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31/05/2022

Dos faraós às tecnologias atuais: engenharia de agrimensura hoje

Sistemas integrados de satélites, drones e softwares agilizam captação e processamento de dados.

 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

 

FaraósA agrimensura é uma das ciências mais antigas da humanidade, vem desde à época dos faraós no Egito, onde era utilizada para medir e parcelar as áreas agrícolas às margens do rio Nilo. A palavra vem do latim: agri de agrícola/terra e mensor, de medir/medidor. O curso superior de Engenharia de Agrimensura é relativamente novo no País. Foi instituído pela Lei nº 3.144, de 20 de maio de 1957, no governo de Juscelino Kubitscheck e regulamentada pelo decreto nº 53.943, de junho de 1964, que confere, em seu art. 3º, a seu concluinte o título de Engenheiro Agrimensor. Atualmente, segundo estatísticas do sistema da categoria (Confea-Creas), o Brasil tem 5.512 engenheiros agrimensores: 572 mulheres e 4.940, homens.

 

O profissional está presente nos mais diversos segmentos e pode atuar tanto nas cidades como no campo: em obras de infraestrutura, cadastros técnicos multifinalitários, batimetria, levantamentos topográficos e geodésicos, sensoriamento remoto, sistemas de informação geográfica, nas construções de pontes e estradas, em projetos ambientais, georreferenciamento de imóveis urbanos e rurais. Outro segmento de atuação é o que se chama de “agrimensura legal”, quando o engenheiro agrimensor realiza perícias em processos judiciais no que tange a avaliações de imóveis, desapropriações e inventários, atuando como perito (profissional de confiança do juiz) ou assistente técnico (profissional de confiança das partes).

 

A profissão está presente em órgãos públicos federais, estaduais e municipais, bem como em equipes multidisciplinares e também como profissionais liberais, dando consultoria, fiscalizando e executando obras e serviços.

 

Amanda Aparecida do Norte JpegEngenheira Amanda Pereira Silva em trabalho de campo, em Aparecida do Norte (SP), em 2019. Crédito: Acervo pessoal.Para conhecer mais sobre um dos saberes mais antigos da humanidade e como ele se mantém atual na era das tecnologias da informação, entrevistamos a engenheira agrimensora Amanda Pereira Silva, mineira de Ouro Branco, mas criada na também mineira Timóteo. Aos 30 anos, ela se mostra apaixonada e entusiasta da profissão, “gosto realmente do que faço”. Como ela mesma assinala, a profissão pode ser antiga, mas a sua atuação acompanha a evolução da sociedade em termos econômicos, sociais e tecnológicos. “É uma profissão que une saber milenar e contemporâneo”, observa.

 

Formada em 2018 na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), atualmente, Silva está na área de Topografia Civil pela Cepemar, no projeto Parque Solar Sol do Cerrado, da Vale. E ainda sobra tempo para se aperfeiçoar na profissão, fazendo pós-graduação em Geoprocessamento e Georreferenciamento pela Faculdade Unica, de Minas Gerais.

 

Dia 4 de junho é dedicado a homenagear os profissionais da engenharia de agrimensura, que é uma das mais antigas artes praticadas pela civilização humana. Como essa atividade tão antiga se moderniza até os tempos contemporâneos?

Desde a antiguidade sempre tivemos a necessidade de ter um conhecimento espacial, inicialmente por sobrevivência, quando se fazia necessário saber onde encontraríamos alimentos, água doce e locais de perigo. Com a civilização, veio a adaptação para conectar povos, determinar territórios e recursos. A partir dali viu-se que o conhecimento espacial, os mapas, poderiam servir para muitas outras finalidades, passando a serem utilizados em estratégias de guerras, comércios e transportação de canais fluviais por exemplo.

 

Hoje, temos a agrimensura juntamente com a cartografia, uma ferramenta interdisciplinar, que vai além de um simples levantamento para determinar medidas de um imóvel, mas também para subsidiar pesquisas, estudos e tomadas de decisão, estudos geopolíticos, monitoramento de flora e fauna, estudos climáticos e o auxílio nas construções de grandes galerias como pontes, túneis e outros.  

 

A modernização que a era tecnológica nos trouxe permitiu sair de um levantamento onde tínhamos medidas obtidas por correntes de forma bem robustas, para levantamentos na qual obtemos medidas por satélites em tempo real com alta precisão.

 

Nesse sentido, engenheira, você pode nos falar quais as tecnologias utilizadas atualmente na profissão?
Hoje, temos diversas tecnologias empregadas no ramo da agrimensura que vão desde a uma simples estação total ao GNSS [sigla, em inglês, para Global Navigation Satellite System; em português, Sistema Global de Navegação por Satélite], mais popularmente conhecido como GPS [Global Positioning System; em português, Sistema de Posicionamento Global]. Com esses sistemas, obtemos dados captados por diversos satélites com alta precisão.

