A conexão entre as áreas do conhecimento tem-se mostrado uma tendência para a solução de problemas complexos da sociedade.
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
Com a pandemia da Covid-19, as instituições de ensino superior tiveram de aprimorar os recursos tecnológicos e humanos para facilitar o aprendizado e aperfeiçoar as didáticas e as metodologias de ensino, para complementar a formação técnica dos profissionais com atividades multidisciplinares e mais sensíveis aos problemas da sociedade. Nesse contexto, a educação do futuro, na verdade, já chegou, e é preciso estar por dentro dela, para formar profissionais mais atuantes e diferenciados no mercado de trabalho.
A avaliação é do professor José Carlos de Souza Júnior, reitor do Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), em entrevista à área Oportunidades na Engenharia do SEESP. Para ele, modernizar a educação, mesmo antes de surgir a pandemia, já era um imperativo. ”Na Mauá evitamos a dicotomia entre os extremos Generalista e Especialista, podendo nosso egresso, por meio de escolhas durante sua jornada dentro da instituição, optar por diferentes posições dentro do espectro de formação, enfatizando especialmente a criação de um mindset nexialista. Ou seja, formando um profissional com a competência de estabelecer as conexões de valor tão necessárias para a resolução dos problemas complexos da sociedade atual”, explica o reitor.
Especificamente sobre o nexialismo em relação ao profissional da engenharia, o reitor observa que “quando pensamos no engenheiro nexialista, temos um profissional que entende a importância de se conectar com as demais áreas da engenharia e toma a iniciativa de fazê-lo”. Ele exemplifica citando o caso da mobilidade: “Muitas são as engenharias envolvidas em um desafio complexo como a mobilidade. Observamos que o problema transcende a própria engenharia, abarcando áreas como arquitetura e urbanismo, comportamento humano, saúde e bem-estar.”
Para ter essa abrangência e coerência, prossegue o reitor do IMT, o profissional, desde a sua formação, precisa compreender a importância de uma visão sistêmica, “seja ele generalista ou altamente especializado, para entender e aplicar o poder das conexões como princípio para a formação da teia de conhecimentos de onde emergem as soluções para os problemas complexos”.
A expressão nexialista, inclusive, tem como origem a palavra “nexo”, que significa, segundo os dicionários, junção entre duas ou mais coisas; ligação, vínculo, união ou ligação entre situações, acontecimentos ou ideias; com coerência.
Ambiente acadêmico: valor agregado
Ao longo dos últimos dois anos, observa Souza Júnior, as instituições de ensino também perceberam que as aulas presenciais não necessariamente representam qualidade do aprendizado. “O aluno que se desloca até a instituição de ensino para assistir, muitas vezes de forma passiva, a um conteúdo que poderia ser absorvido por encontros remotos, acaba não aproveitando o que a presença oferece de mais rico: um ecossistema de diferentes possibilidades de conexão e vivência”, analisa.
Nesse sentido, a conexão entre os cursos e com os colegas de outras áreas é tão importante no ambiente acadêmico. “Só vale a pena o aluno ir até o campus, quando há valor agregado, ou seja, para aproveitar a sua ida à instituição para usufruir dos laboratórios, vivenciar a cultura de conexão do local, fomentar relacionamentos e trocar conhecimentos com os colegas de outras áreas”, reforça o professor e reitor.
Essential skills e mindfullness
A educação moderna procura equilibrar as atividades fora da sala de aula e da grade curricular do curso. “Aspectos relacionados com as competências socioemocionais (essential skills) não podem ser relevados pela instituição de ensino e devem estar na ordem do dia de uma educação que se pretende moderna”, acrescenta.
O reitor da Mauá relata dois casos, entre muitos, em que a Mauá, por meio do programa de Projetos e Atividades Especiais (PAE), auxilia a formação completa do profissional. No primeiro caso, estudantes com alto grau de introspecção podem optar por atividades – por exemplo, técnicas de apresentação de teatro – que os auxiliem na exposição mais clara e eficiente de suas ideias e o relacionamento interpessoal.
Um segundo caso, relata o reitor, refere-se à utilização de ferramentas de concentração – por exemplo, a prática de yoga – por algumas atividades para auxiliar os estudantes em obter uma boa concentração [mindfullness], uma dificuldade bastante presente numa geração acostumada a tratar simultaneamente diferentes demandas. “Muitas vezes reflete-se na dificuldade de concentração para a realização de uma avaliação sob a forma de prova.”
Dualidade entre teoria e prática
Sobre o futuro da educação em engenharia, o reitor enfatiza o desafio de se quebrar os muros historicamente erguidos: "É comum termos blocos, ou mesmo prédios inteiros, isolados para os diferentes cursos de engenharia. Quando olhamos dentro dos cursos esta segmentação se repete muitas vezes em disciplinas e séries estanques. Laboratórios vinculados a um único curso, série, disciplina ou mesmo professor.”
Uma dualidade, segundo Souza Júnior, entre teoria e prática. Para ele, “a insistência dos cursos em isolar o profissional, o cidadão e o indivíduo – como se cada um estivesse sobre um dos eixos sistema cartesiano tridimensional e não houvesse projeção sobre o outro – focando quase todas as energias na formação da figura do profissional e se eximindo da formação cidadã e de autoconhecimento”.
A educação do futuro, acredita o reitor do IMT, tem como base o novo modo de ensinar, transmitir e construir conhecimentos. “Seu foco está na qualidade das experiências vivenciadas pelos estudantes no campus, fora do campus e na sua atuação no mercado de trabalho. A proposta é oferecer ao aluno recursos que tornem as aulas mais instigantes e deem a ele maior autonomia com relação ao aprendizado. Isso, em consequência, proporcionará uma atuação diferenciada na solução de problemas, especialmente os mais complexos. Creio que ainda há muito o que se fazer, mas estamos empenhados em promover uma educação moderna, inclusiva e participativa”, conclui o reitor.
IMT
O Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) promove o ensino científico-tecnológico há 60 anos, visando formar profissionais altamente qualificados. Com dois campi, localizados em São Paulo e São Caetano do Sul, o IMT conta com um Centro Universitário e um Centro de Pesquisas. O Centro Universitário oferece cursos de graduação em Administração, Design e Engenharia, e recentemente abriu dois cursos: TI – Ciência da Computação e Sistemas de Informação. Na pós-graduação, são oferecidos cursos de atualização, aperfeiçoamento e especialização (MBA), nas áreas de Gestão, Design, Engenharia e Tecnologia da Informação. O Centro de Pesquisas desenvolve tecnologias para atender às necessidades da indústria e atua como um importante elemento de ligação entre as empresas e a academia.