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30/11/2022

Distúrbios mentais no trabalho sinalizam a próxima pandemia

Carlos Magno Corrêa Dias *

 

Em um mundo no qual todos os dias os índices de adoecimentos mentais e problemas emocionais só fazem crescer a saúde mental deveria, por certo, ser a maior riqueza a ser perseguida pela humanidade. Todavia, é sabido, não é bem assim e, pior ainda, são constatados muitos melindres e fortes estigmas grosseiros sobre os transtornos mentais que somente contribuem para maior discriminação das pessoas com problemas cognitivos gerando, em consequência, inúmeras barreiras tanto para se desenvolver tratamentos mais adequados quanto para efetivação da necessária inclusão.

 

Ao longo da história sempre foram constatadas imposições visando impedir que pessoas com transtornos mentais pudessem, naturalmente, atuar como cidadãos para participar plenamente na sociedade ou no mercado de trabalho dando sua efetiva contribuição. Jamais será desnecessário lembrar que a soma das expertises de cada um sempre contribuirá (necessariamente) para a multiplicação de resultados.

 

Entretanto, tratadas, em geral, como “problemas de difícil solução”, as questões relacionadas aos distúrbios mentais são mal consideradas sendo a discriminação e a exclusão, em muitas das vezes, o caminho mais “fácil” a ser escolhido.

 

Pessoas com transtornos mentais enfrentam enorme e diversificada gama de dificuldades para participar efetivamente da sociedade, mas, infelizmente, ainda é percebido o tolo entendimento que as pessoas com transtornos mentais devam ser relegadas a planos secundários nas sociedades e que em nada podem contribuir. Na era 4.0 do desenvolvimento tecnológico e científico tal posicionamento é apenas absurdo, simplista ou (mesmo) irresponsável. 

 

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil 

Os transtornos mentais, ou também chamados transtornos neurológicos, acometem as estruturas do sistema nervoso humano que é responsável por transmitir impulsos elétricos que resultam em movimentos sejam voluntários ou involuntários comandados pelo cérebro que é o principal órgão do sistema e cuja estrutura por demais complexa tem a função importante de gerar os comandos necessários para que o corpo dos seres humanos possa desenvolver as correspondentes atividades diárias apreendidas durante a vida.

 

Assim sendo, quando ocorrem “desordens” que comprometem a formação dos mencionados comandos ou há impedimentos da respectiva transmissão de tais comandos são gerados problemas diversos os quais, em muitas das vezes, são ou de difícil controle ou mesmo são impossíveis de serem solucionados.

 

Diante da complexidade e dificuldades em torno dos distúrbios neurológicos que só fazem se ampliar é mais que necessário mudar urgentemente a visão estrita sobre os transtornos mentais para se poder refletir mais claramente sobre possíveis soluções e para realmente compreender que todos os problemas gerados pelas diversas desordens no sistema neurológico dos pacientes estão totalmente fora do controle do indivíduo acometido a despeito dos tratamentos a que sejam submetidos.

 

Embora as questões sobre a saúde mental das populações sempre foram globalmente problemáticas a situação na atualidade piora ainda mais dado que a humanidade passa a viver a difícil “Era do Cansaço”. Neste novo momento chamado, também, de “Era do Esgotamento”, o ser humano se debate com a lógica perversa do “sempre realizar e realizar cada vez mais na medida que realiza”. A constante exigência do “fazer” produz no cérebro humano um sofrimento psíquico exacerbado, pois não mais conseguindo focar a atenção detidamente na execução de uma atividade de cada vez é chamado constante e seguidamente a atender paralelamente, ao mesmo tempo, outras muitas pendências. Na tentativa de resolver com êxito as múltiplas (infinitas) tarefas possíveis (que sabe de antemão não conseguirá solucionar a todas) o indivíduo passa a contribuir fortemente para o declínio de sua saúde mental, que por sua vez compromete seu trabalho e sua própria existência.

 

A “Era do Cansaço” ou a “Sociedade do Esgotamento” é caracterizada por estar se vivendo em uma “sociedade de intensa fadiga” a qual se caracteriza pelo desenvolvimento de uma crise global centrada em distúrbios neurológicos tais como depressão, Síndrome de “Burnout”, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), dislexia, transtorno de personalidade, Síndrome de Down, dentre muitas outros.