 

Novas tecnologias vêm surgindo e ganhando força, como, por exemplo, o emprego do sistema RPA [sigla em inglês para Robotic Process Automation; em português, Automação Robótica de Processos] e do Vant [Veículo Aéreo Não Tripulado, mais conhecido como drones], que são os veículos aéreos não tripulados. O uso dos drones permite a obtenção de maiores produtos obtidos por meio dos seus levantamentos. Tudo isso com um menor tempo de campo e processamento das informações e dos dados cada vez mais rápido.

 

Amanda drone 2 Jpeg"Tecnologias, como a do drone, nos auxiliam muito no trabalho da agrimensura", diz Silva. Crédito: Acervo pessoal.Nesse sentido, qual a importância deste profissional para o mundo da era das tecnologias da informação?

Costumamos falar muito da interação da agrimensura entre as áreas da engenharia, e esquecemos de compartilhar soluções para outras áreas, como, por exemplo, as áreas de saúde, mapear áreas de epidemias atreladas a um banco de dados com outras informações, como idade, clima, vegetação. Um trabalho que pode proporcionar um rico material ambiental e para a humanidade que pode criar uma dinâmica mais rápida e assertiva para alguns tipos de doenças, como a pandemia da Covid-19, para definições de ações e decisões para agir nos pontos críticos identificados, e até atuar em áreas de forma preventiva. 

 

Outro exemplo bem fácil de visualizar sua importância é no monitoramento constante de barragens, permitindo prever anormalidades e evitar desastres como a de Mariana, em Minas Gerais [no subdistrito de Bento Rodrigues, rompimento de barragem, em de 5 de novembro de 2015, que causou a morte de 19 pessoas, destruição ambiental e contaminação do rio e do solo].

 

Quando se tem um estudo do território se consegue prever os possíveis locais que serão atingidos, e traçar um plano de ação para agir de forma a evitar perda de vidas, retirando as pessoas de locais condenados para lugares mais seguros. 

 

Além disso, as novas tecnologias dos GPS de precisão e softwares de geoprocessamentos deram mais relevância à profissão, porque, no mundo das informações geográficas, contribuímos com a geração de mapas digitais e dados que são usados diariamente pelas pessoas em suas diversas atividades e dispositivos, desde o celular, computador até o carro.

 

Das demarcações de terras em áreas urbanas e rurais, na urbanização e no desenvolvimento industrial, os profissionais da área desenvolvem uma série de atividades que dão suporte a boa parte da intervenção humana na natureza. Você poderia descrever essas atividades?

Tanto nos setores urbano, rural e industrial, somos responsáveis por mapear as áreas de preservação ambiental (APPs), áreas de reserva legal, recursos hídricos como córregos, lagoas, rios e nascentes. Este mapeamento serve tanto para os donos dos imóveis que passam a ter uma responsabilidade de cuidar e preservar o local, quanto para uma ordenação urbana.

 

Além disso, o mapeamento dessas áreas pode servir para melhorar um arranjo das cidades, localizando pontos que precisam de uma intervenção sanitária. Localizar e mapear esgoto a céu aberto, por exemplo, para agir no sentido de minimizar impactos ambientais e, consequentemente, melhorar a saúde pública. Aliás, um dos objetivos do milênio [ODM] é o de qualidade de vida e respeito ao meio ambiente. Tudo isso de forma interdisciplinar, com ajuda e auxílio de outro profissionais, com engenheiros ambientais, sanitários, civis trabalhando em prol do desenvolvimento sustentável. 

 

São oito os Objetivos do Milênio (ODM), da Organização das Nações Unidas (ONU), que abrangem ações específicas de combate à fome e à pobreza, associadas à implementação de políticas de saúde, saneamento, educação, habitação, promoção da igualdade de gênero e meio ambiente, além de medidas para o estabelecimento de uma parceria global para o desenvolvimento sustentável. 

O que é ser engenheira agrimensora para você?

Como diz uma canção de Sandy & Junior [Quando você passa], é um misto de prazer e agonia. Brincadeira à parte, sempre fui muito ligada em querer ajudar o próximo. Até por ser escoteira, tenho comigo a filosofia de “deixe o mundo melhor do que você encontrou”. De certa forma, encontrei esse valor na agrimensura e na cartografia. Sinto que posso, de fato, contribuir com a sociedade. Como citei os objetivos do milênio da ONU, um deles é o da igualdade entre sexo e da valorização da mulher. Este é um desafio que, no início da minha carreira, senti bem na pele. Mas, aos poucos, fui conquistando meu espaço e quero, com o meu exemplo, ser referência para que outras mulheres possam seguir este caminho e que não desistam nunca de seus sonhos e objetivos. Mulher pode e deve estar onde quiser.

 

Amanda 1 jpegEngenheira Amanda em mais um trabalho de campo, em dezembro de 2021. Crédito: Acervo pessoal.

 

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