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29/06/2022

Profissional presente da exploração à distribuição de hidrocarbonetos

O protagonismo da engenharia de petróleo na matriz energética de uma sociedade. 

 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

 

Para celebrar o Dia da Engenharia de Petróleo, neste 29 de junho, a área Oportunidades na Engenharia entrevistou Marcos Paulo Freesz com 21 anos de profissão. Atualmente, de acordo com estatísticas dos conselhos federal e regionais da categoria (Sistema Confea-Creas), o Brasil tem 2.714 profissionais registrados no ofício.

 

Marcos Freesz 600Engenheiro Marcos Paulo Freesz. Crédito: Acervo pessoal.

 

O engenheiro Freesz está no setor de petróleo e gás desde 2001, ano em que se graduou pela Universidade Estadual Darcy Ribeiro (Uenf), instituição de ensino pioneira, no País, a ter um curso de graduação na área. Até a criação do curso Engenharia de Exploração de Petróleo e Gás da Uenf, em 1994, havia somente cursos de especialização, em nível de mestrado e doutorado.

 

A engenharia de petróleo é o ramo que trata de todos os aspectos relacionados à produção, transporte, processamento e distribuição de hidrocarbonetos, que podem ser óleo ou gás natural.

 

O nosso entrevistado estagiou na Petrobrás, em Macaé (RJ), e na PetroRecôncavo, em Mata de São João (BA), sendo efetivado pela última como engenheiro de operações. “Uma chance única de poder trabalhar com projetos de otimização de produção, operações com sonda de produção terrestre, além de trabalhos relacionados a monitoramento da produção de óleo e gás”, lembra Freesz.

 

Após um período de 14 meses, o jovem engenheiro recebeu nova oferta de trabalho na Baker Hughes, na linha de produtos de brocas de perfuração. Desde então, diz, orgulhoso, “faço parte deste time há completos dezenove anos, e passei por várias funções”. Ele faz questão de relacioná-las: “Engenheiro de aplicações, gerente de engenharia, de projetos e de segurança e meio ambiente. Participei dos primeiros projetos de otimização de perfuração dos poços pré-sal na Bacia de Santos, em que a empresa se destacou pela maneira de enxergar os desafios e propor soluções.”

 

Na mesma empresa, o profissional, desde janeiro de 2020, trabalha na área comercial com abrangência global com foco nos principais projetos das companhias operadoras. “O objetivo é sempre propor as melhores soluções, alinhadas com a melhor estratégia técnica e econômica. São importantes resultados obtidos até a presente data”, explica.

 

Aos 47 anos de idade, Marcos Paulo Freesz, mineiro de Juiz de Fora e hoje residente na cidade do Rio de Janeiro (RJ), reafirma ter escolhido a profissão certa e dá uma aula sobre a engenharia de petróleo na complexidade do mundo atual – emergências climáticas, desenvolvimento sustentável, utilização de fontes renováveis e limpas na matriz energética e a finitude dos combustíveis fósseis, como o petróleo – e também na perspectiva das transformações permitidas com o progresso técnico e tecnológico.

 

Como a engenharia de petróleo acompanha a evolução técnica e tecnológica da sociedade?
Podemos dizer que a evolução tecnológica vem sendo aplicada cada vez mais e com maior intensidade. Acredito que possamos comparar a evolução da indústria do petróleo com aquela companhia de telefones que faz seus lançamentos anuais. Em alguns setores, como brocas de perfuração, as companhias estão cada vez mais perfurando poço com menor quantidade de brocas. Isso se deve ao fato da evolução tecnológica para o processo de manufatura de cortadores de diamante sintético, por exemplo. É muito importante que a estrutura cortante tenha uma durabilidade ótima e, para isso, reduzir as cargas e os esforços ao nível dos cortadores é de suma importância. Geometrias e processos de manufatura estão sendo desafiados todos os dias.

 

É exatamente o que acontece na otimização de perfuração dos poços de pré-sal. Uma vez posto o desafio, é possível trabalhar os produtos de forma a reduzir o tempo de perfuração em cada fase do poço, fazendo com elas ganhem um tratamento especial. Quanto mais cedo um poço é colocado em produção, mais cedo se recupera o investimento.