 

Diversos dos distúrbios neurológicos em tela são gerados, também e invariavelmente, conforme se tem demonstrado, por relações de imbricação entre uma falta de “harmonização entre a mente e o corpo”, por não se entender que se deve “estar consciente do presente e não se inventar um futuro que pode não ser efetivado” ou por se permitir o aumento acentuado de uma “intoxicação digital” na qual o indivíduo não consegue se desligar um só segundo das tecnologias que embora não fazem parte de seu organismo são pensadas e interiorizadas como se fossem inerentes ao ser que as utiliza direto meio que como “no automático”.

 

Um transtorno neurológico passa a se desenvolver quando ocorre alguma anormalidade no cérebro, medula espinhal, nervos ou terminações nervosas. Conforme a gravidade do tipo de distúrbio o paciente experimenta problemas dos mais variados que podem afetar seriamente a rotina e a autonomia das pessoas acometidas com diferentes intensidades e periodicidade podendo ser contínuas e progressivas como as doenças neurodegenerativas tais como a Doença de Alzheimer (DA) que vai destruindo gradativamente o equilíbrio, a memória, os movimentos, o funcionamento da mente, a cognição, o entendimento dos pacientes.

 

Além da DA existem muitos outros distúrbios neurológicos que provocam (efetivamente) a destruição progressiva dos neurônios (células nervosas) comprometendo drasticamente o trabalho das pessoas. De difícil identificação no começo os distúrbios de natureza neurológica vão agindo de forma algo silenciosa sem que se perceba claramente sua evolução e instalação haja vista que os sintomas iniciais são, em geral, muito leves e mal podem ser identificados precisamente. Entretanto, em muitas das vezes, quando se tem um diagnóstico as doenças já estão em franco desenvolvimento.

 

Esclerose Múltipla (EM), Mal de Parkinson, Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), Distrofia Muscular (DM) e Atrofia Muscular Espinhal (AME) são também doenças que causam sérios distúrbios neurológicos que afetam profundamente a vida do trabalhador na “Era do Cansaço” forçando-o a abandonar o trabalho em dado momento da correspondente evolução.

 

A despeito das doenças que comprometem a vida profissional do trabalhador há de se pontuar, entretanto, que trabalho algum em si, por mais árduo, intenso ou difícil que seja, não traz, efetivamente, “esgotamento”. É possível se ficar exausto, extenuado, mas depois que o trabalho termina e que se faz o descanso natural como dormir o organismo se restabelece e fica “pronto” para uma nova jornada de trabalho tão ou mais intensa que a anterior. O que é muito diferente, por exemplo, do “esgotamento” gerado pela “compulsão de realizar ou de fazer” que não termina jamais e segue atormentando o indivíduo acometido por mais que realize. Trabalha-se mais e mais, produz-se mais e mais e nunca é o suficiente, nunca acaba, sempre está por fazer, sempre em alta rotação, sempre necessitando fazer mais e mais trabalho que a própria pessoa vai criando do nada estando sempre ligada.

 

Em tese, o esgotamento é atingido exatamente naquele instante em que o trabalhador “não é mais capaz de “ser capaz” de atender a própria demanda autoimposta para vencer”. O sujeito que se percebe não sendo mais “ser capaz” de fazer aquilo que ele próprio se impôs entra em um processo de depressão crescente que o obriga à recriminação destrutiva e à cobrança sem limites. A pressão interna gerada pela compulsão do realizar frente ao não realizado é que vai criando os habitantes da “Era do Cansaço”.

 

Veja-se, por exemplo, que a Síndrome de “Burnout”, também denominada Síndrome do Esgotamento Profissional, é um grave distúrbio neurológico que produz intensos sintomas de exaustão extrema, grande estresse e o temido esgotamento físico os quais são decorrentes de condições de trabalho que exigem muita competitividade, cobram elevada responsabilidade, sendo frequentemente bombardeado por condições que “desgastam” profundamente o trabalhador que atacado constantemente pela “compulsão de realizar” se vê jamais concluindo os trabalhos a que se submete sem que (necessariamente) existam naquele nível ou intensidade que imagina. O “atormentar” do “sempre por fazer” leva o trabalhador ao esgotamento (e não o trabalho em si).

 

Mas, os quadros de sofrimento psíquico que envolvem os distúrbios neurológicos sejam aqueles gerados pelas denominadas doenças mentais (doenças neurológicas) ou por condicionais outras existentes na “Sociedade do Esgotamento” se agravaram muito mais, é natural, com a pandemia de Covid-19. Segundo afirma a OMS (Organização Mundial da Saúde) somente os quadros de ansiedade e depressão aumentaram em cerca de 25% durante a pandemia de Covid-19; situação que colocou toda a comunidade médica do planeta em alerta.

