecossistema de forma direta, e sendo valores que a gente precisa deixar registrado dentro da nossa matriz.

 

Vinícius UnespO estudante Vinícius Saraiva Lustosa Santos, da FCA-Unesp. Crédito: Acervo pessoal.Estágio e iniciação científica
Com previsão de conclusão do curso em dezembro de 2022, Santos já realizou estágio de férias com desenvolvimento de produtos para o controle da cigarrinha da cana. “Nele, pude aprender a montar experimentos a campo, conduzi-los e avaliar dados para analisar a eficiência dos produtos testados”, explica.

 

Na universidade, o discente já realizou iniciação científica voltada à área da proteção vegetal, com o controle de plantas daninhas, quando “analisei o efeito da palha sobre algumas ervas daninhas que afetam grandes culturas”. Santos faz parte, ainda, na Unesp, de dois projetos: “Um está relacionado com o programa de educação tutorial que é coordenado pelo Ministério da Educação, desenvolvemos atividade de ensino, pesquisa e extensão. Trabalhamos com projetos de pesquisas voltadas ao setor da agronomia e à sociedade, como o curso de hortas para os meninos da Fundação Casa [Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente].”

 

Já o segundo projeto, prossegue o estudante, é o Cenagri Júnior, empresa de consultoria agrícola formada por discentes da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, que presta “atendimento técnico do plantio a colheita para produtores da região, contribuindo para a produção dessas pessoas, tornando-as mais rentáveis e com maior produtividade”.

 

Sustentabilidade
O professor Bonfim observa que quando se fala em sustentabilidade “pensamos em recursos renováveis e não renováveis – o germoplasmas, a nossa biodiversidade vegetal e animal, o solo, o ar, a água – que são insumos fundamentais para a manutenção da agricultura”. Ou seja, como destaca ele, são a base de tudo se que faz ou se pode fazer no manejo agrícola, por isso, “os cuidados com esses recursos estão pautados fortemente dentro das nossas disciplinas”. Inclusive, acrescenta, é uma ação que já é demandada pelo próprio mercado, ou seja, “os profissionais formados estão sendo direcionados para essa área de sustentabilidade, o que equivale dizer que faz parte da formação da profissão. São indissociáveis, diria”.

 

Santos já mostra, mais uma vez, que está realmente antenado na formação da FCA-Unesp, porque acredita que a sua profissão pode auxiliar “os produtores de Norte a Sul do Brasil a fazer uma agricultura com boas práticas e da forma mais rentável possível, assim contribuindo mais ainda com um dos mais importantes setores da economia brasileira. Meu sonho é trabalhar com extensão rural por todo o País, conhecendo diversas regiões e suas particularidades culturais, econômicas e produtiva”.

 

Como realça o professor, a sustentabilidade pode garantir tranquilidade para as produções rurais e evitar problemas maiores ao meio ambiente. “A engenharia agronômica atua para fornecer autonomia, resiliência, auto-organização e autopromoção para os sistemas de produção. As plantas ou culturas agrícolas precisam ter essa autonomia, ter capacidade de reagir a uma condição adversa. Não podemos pensar mais em termos de sazonalidade por causa das mudanças climáticas, hoje temos inverno chuvoso e verão sem chuva”, ensina.

 

Agricultura 4.0
Todas as modalidades da engenharia evoluem com as mudanças sociais, econômicas e tecnológicas, e não é diferente com a agronômica, como observa o professor da FCA-Unesp. “A engenharia trabalha o tempo todo com a modernização, a atualização e a mudança de paradigmas tecnológicos, é intrínseco a essa saber”, destaca. Assim como já se convencionou definir como Indústria 4.0, a quarta revolução já chegou à agricultura com a utilização de inovações tecnológicas, que trazem maior agilidade, autonomia, conectividade e integração aos processos produtivos e de gestão.

 

A agricultura 4.0 é representada pela conectividade, computação em nuvem, comunicação entre máquinas (machine to machine, ou M2M) entre outros dispositivos. Algumas das inovações presentes nessas mudanças são os drones (veículos aéreos não tripulados), utilizados em diferentes tarefas, como procurar indícios de pragas e pontos que necessitam de maior irrigação, avaliar a saúde das culturas, detectar ervas daninhas e até checar a qualidade do ar. Todos os dados levantados pelos drones são registrados e adicionados num banco de informações.

 

As tecnologias na agricultura auxiliam a visualizar e gerenciar os processos de maneira mais ampla e analítica, como: internet das coisas, inteligência artificial, big data, entre outros. Elas permitem a geração e análise de um volume massivo de dados, facilitando rotinas e permitindo uma produção em larga escala, com qualidade. “Todas essas evoluções tecnológicas visam trazer economia para o produtor rural e ganhos de produtividade, quando se utiliza, por exemplo, tecnologias que monitoram grandes área com maior precisão. São processos e programas que ajudam a garantir fertilidade e redução de perdas pós-colheita, por exemplo”, explica.

