Carlos Magno Corrêa Dias*
Embora a Guerra do Paraguai, o maior e mais sangrento conflito armado internacional ocorrido na América do Sul, tenha sido travada no período de dezembro de 1864 até março de 1870, desde 1866 o período entre abril e maio de cada novo ano é época de celebrações especiais (muito particulares) para a Engenharia do Brasil.
A Guerra do Paraguai, conhecida, também, como Guerra da Tríplice Aliança, ou Guerra Grande, ou Guerra Guaçu, foi desenvolvida entre o Paraguai e a Tríplice Aliança (composta pelo Império do Brasil, Argentina e Uruguai).
Em primeiro de maio de 1865, na cidade de Buenos Aires, na Argentina, foi assinado o Tratado da Tríplice Aliança um acordo secreto firmado entre Brasil, Argentina e Uruguai para combaterem juntos o Paraguai que desenvolvia uma política expansionista buscando conquistar os territórios vizinhos para obter uma saída para o mar.
Há de se ressaltar, de imediato, que muito das batalhas vencidas pela Tríplice Aliança se deve às operações táticas inovadoras e eficazes propostas pela Primeira Unidade de Engenharia do Exército Brasileiro (o Primeiro Batalhão de Engenheiros, atualmente 1º Batalhão de Engenharia de Combate), principalmente, no período entre o início de abril de 1866 e o final de maio de 1966 quando foram vencidas pelos aliados a Batalha da Ilha de Redenção no caudaloso Rio Paraná (em 10 de abril de 1866) e a Batalha de Tuiuti (em 24 de maio de 1966); esta última a mais sangrenta e importante tanto da Guerra do Paraguai quanto de toda América do Sul.
O saldo de mortos da Guerra do Paraguai foi enorme para todos os envolvidos haja vista que dos cerca de 150 mil homens que o Brasil enviou mais de 50 mil não voltaram daquela violência. Em províncias do Rio Grande do Sul e de Mato Grosso estima-se que foram mortos mais de 10 mil civis. As baixas nos Exércitos da Argentina e do Uruguai chegaram a mais de 50% das correspondentes tropas enviadas. Estudos apontam, também, que Brasil, Argentina e Uruguai somaram cerca de 120 mil baixas.
Porém, do lado do Paraguai a situação foi de longe muito pior chegando-se a contabilizar algo em torno de 300 mil pessoas mortas dentre civis e militares embora avaliações mais extremas afirmem que 80% da população do Paraguai teria sido dizimada.
É sempre importante lembrar, também, que as mortes nas guerras não ocorrem apenas nos campos de batalhas quando das lutas diretas travadas, pois muitos morrem devido às doenças que se alastram e à forme que vai aumentando dia após dia em conflitos bélicos muito prolongados como foi o caso da Guerra da Tríplice Aliança.
Afirme-se que para o Paraguai aquela guerra teve consequências desastrosas em todos os sentidos, pois a maioria de sua população de homens foi morta, a indústria que crescia foi literalmente arrasada, o país assumiu um custoso endividamento com o Brasil e as crescentes necessidades de recursos financeiros levaram à dependência de capitais estrangeiros.
Mas, os vitoriosos da Guerra da Tríplice Aliança tiveram, também, grandes prejuízos. Na verdade, sempre em qualquer guerra todos saem perdendo. E não foi diferente na Guerra do Paraguai.
A Guerra do Paraguai para o Brasil gerou, em particular, um pesado impacto na economia dado que os gastos foram mais de dez vezes o orçamento anual do país em 1864; sem contar as dívidas que o governo do Brasil teve que assumir com bancos estrangeiros (principalmente bancos ingleses) em virtude de empréstimos que o país realizou para financiar todas as enormes despesas durante o interminável e sangrento conflito.
Mas, ao ler a história da Guerra da Tríplice Aliança constatam-se diversos acontecimentos notáveis que poderiam ser destacados, mas a defesa e consequente vitória na Batalha da Ilha da Redenção da Primeira Unidade de Engenharia do Exército Brasileiro sob comando do Tenente-Coronel João Carlos Villagran Cabrita (1820-1866) merece especial destaque, pois além de excelente mostrou o caminho efetivo para o seu término.