 

Embora já fosse preocupante a realidade sobre a situação da Saúde Mental no mundo a pandemia de Covid-19 segue mostrando, mais intensa e claramente, os graves problemas gerados decorrentes dos transtornos mentais que impactavam normalmente na vida das pessoas e, principalmente, dos trabalhadores; existindo estimativas que dão conta que cerca de 40% população mundial poderá sofrer pelos efeitos patológicos de algum transtorno neurológico em determinado momento da vida com o agravante que em muitos dos casos a situação será irreversível e poderá levar o paciente à morte. 

 

Esclareça-se, de imediato, que quaisquer anormalidades, sofrimentos ou comprometimentos de ordem psicológica relacionadas com o cérebro são consideradas (em geral) como exemplos de transtornos mentais.

 

A doença mental ou o transtorno mental, em conformidade com a Associação Brasileira de Psiquiatria, reúne um conjunto diversificado de condições que afetam a mente humana gerando sofrimento, desespero e incapacidades aos pacientes que os impedem de viver plenamente em normalidade. A doença mental ou o transtorno mental comprometem a vida dos acometidos produzindo sérios prejuízos nos domínios social, ocupacional, familiar e pessoal.

 

A OMS estabelece que "a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. A OMS afirma que “as doenças psicossociais tais como transtornos depressivos, demências, psicoses, dependência de álcool, epilepsia, transtornos de estresse, distúrbios pós-traumático e a fármaco-dependência, aumentarão, significativamente, nos próximos anos ampliando ainda mais comprometendo seriamente o mundo do trabalho.

 

Alerte-se, a propósito da observação precedente, que no Brasil, atualmente, os transtornos mentais são a terceira causa efetiva que justificam afastamentos no trabalho. Assim sendo, “a gestão adequada da Saúde Mental dos Trabalhadores vem contribuir para a disseminação da ideia que a prevenção, por um lado, e a educação dos trabalhadores, por outro, no que tange à Saúde Mental, devem condicionar a busca de caminhos para promover o Desenvolvimento Sustentável da Indústria” como, também, de todo mercado de trabalho em geral.

Cabe pontuar que no Brasil, a partir de 17 de março de 2009, pelo Projeto de Lei 6013/2001, ficou estabelecido que o termo “transtorno mental” deve ser empregado para caracterizar, de forma conclusiva, a enfermidade psíquica (patologia) associada às doenças mentais assegurado aos pacientes diagnósticos conclusivos em conformidade com a classificação internacional; não sendo admitido o uso de termos desqualificados, impróprios, tais como alienação mental, demência, loucura, insanidade, dentre outros parecidos.

 

Deve-se sempre enfatizar, porém, que muitos transtornos mentais são decorrentes de degenerações físicas ou de doenças que ocorrem no cérebro; diversas delas, infelizmente, decorrentes do avançar da idade, do envelhecimento. Muito frequentemente os transtornos mentais são causados pelo aumento dos focos de subs­tân­cia branca nos hemisférios cerebrais, principalmente nos lo­bos frontais e parietais. As várias doenças que produzem redução volumétrica encefálica (como é o caso da DA) têm, também, aumentado significativamente. Mas, a atrofia cerebral segue sendo determinante para os transtornos mentais em idosos.

 

Mas, a despeito do entendimento sobre “deficiência mental”, que produz (invariavelmente) estado de redução notável do funcionamento intelectual inferior à média com sérias limitações, não se pode esquecer que toda PcD (Pessoa com Deficiência) deve ser integrada à sociedade e ao mercado de trabalho. Afirme-se que a deficiência mental é caracterizada como um transtorno do desenvolvimento e não é, em absoluto, uma alteração cognitiva como é o caso dos distúrbios cognitivos patológicos que causam, por exemplo, a demência.

 

Observe-se que a principal distinção sobre uma PcD é “a dificuldade de se relacionar, de se integrar na sociedade” sendo “o grau de dificuldade para a integração social é que definirá quem é ou não portador de deficiência”.

De acordo com a OMS deficiência é "toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica" sendo “incapacidade” considerada "toda restrição ou falta (devido a uma deficiência) da capacidade de realizar uma atividade na forma ou na medida que se considera normal a um ser humano". Já, para a mesma OMS, o termo “impedimento” é tomado como "situação desvantajosa para um determinado indivíduo, em consequência de uma deficiência ou de uma incapacidade, que limita ou impede o desempenho de um papel que é normal em seu caso (em função de idade, sexo e fatores sociais e culturais)".