 

Como nas outras engenharias, a Engenharia de Petróleo também dispõe de softwares para auxiliar o seu trabalho?
Sim, são utilizados diversos softwares. As empresas que os desenvolvem colocam seus nomes comerciais, mas falamos de alguns deles aqui que abordam o que foi falado antes. Vou citar algumas delas:

 

- Software para visualização sísmica: geralmente baseado em método de inversão em que é possível, através da resposta da velocidade acústica, visualizar o horizonte litológico com seus diversos refletores;

 

- Software para construção de poço: permite posicionar a cabeça do poço e o alvo, facilitando o trabalho e simulando a sua trajetória;

 

- Software de perfuração: geralmente alinha a hidráulica, torque a arraste da coluna de perfuração dado uma trajetória e os componentes do BHA (bottom hole assembly). Importante para entender para onde vamos e como vamos;

 

- Software para analisar dados de perfuração: através de registros gerados na construção do poço, é possível capturar os dados e posicioná-los de forma ordenada para que possamos retroalimentar o modelo e perfurar um poço futuro de maneira mais eficiente;

 

-Softwares de produção: geralmente focados em fornecer resultados importantes no que diz respeito a previsão de produção, dada as características do poço como profundidades, pressões, tipo de fluido, razão óleo e gás, quantidade de água presente no fluido; e

 

- Software de reservatório: através de simulações pode prever a melhor metodologia para escoamento de óleo sem causar danos indesejáveis ao reservatório e evitar que a água presente em subsuperfície chegue rápido aos tanques.

 

É importante dizer que os softwares estão ligados a cada disciplina da engenharia de petróleo. Existe um movimento bem grande para interligá-los, no que fizer sentido. As plataformas digitais estão cada vez mais presentes e as integrações são cada vez mais comuns.

 

As atividades são divididas geralmente em três grandes áreas, upstream, midstream e downstream, o que são elas?
De forma geral, são os três segmentos que fazem parte do processo produtivo da cadeia de óleo e gás. O upstream está desde a fase de prospecção, exploração e desenvolvimento do campo de petróleo, bem como da produção e os equipamentos de superfícies. O midstream está relacionado ao processo de armazenamento desta produção e também ao tranporte dos fluidos até a indústria que fará o processamento. O downstream é a fase pela qual o hidrocarboneto é beneficiado nas refinarias e vendido. O óleo é transformado em subprodutos e o gás recebe tratamento de purificação para venda com utilização particular.

 

Quando falamos em engenharia de petróleo pensamos no combustível para o carro, mas existem mais produtos derivados do petróleo.
Exato, e isso vai depender um pouco do foco na graduação ou do interesse do profissional para o ramo que quer e deseja atuar. O principal da atividade é coberto pelos três segmentos abordados na pergunta anterior. Após o processamento do óleo, o profissional pode atuar na área de comercialização e venda de produtos como lubrificantes, combustíveis e gás.

 

Apesar de ser uma fonte não-renovável, a disponibilidade dos recursos provenientes dos hidrocarbonetos faz com que o petróleo ainda tenha uma importante participação na matriz energética mundial. Como o profissional da área se insere nesse debate de um desenvolvimento sustentável?
Os assuntos relacionados às matrizes elétrica e energética dos países vêm ganhando cada vez mais espaço nas discussões sobre a geração da energia. E vai continuar sendo assunto, já que a energia é um importante pilar do processo de transformação. Acredito que é possível dizer que a energia é parte fundamental da evolução pela qual passamos.

Os momentos de mudança são responsáveis por novas tendências e há quem diga que estamos passando por um processo de transição do óleo e carvão para energias renováveis. Já outros dizem que o processo vai durar muito tempo e, neste sentido, podemos inserir o profissional de óleo e gás em um contexto de que para se adaptar é preciso enxergar o todo e utilizar a sua capacidade para continuar o processo evolutivo.

 

Já não são mais as disciplinas tradicionais que devem ser trabalhadas, mas sim outras no que diz respeito à captura e armazenagem de carbono, por exemplo. Menos emissão de carbono na atmosfera pode ser obtido por meio da otimização de tempo de construção de poço, logística otimizada da cadeia produtiva, além de buscar por energias alternativas na tarefa diária.

 

Trabalhar parcerias em busca de soluções é muito importante. Construção de poço de petróleo e de fonte hidrotermal não é diferente. Também há disponível segmentos de monitoramento remoto, como automação da perfuração, serviços para monitorar vazamentos ou fugas como drones e robôs submarinos.

 

O incrível do ser humano é ser capaz de entregar novas soluções e metodologias para resolução de problemas. Os desafios realmente não param.

 

O senhor poderia descrever quem é esse profissional em termos de conhecimentos técnicos da engenharia combinando, por exemplo, com conhecimentos em geologia e mineração?
Claro! O profissional de engenharia de petróleo precisa ser multidisciplinar. É uma combinação de fatores que faz com que possamos entender o todo, os motivos pelos quais escolhemos uma broca de perfuração, por exemplo. Um profissional de perfuração de poço precisa saber a respeito do horizonte litológico [estudo especializado em rochas e suas camadas e aos tempos geológicos em que se formaram], seus desafios e suas peculiaridades. A geofísica do petróleo, ou seja, a maneira com a qual se enxerga e se mapeia a subsuperfície, é de suma importância para que os poços sejam posicionados, já antecipando problemas relacionados a controle estrutural. Evitar falhas geológicas e zonas passíveis de problemas é fundamental para uma construção de poço perfeita.