A Batalha da Ilha da Redenção está repleta de importantes simbolismos como o fato de no dia 6 de abril de 1866 ter sido erguido naquela parte do território paraguaio, pela primeira vez no conflito, o Estandarte Brasileiro; algo até então apenas impensável.
No dia 5 de abril de 1866, o Tenente-Coronel João Carlos Villagran Cabrita recebeu ordens para ocupar a ilha localizada na frente do Forte de Itapiru do lado paraguaio. Aquela ilha, embora fosse mais um banco de areia coberto por extenso capinzal com espinhos, era importante pela sua posição em relação tanto à Fortaleza de Itapiru quanto ao acampamento inimigo. Como pensaram o Comandante e o Batalhão de Engenheiros a tomada daquele local seria fundamental como ponto de apoio contra o Exército Paraguaio dado que Itapiru controlava o acesso à Província Argentina de Corrientes e era extremamente perigosa haja vista estar ao alcance inclusive de tiros de carabina vindos da fortificação de Itapiru.
Aquela ilha que ficou conhecida como Ilha da Redenção (também chamada de Banco de Itapiru, Banco Purutué, Ilha Carayá), localizada quase no meio do Rio Paraná, na margem direita do Rio Paraná, próxima da confluência com o Rio Paraguai, no Paraguai, a leste da Ilha do Cerrito, no ponto onde desemboca o riacho Paranamí, era uma posição privilegiada de apoio contra o Exército Paraguaio para atacar a Fortaleza de Itapiru. Transpor naquele local o agitado Rio Paraná e montar a correspondente defesa marcou a coragem e o pioneirismo da Engenharia do Brasil.
De 6 abril até 10 de abril de 1866 a Ilha da Redenção ocupada e defendida brilhantemente pelas tropas brasileiras comandadas por João Carlos Villagran Cabrita foi duramente bombardeada e metralhada pelos paraguaios que surpreendidos pela ocupação daquele seu território consideravam uma enorme ousadia ter o inimigo tão próximo da muralha de sua fortificação que controlava o acesso à província argentina de Corrientes que lhe era fronteira, na margem esquerda do rio Paraná.
Em decorrência do constante e massivo ataque proferido pela artilharia paraguaia o comando geral das tropas brasileiras havia decidiu trocar a guarnição da ilha. Porém, de forma determinante, o Tenente-Coronel João Carlos Villagran Cabrita solicita manter a guarnição e é atendido por seus superiores.
Em 10 de abril de 1866, as tropas inimigas formadas pela elite do Exército Paraguaio (em número muito superior ao do contingente do Brasil) foram duramente derrotadas quando pretendiam retomar o controle da Ilha da Redenção. Foi uma luta brutal na qual os soldados do Brasil com denodo e valentia garantiam uma das mais importantes vitórias na história dos combates brasileiros.
Os relatos sobre a vitória na Ilha da Redenção são unânimes em destacar a coragem e intrepidez do herói João Carlos Villagran Cabrita que “não vacilou no transe mais arriscado do perigoso combate” e que mesmo “ferido no rosto, continuou a se expor às balas, se recusando a ser levado para a retaguarda em face dos ferimentos sofridos”.
Conforme apresentado no V Seminário da História da Guerra da Tríplice Aliança, ocorrido em 8 de abril de 2016, no Centro de Estudos e Pesquisa de História Militar do Exército, João Carlos Villagran Cabrita percebendo “que a nossa artilharia não alcançava uma vantagem bem decidida sobre o inimigo, por não poderem acertar as pontarias” decidiu ordenar “uma carga de baionetas e 150 homens com baionetas e machadinhas do 7º de Voluntários, do 14º de Linha e do Batalhão de Engenheiros seguiram seu líder aos gritos: VIVA A NAÇÃO BRASILEIRA! VIVA O IMPERADOR! O combate tomou um aspecto medonho; com as armas em punho avançaram os nossos soldados e em breve o combate corpo-a-corpo teve início para surpresa do inimigo. Os brasileiros desejosos de conservar o posto militar que haviam ocupado, combatiam com tenacidade e heroísmo, não os detendo nem os gemidos dos feridos, nem o arquejar dos moribundos, nem os cadáveres daqueles que caiam em defesa da pátria. Ficou a terra ensopada de sangue dos soldados inimigos que, apesar de terem combatido com uma tenacidade indômita, tiveram que recuar, muitos se jogando no rio vindo a se afogar, e outros galgando as canoas, que eram metralhadas pela nossa defesa”.