 

No Brasil o Decreto número 3.298, de 20 de dezembro de 1999, regulamenta a Lei número 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispondo sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, dando outras providências. O Decreto em referência apresenta importantes inovações na área sendo as definições de deficiência, PcD e incapacidade, bem como uma classificação das deficiências, conjunto assaz importante para a mais adequada tomada de decisão técnica quanto à identificação, por exemplo, de trabalhadores que possuam alguma deficiência auditiva, visual, física, mental e múltipla.

Importante ressaltar que de acordo com o artigo quarto do decreto 3.298 a deficiência mental é conceituada como “funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: a) comunicação; b) cuidado pessoal; c) habilidades sociais; d) utilização dos recursos da comunidade; e) saúde e segurança; f) habilidades acadêmicas; g) lazer; e h) trabalho.

 

Já pelo artigo quinto, parágrafo primeiro, alínea d, do Decreto número 5.296, de 2 de dezembro de 2004, deficiência mental no Brasil é entendida de forma idêntica à estabelecida pelo Decreto número 3.298, de 20 de dezembro de 1999. O Decreto número 5.296, de 2 de dezembro de 2000, regulamenta as Leis número 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e número 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.

 

Não se deve esquecer, porém, que pela Lei Federal número 10.216/2001, de 6 de abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, não há o conceito de “doenças mentais”.

 

Diante da complexidade e das drásticas consequências possíveis sobre a falta de “Saúde Mental” não há dúvida que “Saúde Mental” deve ser pauta nacional de políticas públicas eficientes em qualquer Nação que almeje sustentabilidade e soberania. E mesmo já “FALAR” sobre “Saúde Mental” é uma importante forma de se promover a Saúde Mental seja no ceio da população como um todo ou junto aos Trabalhadores em particular.

 

É imprescindível que as pessoas possuam informações claras sobre a saúde mental. Campanhas de conscientização para combater tabus e evitar enganos são muito bem-vindas. Rever posições ultrapassadas e promover novos paradigmas para bem tratar da saúde mental é exigido seguidamente. As pessoas necessitam de orientações e a educação e o conhecimento são fundamentais para realmente entender questões importantes sobre a saúde mental.

 

Entender a importância de ações, de políticas públicas adequadas, da constante propagação de conhecimentos a respeito das temáticas sobre saúde mental são essenciais para se instaurar uma cultura sobre a Saúde Mental na humanidade a qual, infelizmente, ainda não existe consolidada e efetiva.

 

Buscar a conscientização da humanidade em geral e das autoridades governamentais em particular a respeito da importância de estratégias e de políticas públicas voltadas para a promoção da saúde mental nas sociedades é o caminho a seguir para que a humanidade possa viver mais adequadamente com boa Saúde Mental e sobreviva à “Era do Cansaço”.

 

Em 1992, com o objetivo de alertar sobre os cuidados necessários para se manter a Saúde Mental no mundo, a Federação Mundial de Saúde Mental instituiu o “Dia Mundial da Saúde Mental” a ser celebrado anualmente todo dia 10 de outubro. Hoje o mundo vive uma crise global na Saúde Mental a qual, segundo a OMS, foi agravada seriamente pela pandemia de Covid-19 como se tem notificado. Os efeitos prejudiciais não mitigados da pandemia de Covid-19 no equilíbrio emocional e psicológico da população mundial seguem gerando mais e mais problemas na Saúde Mental das pessoas.

 

O Dia Mundial da Saúde Mental de 2022 constituiu um momento especial no qual se chamou com intensidade a atenção das pessoas sobre a necessidade de se cuidar da Saúde Mental e para combater (de fato) os diversos e descabíveis preconceitos que rondam as pessoas que (infelizmente) sofrem com pesados problemas emocionais ou psicológicos. Muito apropriadamente o tema da campanha de 2022 do Dia Mundial da Saúde Mental foi “Faça a saúde mental e o bem-estar de todos uma prioridade global”.

 

Senão assustador é por demais preocupante saber que, de acordo com Relatório Mundial de Saúde Mental da OMS, publicado agora em junho de 2022, no ano de 2019 cerca de um bilhão de pessoas viviam com algum tipo de transtorno mental.

 

No Brasil, em comemoração aos 70 anos do “Museu de Imagens do Inconsciente” foi inaugurado, em 10 de setembro de 2022, um mês antes do Dia Mundial da Saúde Mental, a exposição “Ocupação Nise da Silveira” com peças do acervo pessoal da médica, psiquiatra, filósofa do inconsciente, Nise Magalhães da Silveira (1905-1999) aquela que negou categoricamente a loucura como doença e passou a tratar seus pacientes com a arte revolucionando todo o tratamento mental no mundo.

