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13/07/2022

Sustentabilidade ambiental no cultivo de organismos aquáticos

A importância da engenharia aquicultura na produção que preserve o ecossistema marinho.

 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

 

Estefani 4A engenheira de aquicultura Estefani de Jesus Pinto. Crédito: Acervo pessoal.A engenharia de aquicultura é uma área voltada ao cultivo de animais aquícolas — isto é, aquelas espécies que crescem, se reproduzem e vivem nas águas, doces ou salgadas — utilizados na industrial de alimentos. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) antes da crise pandêmica do coronavírus, em 2018, a produção global de pesca e aquicultura (excluindo plantas aquáticas) atingiu um recorde histórico de quase 179 milhões de toneladas. A pesca geral de captura, com 96,4 milhões de toneladas, representou 54% do total, enquanto a aquicultura, com 82,1 milhões de toneladas, representou 46%. E nas últimas décadas, o consumo de peixe cresceu significativamente para uma média de mais de 20 quilos por pessoa.

 

Todavia, a pandemia trouxe preocupação ao setor, ainda conforme a FAO, expressada no relatório de 2021 “O impacto da COVID-19 nos sistemas alimentares da pesca e da aquicultura”. É esperado que os dados relativos à oferta, ao consumo e às receitas comerciais de peixe para 2020 diminuam devido às restrições de contenção, aponta o relatório, enquanto a produção global da aquicultura deverá cair cerca de 1,3%, a primeira queda registrada pelo setor em muitos anos. Para garantir que o setor se recupere rapidamente, a FAO declarou 2022 como o Ano Internacional da Pesca e da Aquicultura Artesanais, na América Latina e no Caribe.

 

Neste 14 de julho é o Dia do Engenheiro de Aquicultura. O Brasil tem 244 profissionais da área com registro ativo junto aos conselhos federal e regionais da categoria (Sistema Confea-Creas). Um deles é o da engenheira Estefani de Jesus Pinto formada, em 2021, pela Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS), campus Laranjeiras do Sul, no Paraná. Recém-formada, já está trabalhando na área e pretende seguir os estudos com especialização em bentologia – refere-se ao estudo dos bentos, comunidade de organismos que vive no substrato de ambientes aquáticos.

 

Nascida na cidade de Itaquaquecetuba, Alto Tietê, região industrial de São Paulo, a jovem engenheira residiu cinco anos, durante o curso, em Laranjeiras do Sul (PR), atualmente reside e trabalha na cidade Cafelândia, também no Paraná. “Passei por outras cidades durante os meus estudos, realizando estágio na área de piscicultura. Ao longo do cursos conheceu outras regiões com produção aquícola, "a cada cidade, e trabalho me sinto ainda mais ligada e recompensada pela profissão que escolhi”, diz, entusiasmada.

 

Os engenheiros de aquicultura atuam no melhoramento genético com diferentes espécies, para que, desde o início dos ciclos reprodutivo do cultivo, tenham as melhores variedades genéticas com características específicas para um bom desempenho de crescimento do organismo até o processo de abatimento e/ou repasse para o mercado. 

 

Os profissionais ainda são responsáveis por planejar projetos de construções e instalações mais rentáveis e com foco em sustentabilidade ambiental; gerenciar a utilização de recursos hídricos para o abastecimento das instalações; produzir avaliações climatológicas; promover inovações tecnológicas que facilitam os processos de manejo em estruturas inseridas em regiões naturais – como, continentais e costeiras, rios, lagoas, alto-mar etc.

 

Todas as ações do engenheiro de aquicultura, realça Estefani, visam sempre menor impacto ambiental, o que envolve gerar menos resíduos poluentes na água, reduzir o excesso de matéria orgânica para não poluir os efluentes, e aumentar a biodiversidade aquática no meio ambiente.