Na sequência da luta o Brasil adotou a estratégia de colocar entre a Ilha da Redenção e o Forte de Itapiru duas canhoneiras que dizimaram as canoas do inimigo sem piedade. Fazia-se o inimigo compreender que estava lutando com um adversário forte e estrategista cuja Engenharia Militar era não só inovadora como, também, destemida. A conquista e defesa da Ilha da Redenção foi uma das primeiras vitórias que demonstraram o poderio das Armas do Império do Brasil, principalmente da Arma de Engenharia.
Mas, infelizmente, após a brilhante vitória de 10 de abril de 1866 das Tropas Brasileiras, João Carlos Villagran Cabrita, aos 45 anos, é morto enquanto redigia o relatório do combate do Banco de Itapiru ao ter a embarcação onde estava (contendo munições para guarnição da Ilha da Redenção) ter sido atingida por uma bala de canhão disparada do Forte de Itapiru. Falecia naquele 10 de abril de 1866 um dos Engenheiros e Militares mais brilhantes do Exército Brasileiro.
Há de se observar, entretanto, que a morte do herói da Ilha da Redenção trouxe a ele a glória maior que pode o autêntico soldado ambicionar e enlutou a alma vitoriosa de toda uma guarnição. A trágica morte de João Carlos Villagran Cabrita foi sentida profundamente no Exército Brasileiro da época, pois além de ser um líder destacado por sua profissionalidade e moral João Carlos Villagran Cabrita era um excelente militar muito respeitado e estimado pelos seus comandados.
Possuidor de notável capacidade intelectual e técnico-profissional o Tenente-Coronel João Carlos Villagran Cabrita teve uma carreira militar exemplar.
Fortemente influenciado pelo pai o então jovem João Carlos Villagran Cabrita, nascido em 30 de dezembro de 1820, seguiu a carreira militar e com 19 anos ingressou, como voluntário, no Exército, sendo declarado cadete de 1ª classe. Aos 22 anos, em 2 de dezembro de 1842, como Alferes, serviu no 1º Batalhão de Artilharia a Pé do Exército e em 1844, como 1º Tenente (a partir de 23 de julho de 1844), cumpriu missão de manutenção da ordem em Pernambuco. Na Capital do Império, em 1847, diplomou-se como Bacharel em Matemáticas e Ciências Físicas para seguir sua carreira como Engenheiro Militar.
No período entre 1851 e 1852 João Carlos Villagran Cabrita serviu em missão militar brasileira na República do Paraguai sendo Instrutor de Artilharia nas fortificações paraguaias. Em 30 de abril de 1852 foi promovido a Capitão. Em 1855, participou da criação e implantação do Imperial Batalhão de Engenheiros (1° Batalhão de Engenharia do Exército Brasileiro) situado na cidade do Rio de Janeiro na Fortaleza de São João assumindo a função de Fiscal Administrativo tendo em vista seus amplos conhecimentos matemáticos. Em 2 de dezembro de 1862 assumia o posto de Major.
Em 22 de janeiro de 1866 foi promovido a Tenente-Coronel e naquele mesmo ano João Carlos Villagran Cabrita assumia o Comando do 1° Batalhão de Engenharia que com ele já atuava na Guerra da Tríplice Aliança desde 1865.
O comandante João Carlos Villagran Cabrita recebeu (e continua recebendo) diversas homenagens pelos seus notáveis feitos. Dentre os tributos que lhe foram dados destaque particular para a renomeação da Ilha da Redenção que passou a ser denominada a “Ilha do Cabrita” (a Ilha da Vitória).
O Governo Imperial concedeu ao Tenente-Coronel João Carlos de Villagran Cabrita a insígnia de Cavaleiro da Ordem de Cristo. Pelo Decreto número 2.553/1938, de 4 de abril de 1938, o 1° Batalhão de Engenharia do Exército Brasileiro passou a ser oficialmente denominado como Batalhão Villagran Cabrita; batalhão este que pela Ordem do Dia de 19 de maio de 1866 recebia o direito de ostentar a Bandeira do Brasil em suas campanhas.
