A atividade se confunde com a história da evolução dos materiais, da pré-história à era moderna.
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
No dia 10 de abril, celebra-se o Dia da Engenharia Metalúrgica, ofício que, segundo estatísticas do sistema dos conselhos federal e regionais da categoria (Confea-Creas), totaliza 4.907 profissionais em todo o País. A especialidade compreende as pesquisas voltadas para caracterização estrutural e de propriedades mecânicas, além da produção e processamento no âmbito dos materiais metálicos, assim como suas aplicações. Dessa forma, o/a engenheiro/a metalurgista (ou metalúrgico/a) é responsável pelos projetos de tratamento e de produção de metais e ligas metálicas. A atividade possibilita, ainda, a criação de novos compostos, feitos a partir da combinação de metais com outros materiais, como vidro, plástico e cerâmica.
A área Oportunidades na Engenharia, do SEESP, de orientação à carreira (saiba mais aqui), entrevistou o engenheiro metalurgista Horacidio Leal Barbosa Filho, com uma trajetória profissional brilhante de mais de 25 anos somente na área de siderurgia, além de outras atuações. Formado há 51 anos, em 1971, na Universidade Federal Fluminense (UFF), hoje é presidente executivo da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM) e fala com orgulho de uma atividade, como ele mesmo ressalta, que está “presente no nosso cotidiano”. “A engenharia e o desenvolvimento de novas tecnologias estão alinhadamente ligados à ciência”, pontua Leal, como é conhecido na comunidade minerometalúrgica.
A paixão pela profissão começou no científico (atual ensino médio) quando visitou uma siderúrgica e ficou impressionado com o laminador de tiras a quente [LTQ]. “Naquele momento decidi fazer metalurgia”, lembra. O estágio da graduação foi feito numa fundição, na mesma usina siderúrgica que visitou na época do científico, “que tinha um processo à base de carvão vegetal”, explica. Já formado, trabalhou durante seis meses num instituto que realizava normatização da terminologia siderúrgica.
LTQ na cabeça
Mas, como diz Leal, o LTQ não saía da sua cabeça. Por isso, resolveu se candidatar a uma vaga numa siderúrgica, “onde trabalhei por 24 anos”. Foi na antiga Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), na cidade de Cubatão (SP), hoje Usiminas. O recém-formado engenheiro metalurgista, à época, trabalhou no planejamento e na programação da produção. “A atividade exigia entender a fundo minério de ferro e sua aglomeração; de carvão mineral e sua destilação; da fusão do aglomerado mais o coque (carvão destilado); do refino deste ferro (gusa) e sua transformação em aço, com as adições de minerais não ferrosos (ferroligas) para garantir características diferenciadas a cada destinação por aplicação”, relaciona.
Todo esse processo fabril, acrescenta ele, produz aços planos não-revestidos – placas, chapas grosas, laminados a quente e a frio – com espessura, largura e comprimentos variados, que vão atender a segmentos estratégicos da economia, como o automobilístico, ferroviário, automotivo, naval, de construção civil, agrícola, de embalagens, mecânico, eletroeletrônico, de utilidades domésticas, máquinas, equipamentos e de distribuição. “Para cada uma dessas aplicações, é necessário um tipo de aço diferente”, endossa.
Na mesma empresa, Leal atuou na área comercial e “mais uma vez o conhecimento de metalurgia contribuiu para entender os processos dos clientes e consequentemente especificar o aço adequado para atender às necessidades do consumidor”, explica.
Cotidiano e inovação
A engenharia metalúrgica contribui com o desenvolvimento ao transformar minerais em ligas que serão usadas na construção de ferrovias, na instalação da indústria automobilística no País, na criação da área aeronáutica nacional. “É uma profissão que vai fornecer o material necessário para a produção de eletrodomésticos e utensílios domésticos, matrizes e ferramentas, motores, máquinas agrícolas, construção metálica, hoje em celulares, entre outros”, ressalta o engenheiro.
No livro “A Quarta Revolução Industrial”, o autor, fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab relata que “estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos.”. Com a proposta de agrupar o que é físico, digital e biológico, a Indústria 4.0 traz ainda mais desafios para quem deseja se manter no mercado de trabalho. (Artigo: A Influência da Tecnologia no Futuro da Engenharia)
Ele destaca, ainda, que, ao longo do tempo, as inovações tecnológicas beneficiaram a engenharia metalúrgica em seus diversos campos de atuação – da fundição e caracterização de metais, desenvolvimento de ligas, extrativismo etc. “A criação de escolas de engenharia de Metalurgia, institutos tecnológicos e de pesquisa, cursos de mestrado e doutorado na área contribuíram decisivamente para o avanço da inovação tecnológica”, observa.
