Jéssica Silva – Comunicação SEESP
Em celebração ao Dia do Engenheiro de Alimentos, 16 de outubro, o SEESP entrevista a gerente de qualidade da Marilan, Laura Emilia Carlos
O Brasil registra grandes números em posições opostas quando o assunto é alimentação. No que diz respeito à produção, está no topo da lista. Em agosto último as vendas externas do agronegócio chegaram ao recorde de US$ 14,81 bilhões. Na indústria de transformação também se faz presente; segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), é o segundo maior exportador de alimentos industrializados do mundo em volume, comercializando para 190 países. Contudo, quando se trata de consumo e distribuição, a situação é preocupante. O País voltou ao mapa da fome global, contabilizando 61 milhões de pessoas com dificuldades para se alimentar, mas joga fora todos os anos cerca de 27 milhões de toneladas de comida, conforme levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU).
É esse desafio que faz do Engenheiro de Alimentos, celebrado neste dia 16 de outubro, um profissional indispensável. Estabelecida pela Resolução nº 218, de 29 de junho de 1973, a modalidade inclui entre suas funções acondicionamento, preservação, distribuição, transporte e abastecimento de produtos alimentares; seus serviços afins e correlatos, conforme o Mapa da Profissão elaborado pela área de Oportunidades na Engenharia do SEESP.
Atualmente no Brasil, a Engenharia de Alimentos é comandada pelas mulheres: de acordo com o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), o País tem 4.312 profissionais registradas, enquanto os homens são 1.712. No Estado de São Paulo, são 1.622 e 709, respectivamente. Uma delas é Laura Emilia Carlos, há 1 ano e meio gerente de qualidade da Marilan, segunda maior fabricante de biscoitos do Brasil, e graduada em 2011 pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.
A engenheira, apaixonada pela profissão, vislumbra um mercado de trabalho promissor diante dos desafios a serem vencidos. “Nenhuma empresa quer gerar perdas, isso é prejuízo na certa, para a economia do País, para a empresa, para o planeta. O engenheiro de alimentos tem muito a contribuir e hoje é um dos nossos principais pilares na gestão trazer ações para a redução de perdas”.
Até por isso, afirma ela, “é um mercado que só cresce, pois demanda tecnologia, eficácia e a visão ampla e sistêmica da cadeira produtiva de alimentos que só um engenheiro de alimentos tem”. Nesta entrevista ao SEESP, ela fala ainda sobre carreira, a presença das mulheres na engenharia e dá dicas aos estudantes interessados na área. Confira!
Como você chegou à Engenharia de Alimentos?
Durante o ensino médio, eu sempre quis fazer algo relacionamento a alimentos, pensava em nutrição, então um professor do segundo ano comentou ‘já pensou em fazer engenharia de alimentos? Você se dá bem com matemática’. Fui pesquisar sobre e achei mais amplo e interessante. Prestei vestibular e passei na Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná, e foi quando ingressei na faculdade, em 2007. Foi cursando que entendi melhor o que era e fui me apaixonando. Hoje não tenho dúvidas de que foi a melhor escolha que eu fiz. Foram cinco anos, período integral, e comecei a fazer iniciação científica. No último ano de faculdade, 2011, consegui um estágio na empresa Bunge, também em Ponta Grossa. Fiquei por oito anos, comecei como estagiária, passei para assistente de processos industriais e analista de qualidade. Tive a oportunidade de ser coordenadora na unidade de Santa Luzia (MG), onde fiquei por dois anos, depois fui transferida para a unidade no Porto de Santos (SP), em que fiquei mais dois anos. Então recebi a proposta através de uma headhunter para trabalhar na Marilan. Eu gostei, achei que poderia agregar muito à minha carreira profissional, quis experimentar um outro ramo do setor.
Qual o escopo do seu trabalho atualmente?