Pelo Decreto número 51.429/1962, de 13 de março de 1962, João Carlos Villagran Cabrita passou a ser reverenciado como o Patrono da Engenharia Militar Brasileira; tendo o dia 10 de abril escolhido como o Dia da Arma de Engenharia no Exército Brasileiro em sua homenagem também.
Mais recentemente, em 13 de abril de 1998, foi inaugurado o Memorial de Villagran Cabrita localizado na praça em frente ao 1º Batalhão de Engenharia de Combate Escola (Batalhão Villagran Cabrita).
A Arma de Engenharia do Exército do Brasil, tão bem representada pelo Tenente-Coronel João Carlos Villagran Cabrita, tanto em tempos de guerra quanto em tempos de paz, é fundamental para a tropa; sendo que em conflitos é sempre a grande responsável pelas mais adequadas formas de locomoção da tropa dando apoio para as Armas de Infantaria e Cavalaria.
Os Militares do Exército Brasileiro são distinguidos pelas várias especializações desempenhadas por seus integrantes segundo os distintos campos de atividades. A divisão destas especializações é definida pela Arma, Quadro ou Serviço a que pertence cada um dos membros da Força Militar Terrestre; sendo que as Armas englobam o militar combatente por excelência, os Quadros reúnem os militares que desenvolvem atividades com finalidade geral própria e os Serviços reúnem as atividades de apoio bem definidas.
No que concerne às Armas estas são divididas em dois grupos: as Armas-Base (Infantaria e Cavalaria) e as Armas de Apoio ao Combate (Artilharia, Engenharia e Comunicações), as quais complementam a missão das Armas-Base tanto no apoio de fogo quanto na mobilidade, contramobilidade e proteção (Engenharia).
Os integrantes da Arma de Engenharia são, então, responsáveis pela construção e manutenção de pontes, estradas, ferrovias, portos, dentre outros que permitam a mobilidade e contramobilidade das tropas em tempos de guerra; sendo fundamental para impedir ou retardar o avanço do inimigo. O apoio da Arma de Engenharia multiplica o poder de combate da Força Armada Terrestre desde a sua criação.
Já em tempos de paz a Arma de Engenharia atua nas mais diversas e amplas situações visando auxiliar na infraestrutura e desenvolvimento do país aplicando a Engenharia para melhorar o deslocamento terrestre.
Arma de Engenharia, a Arma Azul Turquesa, simbolizada pelo "Castelo Lendário", perpetua o trabalho dos seus integrantes e representa as tradições e feitos de seu mais importante representante o seu Patrono Tenente-Coronel João Carlos de Villagran Cabrita.
No decreto número 7.201, de 26 de novembro 1908, que estabelece alterações do Plano de Uniformes dos Oficiais e Praças do Exército Ativo de 1894, é citado pela primeira vez a cor Azul Turquesa como referência à Arma de Engenharia. Possivelmente, o Azul Turquesa foi escolhido para a Engenharia devido a ser a “cor do espírito e do pensamento”, a “cor do raciocínio lógico” (a Engenharia trabalha sempre com a lógica), que simboliza o ideal e o sonho, além de ser a mais fria das cores frias e de provocar grande sensação de amplidão e distanciamento.
Já o Castelo Lendário da Arma Azul Turquesa faz referência tanto às Torres de Vigia construídas pelos Fenícios antes de Cristo quanto às Torres de Castelos Medievais ou mesmo às Torres de Vedras (conjunto de obras defensivas situadas na península de Lisboa) datadas era napoleônica que, instaladas e com guarnições temporárias, contando com defesas próprias, eram erguidas em pontos estratégicos sendo ativadas conforme a necessidade de cada exército para auxiliar no apoio ao movimento ou para observação ou para logística.
Na atualidade a Engenharia do Exército seja construindo pontes ou estradas para a população, seja abrindo espaços seguros em campos minados, seja ensinando e gerando conhecimentos inovadores, tem papel cada vez mais destacado tanto nas ações de integração e de desenvolvimento do Nação quanto na projetação da imagem do Exército e
do Brasil em missões nacionais e internacionais que executa com maestria.