 

Na engenharia de perfuração de poço é fundamental, por exemplo, saber onde iniciamos e até onde podemos ir com essa perfuração. Em um segundo momento, entender os diversos perfis elétricos para a tomada de decisão fazem de um profissional de engenharia de petróleo mais completo. Os perfis elétricos são registros de fundo de poço, efetuados por ferramenta específica e de acordo com o que se deseja obter da formação litológica [descrição de rochas em afloramento ou amostra de mão, com base em várias características tais como a cor, textura, estrutura, composição mineralógica ou granulometria]. Um perfil acústico, por exemplo, mede o tempo de trânsito de uma onda de som. A correta interpretação vai dizer para o profissional a dureza desta rocha e as estratégias necessárias que devem ser implantadas de modo a vencer o desafio.

 

Além da perfuração, conhecimento mais abrangente na área de produção pode diferenciar o profissional de engenharia de petróleo. É possível otimizar produção de poço ou campo de petróleo através da seleção correta de métodos de elevação como as bombas. Ainda assim, é possível trabalhá-las de modo a se obter uma vazão ótima dadas as condições do poço e das instalações de superfície, por exemplo. Um nível acima é entender esta produção e se ainda assim é possível intervir, que seja proposto trabalhos de estimulação de reservatório como por exemplo limpeza com bombeio de ácido ou fluidos específicos diretamente nos canhoneados do poço.

 

O que o atraiu na profissão? O que mais lhe chamou a atenção e o que ainda lhe faz estar totalmente conectado ao ofício?
O que me atraiu, de verdade, foi ser novidade. Tive a vontade de fazer algo diferente na área de engenharia. Fui aluno de colégio técnico federal e atuei como eletrotécnico por dois anos. Já possuía vontade de seguir adiante nos estudos, mas não queria fazer as cadeiras comuns da época. Com meus pais vivendo no sul do Espírito Santo, foi fácil saber a respeito de notícias vindas do Norte Fluminense.

 

Existe um jargão da indústria que diz que “cada poço é um poço”. Eu acho que é isso que me atrai e continua estimulando. Os dias são diferentes, os projetos, ainda que com o mesmo objetivo, são diferentes e possuem características peculiares. Nem sempre o mesmo produto é solução para todas as aplicações e a parte comercial é igualmente dinâmica. No decorrer do tempo, fazer com que você entregue o trabalho bem feito é praticamente uma certeza de que novos desafios lhe serão dados.

 

Em quais áreas esse profissional está preparado para atuar?
O engenheiro de petróleo pode trabalhar na construção do poço em disciplinas como perfuração, cimentação, wireline (tomada de registros eletrônicos) e fluidos de perfuração. Em completação de poço, o profissional pode propor diversos equipamentos para promover um melhor aproveitamento dele. Ele pode planejar o isolamento de zonas, seleção das mesmas e mais recente, trabalhar com sistemas inteligentes que conseguem produzir das melhores zonas produtoras de maneira seletiva. Na área de elevação e escoamento da produção, o profissional pode trabalhar com os métodos de produção (bombas, válvulas, mandris) além de atuar na área de produtos químicos que otimizam o processo e evitam corrosão em linhas de produção, por exemplo. A depender do foco que ele dá na graduação, o profissional pode trabalhar também com simulação de reservatório, área bastante complexa do curso.

 

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Comentários  
# Engenheiro de PetróleoLEANDRO SOUZA 12-07-2022 13:55
Parabéns, Marcos. Excelente entrevista. O Marcos, além de ser um profissional de referência, é um gestor de pessoas como ninguém. Eu mesmo já trabalhei com ele, sobre a sua supervisão, e sou grato do quanto aprendi com ele. Nome de peso na Indústria de Petróleo.
Responder
# Assistente de Planejamento de LogisticaAlessandra Lustosa 29-06-2022 08:06
O Marcos é um profissional incrível que sabe todo o processo que envolve a área do início ao fim. Participa
ativamente das atividades colaborando com tudo e sem "sufocar" quem está executando as demandas e sempre enaltecendo os pontos fortes de seus pares. Parabéns Marcos! Belíssima entrevista!
Responder
# Segurança do Trabalho - Industrial MecânicoAntonio Luis Rossi N 28-06-2022 10:47
Muito boa a matéria. Que o SEESP realize muitas outras. E parabéns ao colega entrevistado.
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