 

Estefani se diz realizada e motivada a atuar na profissão com o conhecimento adquirido e desenvolvido ao longo da graduação de Engenharia de Aquicultura na UFFS. O profissional formado na instituição, ressalta ela, tem uma preparação de excelência para atuar no mercado de trabalho ou prosseguir no meio acadêmico. Para tanto, descreve ela, “vamos utilizar ferramentas conceituais, metodológicas, técnicas e científicas da área de Aquicultura para ampliação de tecnologias nas técnicas aplicáveis ao cultivo de organismos aquáticos, visando à produção eficiente de alimentos e derivados de origem aquática, sempre a serviço do desenvolvimento regional integrado”.

 

Trabalhar com a produção animal aliada à responsabilidade e ao respeito ambientais, afirma a engenheira, é o que mais lhe atraiu na profissão. “Trabalho com um tripé fundamental para as nossas vidas: o alimento, a água e o meio ambiente”, exalta.

 

Estefani 1 editadaA engenheira em estágio realizado durante a graduação. Crédito: Acervo pessoal.

 

Os primeiros passos de Estefani na área se deram já nos estágios obrigatórios realizados em fazendas de piscicultura Panamá, em Paulo Lopes (SC), com a reprodução de alevinos, peixes nativos, e na Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, com a produção de algas como fonte de alimento. “Assim que saí da universidade, enviei currículos para diversas empresas do ramo, e consegui um emprego na área, com um mês de formada”, lembra, orgulhosa. Ela trabalha na mesma empresa até o presente momento atuando como extensionista na assistência técnica.

 

Extensionista
É o profissional que acolhe as dúvidas e dificuldades do pequeno produtor.
Com dedicação e conhecimento, o extensionista auxilia o produtor familiar a superar
limitações de recursos e estrutura, facilitando o acesso ao crédito, promovendo
capacitação e garantindo a assistência técnica necessária.

Para ela, a profissão que abraçou passa, necessariamente, pela água, “que é o nosso bem maior. Sem ela, não teremos a produção de nenhum alimento para o consumo humano, como os peixes de água doce ou salgada”, alerta. Por isso, frisa: “O meio ambiente é a nossa fonte de trabalho. Precisamos trabalhar com sistema de recirculação [RAS] fechada, que é o método de produção onde a água do sistema de criação é continuamente tratada e reutilizada. A utilização do modelo permite uma produção com o reuso total ou parcial da água, diminuindo drasticamente a quantidade de água utilizada em um ciclo produtivo.”

 

Alevinos
Os alevinos são importantes em aquariofilia e em piscicultura, havendo estabelecimentos
que os produzem em grandes quantidades para venda aos aquariófilos ou piscicultores.
Os alevinos necessitam de uma alimentação rica em nutrientes e em gordura.

Outro ponto importante na atuação responsável do engenheiro de aquicultura, acrescenta Estefani, é a recuperação de nascentes, “serei repetitiva, mas sem água não conseguimos sobreviver e produzir”.

 

Piscicultura
É a produção de peixes em ambientes controla- dos. É uma atividade aquícola que vem
crescendo rapidamente no Brasil. É desenvolvida em praticamente todas as regiões do País,
em diversos sistemas de criação, como viveiros escavados, açudes e tanques-rede.

A profissão também tem se valido de inovações tecnológicas para garantir uma gestão dos recursos disponíveis de forma mais correta e sem qualquer tipo de desperdício ou erro. “A tecnologia tem agregado grandes valores ao meio aquícola. Utilizamos ferramentas tecnológicas – aplicativos, GPS [Sistema de Posicionamento Global – sistema de navegação por satélite], como as de informação (TI), para fazer ampliações de obras, monitoramento do crescimento dos peixes, balanceamento de rações etc.”, explica.

 

Os aplicativos, acrescenta ela, são softwares desenvolvidos especificamente para a necessidade produtiva de cada empresa com as funções de acompanhar o crescimento diário dos peixes. “O dispositivo nos fornece informações sobre esse desenvolvimento em termos de alimentação, peso específico para saber quando o peixe estará apto para o abate”, diz.