 

A telemetria (arte de medir distâncias) permite o monitoramento e o controle da produção à distância. Em um sistema de irrigação, por exemplo, a tecnologia aponta a quantidade exata de água necessária, otimizando o processo de maneira inteligente e sustentável.

 

Queremos agradecer a gentileza e o compromisso do professor Filipe Pereira Giardini Bonfim que fez questão de participar desta matéria, pelo Dia da Engenharia Agronômica, mesmo em período pós-operatório. E ele conseguiu mostrar toda a sua paixão por um saber técnico e científico que, como ele mesmo diz, tem como razão de ser um compromisso total com a sociedade. “Agradeço muito poder ajudar nesse esforço em mostrar o quanto a nossa profissão é social”, define.

Você sabia que o SEESP oferece:

I - Orientação à carreira
O SEESP mantém a área Oportunidades na Engenharia que atende estudantes e profissionais da área na parte de orientação à carreira, com diversas ações, entre elas: atendimento personalizado (serviço exclusivo para estudantes e profissionais associados ao SEESP) com análise de currículo, orientação de LinkedIn, simulação de entrevista, dicas atuais sobre processos seletivos online e presenciais, elaboração de trilha de carreira e de estudo etc. O setor mantém, ainda, plataforma de divulgação de vagas de estágio e outras oportunidades; cadastro de autônomos; conteúdos atualizados sobre mercado de trabalho; noções gerais de redação e português.  Para auxiliar estudantes e engenheiros na hora de formatação do currículo, também tem o Mapa da profissão, com informações de legislação, mercado, palavras-chave para cada modalidade da engenharia etc..

II - Associação para os estudantes
O estudante de Engenharia também pode se associar ao SEESP e usufruir de diversos benefícios, inclusive de desconto na mensalidade da faculdade, caso esta seja conveniada ao sindicato. Saiba mais aqui.


III - Núcleo Jovem Engenheiro
Foi criado um espaço bem bacana para os estudantes e recém-formados na área para discutir questões específicas. É o Núcleo Jovem Engenheiro, saiba como participar, clicando aqui.

 

Engenharia Agronômica – Raio-X
Objetivo – Formação de profissionais para atuar, de forma generalista, no manejo sustentável dos recursos naturais, visando à produção agropecuária. Em sua atividade, desenvolve projetos de produção, transformação, conservação e comercialização de produtos agropecuários; organiza e gerencia o espaço rural; promove a conservação da qualidade do solo, da água e do ar. Controla a sanidade e a qualidade dos produtos agropecuários; desenvolve novas variedades de produtos; otimiza tecnologias produtivas e atua com as políticas setoriais. Coordena e supervisiona equipes de trabalho; realiza pesquisa científica e tecnológica e estudos de viabilidade técnico-econômica; executa e fiscaliza obras e serviços técnicos; efetua vistorias, perícias e avaliações, emitindo laudos e pareceres. Em sua atuação, considera a ética, a segurança e os impactos socioambientais.

Carga mínima do curso – 3.600 horas

Estágio – Obrigatório (Lei 11.788/2008)

Temas abordados na formação - Fisiologia Vegetal e Animal; Genética e Melhoramento; Construções Rurais; Topografia e Cartografia; Manejo e Conservação do Solo e da Água; Agrometeorologia e Climatologia; Ecologia Vegetal; Máquinas, Mecanização Agrícola e Logística; Georreferenciamento e Geoprocessamento; Hidráulica, Hidrologia e Manejo de Bacias Hidrográficas; Zootecnia e Fitotecnia; Produção e Sanidade Vegetal e Animal; Economia e Administração Rural; Extensão e Sociologia Rural; Pesquisa Mercadológica e Agronegócio; Paisagismo; Biotecnologia; Tecnologia de Produtos Vegetais e Animais; Manejo e Produção Florestal; Política e Desenvolvimento Rural; Matemática; Física; Química; Ética e Meio Ambiente; Ergonomia e Segurança do Trabalho; Relações Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS).

Áreas de atuação - Na administração de propriedades rurais; em postos de fiscalização, aeroportos e fronteiras como agente de defesa sanitária; em órgãos públicos como agente de desenvolvimento rural, ou na padronização e classificação dos produtos agrícolas; em empresas de projetos agropecuários, rastreabilidade, certificação de alimentos, fibras e biocombustíveis; em indústrias de alimentos e insumos agrícolas; em empresas que atuam na gestão ambiental e do agronegócio; no setor público ou privado no controle de pragas e vetores em ambientes urbanos e rurais; em empresas e laboratórios de pesquisa científica e tecnológica. Também pode atuar de forma autônoma, em empresa própria ou prestando consultoria.

Piso profissional – Lei 4.950-A/66.

Legislação pertinente – Lei 5.194/1966

Fonte: Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação

 

Lido 2319 vezes
Gostou deste conteúdo? Compartilhe e comente:
Adicionar comentário

Receba o SEESP Notícias *

agenda