As inovações tecnológicas, segundo Leal, estão na modernização das fundições, das siderúrgicas a oxigênio e elétrica, dos processos de transformação do alumínio, do cobre e outros metais, que acompanharam as necessidades das novas exigências dos clientes. “Cito algumas dessas exigências: na área automobilística, tivemos a redução do peso de veículos, o aumento da segurança, designs mais sofisticados. Já na indústria da construção civil, a engenharia metalúrgica inovou criando estruturas mais leves e mais resistentes, entre outras”, descreve, orgulhoso.
Novas ligas
O presidente da ABM inúmera outras inovações tecnológicas que auxiliaram o profissional da área a descobrir novos tipos de material para utilização industrial. Para ele, a descoberta do nióbio [Nb] é um fator que revolucionou a indústria mundial, e o Brasil é o maior produtor do mundo.
O que é
O nióbio foi estudado pela primeira vez em 1801, pelo químico inglês Charles Hatchett. O nióbio atualmente é utilizado para fortalecer ligas metálicas aplicadas a tubos condutores de fluidos, peças aerodinâmicas e automotivas, e medicinalmente é utilizado em diagnósticos de imagem. (Fonte: Mundo Educação)
A descoberta do pré-sal também exigiu alto nível de qualificação dos profissionais que atuaram no processo de extração e transporte do petróleo, exigindo especificações muito rigorosas de resistência mecânica e à corrosão dos metais e ligas. Ele continua: “A auto redução, tecnologia genuinamente brasileira, exigiu grande perseverança para atingir o nível atual que possibilitará a construção de uma nova siderúrgica no Pará”, informa Leal.
A engenharia metalúrgica, prossegue ele, também está conectada à chegada da era dos carros elétricos, “pois novas ligas foram e estão sendo desenvolvidas para tornar os motores mais leves e as baterias com cargas mais duradouras para esse tipo de veículo”. Isso equivale dizer que, no centro da promoção da mobilidade humana mais sustentável e de uma economia mais descarbonizada, está o desenvolvimento contínuo de materiais mais avançados que são, principalmente, combinações de metais como o Li (lítio), Ni (níquel), Co (cobalto), Mn (manganês) e Fe (ferro). “Aqui é engenharia metalúrgica pura”, indica.
A profissão também está no avanço espacial e de aeronaves “que exigiram o desenvolvimento de ligas de alumínio e de metais especiais, como o magnésio (Mg), o titânio (Ti) e o cobalto (Co), entre outros, para a redução de peso e obtenção de propriedades especiais”, ensina Leal.
Mudanças velozes
Para o presidente da ABM, as mudanças são cada vez maiores e velozes. “Os avanços tecnológicos praticamente são incessantes, ainda mais quando falamos de tecnologia de informação (TI)”, observa. Segundo ele, os computadores e os aparelhos de telefone celular (ou dispositivos móveis) tem uma capacidade de processamento e armazenamento de dados que só foi possível por meio dos metais de terras raras. “Incluo, ainda, a era das energias alternativas – eólica, fotovoltaica etc. – que também necessitará de alguns metais, que já estão sendo considerados de altíssimo valor estratégico para suas implantações, como o níquel (Ni), o cobre (Cu), o lítio e o cobalto e, de novo, os metais de terras raras”, realça.
Metais de Terras Raras
É o conjunto de 15 elementos químicos constituídos pela família dos lantanídeos mais o ítrio. Os elementos são os seguintes: Leves: lantânio, cério, praseodímio e neodímio; Médios: samário, európio e gadolínio; Pesados: térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio, lutécio e ítrio. (Fonte: Mundo Educação)
Para ele, todos esses movimentos de novas tecnologias, exigidas por uma sociedade que se pretende mais ambientalmente sustentável, vai exigir uma atenção redobrada das atividades da metalurgia. Ele explica: “Se a evolução anterior se deu por meio da tecnologia de automação (TA), agora, essa evolução atende pelo nome de tecnologia da informação (TI), que produz a inteligência artificial (IA), a Internet das coisas (IoT), a indústria 4.0, o big data [sistema de armazenamento de informação caracterizado por velocidade, volume e variedade] etc. Considero a metalurgia fundamental para novos tempos que exigirá uma formação profissional mais profunda, muito aliada com a evolução digital.”
ABM
A Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração foi fundada, em 1944, por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e professores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP). A entidade, diz Leal, se mantém na missão de difusão do conhecimento técnico, científico e de gestão em metalurgia e mais recente em materiais e mineração, promovendo eventos, cursos, palestras, seminários e publicando revistas técnico científicas. “Temos uma relação com as principais siderúrgicas, metalúrgicas e mineradoras, fornecedores de equipamentos e materiais, em nosso quadro associativo, além de profissionais da indústria, da academia e estudantes”, explica.
Nos dias 7, 8 e 9 de junho próximo, avisa o presidente executivo da ABM, será realizada a sexta edição da ABM Week que contará com mais de 800 trabalhos, plenárias, painéis e mesas redondas. Para saber mais sobre o evento, clique aqui.
>> Para conhecer mais a Engenharia Metalúrgica e outras modalidades da engenharia, conheça o Mapa da Profissão.