Na paz ou na guerra a Engenharia do Exército, a Arma Azul Turquesa do Castelo Lendário, tornou-se imprescindível para evidenciar que o Exército do Brasil e o Brasil são capazes de se fazerem presentes em qualquer lugar fazendo valer o lema do Exército Brasileiro: “Braço Forte - Mão Amiga”.
Embora a história da Engenharia Militar do Brasil remeta ao Brasil Colônia quando os portugueses iniciaram a construção de fortes em pontos estratégicos do solo brasileiro para a necessária defesa, pode-se dizer, entretanto, que é com a vinda da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, juntamente com o Real Corpo de Engenheiros, que ocorre a origem da Arma de Engenharia do Exército do Brasil.
Efetivamente, porém, o primeiro Batalhão de Engenheiros foi criado em 23 de janeiro de 1855, em Santa Cruz, na cidade do Rio de Janeiro, estando ligado, inicialmente, à Arma de Artilharia e pensado para apoiar o Movimento do Exército em Campanha. Já a primeira ideia de criação da Arma de Engenharia ocorreu em 1881 por proposição do Ministro da Guerra da época ao julgar que como já existia na prática o Corpo de Engenheiros Militares nada mais natural do que formar um Batalhão de Engenharia separado da Arma de Artilharia e constituindo uma Arma Especial gerida pelo próprio Comando do Corpo de Engenheiros. Em 4 de junho de 1908, com a efetiva criação da Arma de Engenharia do Exército, o Batalhão de Engenheiros passou a denominar-se 1º Batalhão de Engenharia de Combate (Escola). Todavia, pode-se dizer, sem receio de errar, que foi a partir de 10 de abril de 1866 que o Batalhão de Engenharia do Brasil iniciou sua consolidação como Arma do Exército do Brasil.
Após a invasão do Paraguai a partir da Batalha da Ilha da Redenção se seguiriam ainda grandes e sangrentas batalhas registrando-se um número absurdo de mortos. Por sua vez o Batalhão de Engenharia do Brasil seguiu atuando de forma brilhante construindo as linhas defensivas e de ataque compostas por numerosas peças de artilharia que deu início à fase da guerra conhecida como “Guerra de Posições” que se manteria pelos dois anos seguintes.
A Armada do Brasil não dava trégua ao inimigo e entre os dias 11 e 18 de abril de 1866 as trocas de tiros entre a guarnição da Ilha da Rendição e as posições paraguaias na margem direita do Rio Paraná continuavam. No dia 18 de abril de 1866, mais uma vez, a Bandeira do Império do Brasil era hasteada em território paraguaio que naquele momento das lutas via as ruínas do Forte Itapiru. As tropas aliadas chegam à margem direita do Rio Paraná no dia 19 de abril de 1866; mas, a Guerra do Paraguai estava ainda longe de ter um final.
Em 2 de maio de 1866 a Tríplice Aliança vence o Paraguai na Batalha de Estero Bellaco outra batalha sangrenta com mais de quatro mil baixas dentre as quais se contaram cerca de mil e cem mortes somente de brasileiros e quando a Engenharia do Exército fez novamente a diferença.
Localizado no Departamento de Ñeembucú, no Paraguai, Estero Bellaco foi palco de um ataque surpresa dos paraguaios sobre o acampamento aliado. Inicialmente o sucesso foi dos paraguaios, mas as tropas do Paraguai acabaram derrotadas pelos aliados haja vista que o comando dos inimigos da Tríplice Aliança ao invés de deixar a batalha já vencida julgou que poderia destruir o restante das tropas aliadas. Os aliados servindo-se brilhantemente das táticas ditadas pela Engenharia Militar do Brasil e de um comando unificado obrigaram os paraguaios a recuar em desordem quando iam sendo massivamente abatidos.
Na sequência das batalhas foi a vez da (primeira) Batalha de Tuiuti ocorrida em 24 de maio de 1866 às margens do Lago Tuiuti (sul do Paraguai) local onde cerca de 23 mil soldados paraguaios enfrentaram 32 mil soldados aliados. Aquela Batalha de Tuiuti foi, sem qualquer contrariedade, a mais sangrenta e importante batalha campal dentre todas da Guerra do Paraguai e de todo Continente Sul-Americano na qual os aliados seguiam vencendo e a Engenharia do Exército do Brasil continuou a surpreender como, por exemplo, tomando a brilhante decisão de construir um grande fosso para os soldados paraguaios caírem metros antes de chegarem à linha da Artilharia da Tríplice Aliança desestruturando de forma significativa o ataque inimigo.