Naquela mesma ocasião foi aberta, também, a exposição de longa duração “Do asilo ao Parque: 70 anos de história” onde é possível apreciar mais de 70 pinturas e esculturas dos Artistas que frequentaram os ateliês de Nise da Silveira. Importante ressaltar que na mesma data foi assinado o protocolo da Cátedra Nise da Silveira na Universidade Federal de São João del-Rei (em Minas Gerais), bem como ocorreu o lançamento da edição revista do livro “Imagens do Inconsciente” de Nise da Silveira o qual é tomado mundialmente como um marco na psiquiatria.

No campo da saúde mental o Brasil é um privilegiado exatamente devido aos notáveis e fundamentais trabalhos da Brasileira Nise Magalhães da Silveira a qual é considerada como “uma das principais cientistas brasileiras e que ao fazer Ciência de uma forma toda particular redefiniu os caminhos da Medicina, da Filosofia e da Arte”.

Por iniciativa de Nise da Silveira foi fundado em 1952 o Museu de Imagens do Inconsciente, no Centro Psiquiátrico Pedro II, no Rio de Janeiro, quando a partir dos ateliês de pintura e modelagem se possibilitou constituir um inovador (e humano) tratamento psiquiátrico no Brasil e no mundo centrado na ARTE provando que por meio da ARTE os tratamentos das pessoas com transtornos mentais são muito mais eficientes, eficazes e efetivos.

Nise da Silveira "enxergou a riqueza de seres humanos que estavam ‘no meio do caminho’. No meio do caminho entre o existir e a dignidade. No meio do caminho entre a loucura e a exclusão total. Entre o aceitável e o abominável". Nise da Silveira revolucionou o tratamento das pessoas com distúrbios mentais no mundo utilizando seu método inovador baseado na arte. “Na arte encontram-se revelações determinantes do inconsciente”, afirmava a cientista alagoana. Por acreditar que os animais são “coterapeutas” no auxílio do tratamento dos distúrbios psiquiátricos Nise da Silveira foi pioneira, também, ao usar terapeuticamente a interação de pacientes acometidos de distúrbios neurológicos com animais.

 

"Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda", assim ensinava a médica brasileira Nise da Silveira que embora não tivesse vivido na “Era do Esgotamento” já havia apresentado uma receita para o correspondente tratamento. Lutadora incondicional em favor da qualidade da saúde mental no Brasil, Nise Silveira continua a inspirar novas políticas públicas e ações em prol da boa Saúde Mental não apenas no Brasil como no restante do planeta. Expoente na luta antimanicomial Nise da Silveira foi pioneira da terapia ocupacional e, efetivamente, não apenas contribuiu com método inovador para alterar as formas de tratamentos psiquiátricos como, também, conseguiu provar cientificamente que métodos agressivos de tratamento aplicados em pacientes com transtornos mentais, como eletrochoque, camisa de força ou confinamento, lobotomia, não são eficazes e somente contribuem para pior a vida dos pacientes acometidos de transtornos neurológicos. Nise da Silveira é mundialmente reconhecida por ser um alento aos pacientes psiquiátricos.

 

Atualmente, diante de tanto conhecimento disponível e da velocidade com a qual inúmeros novos outros saberes vão sendo gerados todos são reféns das dificuldades impostas pela “Era do Esgotamento” que promove incessantemente mais e mais distúrbios neurológicos ou emocionais. Assim, é necessário a tomada de atitudes que permitam ou reverter a situação para a instituição de um modo de existência mais adequado à boa qualidade de vida ou, pelo menos, que possibilitem atenuar as graves consequências do “estar sempre ligado” e sofrer psicologicamente ou mentalmente por saber de antemão que não conseguirá atender todas as demandas que o mundo quântico das possibilidades oferece.

 

O mercado de trabalho já entendeu as dificuldades e começa a busca por profissionais que sejam capazes de utilizar suas expertises para mais adequadamente não apenas gerar o desenvolvimento com sucesso das empresas, mas, também, que consigam viver bem neste complexo e extenuante mundo do esgotamento.

 

Pensa-se que o profissional mais preparado será aquele que consegue ser cada vez mais consciente para ter o controle sobre ações, comportamentos e emoções. Se os profissionais não conseguirem agir com equilíbrio entre o pensar e o fazer muito possivelmente a “Era do Cansaço” se transformará na próxima pandemia a assolar a humanidade.

 

*Carlos Magno Corrêa Dias é professor, pesquisador, conselheiro consultivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) do CNPq, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC) do CNPq, personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep)

 

 

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