 

Outra tecnologia utilizada é a sonda de multiparâmetro de qualidade de água. “A sonda mede o oxigênio dissolvido na água para saber como melhor utilizar os equipamentos de aeradores, trazendo economia no consumo de energia aos piscicultores”, esclarece.

 

Aquicultura sustentável
A aquicultura utiliza recursos naturais, manufaturados e humanos – terra, água, energia, ração, fertilizantes, equipamentos, mão de obra etc. – que devem ser manuseados de forma racional para que a atividade seja perene e lucrativa. Esta é a concepção da “Aquicultura Sustentável”, explica Estefani, que alia a reutilização de toda a água, para ter a menor reposição possível, tornando as propriedades mais rentáveis e produzindo mais com menos espaço. “Estamos falando em ecossistema sustentável para toda região em que essa produção está inserida nos diversos municípios brasileiros”, aponta.

 

A produção aquícola trabalha com densidades de organismo aquáticos em sistemas controláveis para ser menos impactados pelas intempéries do tempo. “Para tornar uma produção lucrativa”, explica Estefani, “são feitas análises de rendimentos de filé, com uma conversão alimentar de 1/1, buscando sempre melhoria nos insumos fornecidos para os produtores, ração, alevinos com melhoramento genético, empregando sempre tecnologia nos maquinários utilizados em toda cadeia produtiva, como os tratadores automáticos e o aeradores”.

 

Arraçoamento
A frequência de arraçoamento, ou seja, o número diário de alimentações necessária
para o bom desenvolvimento do peixe varia conforme a espécie, idade, qualidade da água e temperatura.

Estefani 3 editadaEngenheira destaca a importância da profissão para que os recursos naturais não sejam destruídos, ao mesmo tempo que sejam utilizados para o bem da sociedade. Crédito: Acervo pessoal.As principais práticas que reduzem o impacto ambiental, informa Estefani, envolvem monitoramento da qualidade de água, um bom arraçoamento [ato de dar ração], manejo correto dos equipamentos como aeradores, painéis solares etc.

 

Aerador na piscicultura
Equipamento de extrema importância para melhorar a produtividade, colocado
na superfície da água dos tanques, cuja finalidade é realizar a incorporação de oxigênio à água.

Mercado de peixes da piscicultura no Brasil
Segundo pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), de 2020, a piscicultura brasileira vem se desenvolvendo de forma robusta, com significativos avanços em termos de aumento da produção e profissionalização do setor.

 

A pesquisa foi realizada em supermercados de Brasília (DF), Curitiba (PR), Manaus (AM), Recife (PE) e São Paulo (SP) e apresenta resultados importantes sobre hábitos de consumo e percepção dos consumidores acerca das principais espécies. O estudo identificou aspectos importantes, como a preferência dos consumidores pelo produto fresco e pelo filé e cortes. Outro resultado é a consolidação da tilápia como um peixe bem conhecido pelos consumidores de todas as regiões do País, sendo o principal produto da piscicultura nacional.

 

Por outro lado, os resultados demonstram a necessidade de ações visando a expandir o consumo de espécies nativas como tambaqui e pirarucu fora das regiões onde estas espécies já são bem consumidas.

 

Você sabia
Segundo a FAO, a pesca e a aquicultura (artesanal e industrial) geram mais de 2,8 milhões de empregos diretos e três vezes mais empregos indiretos na região: de todos eles, quase 90% estão vinculados à pesca artesanal. Pelo menos 16% dos empregos associados à pesca extrativa são ocupados por mulheres, segundo dados da FAO.

A pesca artesanal fornece até 85% do pescado consumido em alguns países da região e é a base da segurança alimentar de centenas de comunidades, muitas delas indígenas, que vivem ao longo das costas e bacias hidrográficas.

 

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