Estou como gerente de qualidade na Marilan, é uma rotina pesada porque indústria alimentícia exige bastante da gente, mas é muito gratificante. Hoje eu atendo não só a unidade de Marília (SP) da empresa, como as outras unidades produtivas em São Paulo e no Nordeste. Sou responsável pelo sistema de gestão de qualidade e segurança de alimentos, envolve gestão de pessoas, tenho uma equipe em cada unidade, acompanho as atividades dos coordenadores, colaboradores, ocorrências que surgem no dia a dia. Fico à frente de todas as certificações, hoje duas unidades já são certificadas na norma FSSC 22000 (do sistema de segurança dos alimentos). Todos os requisitos, treinamento do pessoal, capacitação do time, ficam comigo, assim como atendimento e contato com os clientes. Também respondo reclamações de consumidores e clientes, com plano de ação para trazer melhorias referentes a qualidade e a segurança de alimentos na empresa.
Como você vê o mercado de trabalho para engenheiros de alimentos atualmente?
Vejo muito promissor, alimento é condição básica. Você deixa de comprar um carro, roupas, mas não deixa de se alimentar. É um mercado que só cresce, pois demanda tecnologia, eficácia, e a visão ampla e sistêmica da cadeira produtiva de alimentos que só um engenheiro de alimentos tem. É uma área promissora, vem me trazendo muitos frutos a minha vida pessoal e profissional e hoje sou muito feliz com a profissão que tenho e incentivo sempre, tenho no meu time duas colaboradoras que estão cursando engenharia de alimentos e eu fico muito feliz.
Numa profissão ainda majoritariamente masculina, a Engenharia de Alimentos tem ampla maioria feminina. E é um mercado comandado pelas mulheres?
Na minha turma [da graduação] éramos em 36 mulheres e quatro homens. A gente ainda escuta brincadeiras como ‘você vai ser cozinheira’. Muitas pessoas confundem. Ainda tem aquele conceito ultrapassado de associar mulher à cozinha. Mas é falta de entendimento. Confesso que vejo muito preconceito ainda na área e fico muito feliz de as mulheres estarem dominando o mercado.
Num cenário tão contraditório, em que muitos países como o Brasil estão no mapa da fome ao mesmo tempo que vemos a produção de alimentos acima do necessário e com alto índice de desperdícios, qual é a importância da Engenharia de Alimentos?
É muito importante em relação a reaproveitamento. Nesse momento, eu estou com um projeto de redução de perdas em uma das fábricas. Nenhuma empresa quer gerar perdas, isso é prejuízo na certa, para a economia do País, para a empresa, para o planeta. O engenheiro de alimentos tem muito a contribuir e hoje é um dos nossos principais pilares na gestão trazer ações para a redução de perdas.
Qual dica você daria aos estudantes que cogitam se lançar no mundo da Engenharia de Alimentos?
Eu sou apaixonada pelo curso e pela minha trajetória. A dica que dou é aproveite bem as tecnologias, você usa 100% do que aprende desde as aulas de cálculos à mecânica dos fluídos. A gente usa o que vê na vida acadêmica na profissional. É uma área muito promissora. Se você tem essa vontade de buscar sempre aprendizado, é uma área em que não falta oportunidade.
Visão acadêmica “A Engenharia de Alimentos atua justamente na produção de alimentos seguros para consumo considerando vários aspectos, como os sociais, econômicos, culturais, políticos, ambientais e de segurança e de saúde no trabalho, com responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. Assim, esse profissional poderá contribuir para melhor aproveitamento dos alimentos e aumento da vida útil, evitando desperdícios em toda a cadeia produtiva”, afirma Andrea Carla da Silva Barreto, coordenadora do curso de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Formada há 31 anos, Barreto conta que decidiu pela área por gostar das ciências exatas. “E procurei a Engenharia de Alimentos porque tinha curiosidade para entender todos os elos da cadeia produtiva”. Ela relata que há grande procura no curso, que tem quase 40 anos de existência, no campus em São José do Rio Preto. “A atuação da Engenharia de Alimentos é flexível, com muitas possibilidades. Exige conhecimento específicos dos alimentos, desde a sua colheita até a produção de produtos, as tecnologias envolvidas, legislações específicas, otimização de equipamentos e mão de obra, suprimentos, logística, entre outros”, diz Barreto. O mercado de trabalho, em sua análise, é muito bom: “os alunos geralmente são contratados ao final do estágio supervisionado. A atuação da Engenharia de Alimentos é flexível, com muitas possibilidades”.
Confira o raio-x do curso de Engenharia de Alimentos no Guia das Engenharias do SEESP