Aquele fosso construído para defender o centro aliado além de inolvidável foi determinante. Como disse o Patrono da Artilharia do Brasil: “Eles que venham. Por aqui não passarão!”. E não passaram. Também naquela ocasião o Batalhão de Engenheiros cobriu e defendeu de forma competente como Infantaria o flanco esquerdo da Artilharia. Fantástico.
Na Batalha do Tuiuti o comando do Exército Paraguaio decidiu, novamente, desfechar ataque surpresa contra as Forças Aliadas e na madrugada daquele dia 24 de maio de 1866 paraguaios, argentinos, brasileiros e uruguaios se enfrentaram numa carnificina sem precedentes. No início do ataque as forças inimigas obtiveram êxito e aniquilaram alguns batalhões inteiros dos aliados que estavam desprevenidos. Entretanto, devido a vários erros de estratégia do inimigo como a falta de um comando unificado e ações realizadas isoladamente por alguns de seus generais que agiam sozinhos, a batalha foi vencida pelas tropas da Tríplice Aliança.
As tropas do Brasil, Argentina e Uruguai não somente conseguiram resistir ao ataque inicial dos paraguaios como, também, contra-atacou de forma fulminante com sua poderosa Artilharia comandada de forma estratégica e coordenada. Após intermináveis cinco horas de combate as forças paraguaias batiam em retirada contabilizando cerca de treze mil baixas contra, aproximadamente, quatro mil dos aliados. Foi uma matança descomunal.
Depois da sangrenta primeira Batalha do Tuiuti várias outras batalhas ocorrem na difícil Guerra do Paraguai. Dentre as principais batalhas destacam-se a Batalha do Boqueirão ocorrida em 18 de julho de 1866; a Batalha de Curuzu travada entre os dias 1 e 3 de setembro de 1866; a Batalha de Curupaiti de 22 de setembro de 1866 quando os aliados tiveram sua maior derrota; a Retirada da Laguna que aconteceu em abril e maio de 1867; uma segunda Batalha de Tuiuti que ocorreu em 3 de novembro de 1867.
Humaitá caiu no dia 25 de julho de 1868; em dezembro de 1868 aconteceu a Dezembrada (paraguaios são derrotados nas batalhas de Itororó, Avaí, e Lomas Valentinas); em 5 de maio de 1869 a Fundição de Ibicuí (onde eram feitas as armas do Exército do Paraguai) foi destruída.
Em 16 de agosto de 1869 foi travada a triste Batalha de Acosta-Ñu quando cerca de 20 mil soldados da Tríplice Aliança enfrentam e derrotaram as tropas paraguaias formadas por 6 mil pessoas sendo a maioria integrada por idosos e crianças. O dia 16 de agosto tornou-se o Dia das Crianças no Paraguai para homenagear aquelas vítimas.
Mas, a despeito da insana Batalha de Acosta-Ñu (ou Batalha de Campo Grande), considerada o “símbolo mais terrível da crueldade” da Guerra do Paraguai, as lutas seguem parecendo não ter um final próximo. Todavia, no dia primeiro de março de 1870 a Guerra Grande dos paraguaios teve seu fim quando o líder paraguaio foi morto na Batalha de Cerro Corá.
Certamente, muito há de se relatar e estudar sobre a Grande Guerra da América do Sul. E tudo que se escrever será sempre impreciso e merecedor de novas pesquisas e reavaliações haja vista as enormes complexidades envolvidas.
Neste texto recorda-se, em particular, muito brevemente, alguns aspectos notáveis ocorridos naquele sangrento conflito dando atenção especial para a Arma de Engenharia do Exército Brasileiro que foi determinante para a vitória final dos aliados e que ensinou táticas e estratégias eficientes de guerra para o mundo.
*Carlos Magno Corrêa Dias é professor, pesquisador, conselheiro consultivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) do CNPq, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC) do CNPq, personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep).