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01/04/2024

Inovação aberta revoluciona a inovação

Carlos Magno Corrêa Dias

 

A complexidade do mundo atual (conectado em rede) muda seguidamente com velocidade espantosa, como consequência do evoluir das Revoluções Industriais e das Ondas de Inovação, uma vez que a inovação, invariavelmente, é promotora de alterações sociais profundas, altera a forma de disseminação do conhecimento e gera transformações constantes na divisão do trabalho.

 

As pesquisas e estudos são atualmente realizados em quaisquer lugares, não sendo mais “propriedades” exclusivas de centros de ensino, e as ferramentas tecnológicas cada vez mais especializadas são aplicadas e utilizadas intensamente tanto por profissionais quanto por quaisquer usuários da sociedade. As novas e potentes formas de comunicação e de disseminação da informação seguem abrindo ou ampliando mercados a todo momento. Além do mais, a informação, na maioria das vezes, se transforma em conhecimento que se obriga a conversar com o meio externo das empresas para atender as necessidades reais e vontades das pessoas.

 

Na atual Quinta Revolução Industrial (Indústria 5.0), focada no bem-estar do homem, as tecnologias são pensadas para melhorar a qualidade de vida das pessoas, de forma que tanto máquinas passam a servir aos humanos quanto a evolução do pensamento converge para a produção de benefícios ao próprio ser humano.  

 

Assim, as empresas não podem mais se isentar de manter incessante e contínuo contato direto com o meio externo, estabelecendo, também, “ambientes colaborativos e flexíveis cada vez mais potentes, de forma que máquinas e seres humanos trabalhem em conjunto para alcançar níveis de eficiência e produtividade de excelência, colocando o ser humano no centro da operação”.

 

Freepik

 

Outro aspecto condicionante da Indústria 5.0 é a impossibilidade de se manter os melhores talentos, bem como os conhecimentos mais significativos “presos” dentro de mesmas organizações, dado que a mobilidade da mão de obra é notória e necessária em um mundo constantemente transformado. O saber tecnológico não mais permite manter a hegemonia de grandes corporações por muito tempo, e as empresas que não conseguem se associar aos acontecimentos que se desenvolvem fora de seus ambientes, não enxergando os novos caminhos a percorrer, vão ficando para trás, até deixarem de existir.

 

A inovação promotora de disrupção (mudança) por si só exige que as organizações atuem no mercado de maneira colaborativa, para trocar experiências com o objetivo de não perder tempo e dinheiro gerando soluções que já seriam ultrapassadas mesmo antes de sair de seus ambientes de produção. Não tem mais sentido ficar nessa de se “esconderem” as invenções internas da empresa para não serem copiadas pelos concorrentes. O ambiente externo deve ser levado em consideração como integrante das estratégias das organizações, uma vez que mais e mais a inovação é condicionada, também, pelo que acontece publicamente (externamente às companhias) e não mais exclusivamente no interior dos “sofisticados” departamentos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI) das tradicionais organizações.

 

A inovação segue em velocidade cada vez maior devido exatamente à simbiose entre o mundo interno das empresas e a realidade externa, exigindo, então, processos colaborativos efetivos voltados para se ampliar possibilidades e garantir melhor desenvolvimento e produção, ganhando mais tempo, evitando gastos desnecessários, aumentando a eficiência, gerando maior valor agregado para se ter mais faturamento e lucros.

 

Assim sendo, a chamada Closed Innovation (“Inovação Fechada”), que correspondia ao processo de limitar o conhecimento ao uso interno das empresas, não utilizando os saberes exteriores às empresas, mostrando-se ineficiente e ineficaz, não tem mais sentido algum diante das exigências da inovação, que é vetor de transformação da realidade exatamente por manter simbiose entre expertises e saberes de todos os locais.

 

No processo de “Inovação Fechada”, quando se “inova” usando apenas os recursos/saberes internos das organizações, o desenvolvimento é estabelecido tão somente em função de ideias, invenções, conhecimentos e desenvolvimentos estritos (internos) necessários para se colocar um determinado produto no mercado, sem a menor possibilidade de ao menos “pensar” em compartilhar as próprias soluções com outras organizações. Não existe o fluxo de troca de conhecimento externo/interno. Tudo o que se produz é gerado em função tão somente daquilo que se conhece internamente, sem a troca colaborativa com terceiros.

 

Em complementação à “Inovação Fechada” surgiu o conceito de Open Innovation (“Inovação Aberta”), que consiste em apresentar soluções de forma aberta para os desafios e problemas que surgem nos ambientes competitivos das empresas, mostrando-se prática de integração necessária, independentemente dos portes e níveis de atuação e dos mercados a serem conquistados.

 

A “Inovação Aberta” está centrada em fluxo aberto de informações/conhecimentos no qual os recursos ou soluções se movem mais adequadamente na fronteira entre as organizações produtoras e o mercado em geral, quando a competitividade é o carro-chefe, e não a pobre competição.

 

A Open Innovation condiciona a realidade corporativa a compartilhar ideias, pesquisas e conhecimentos internos e externos para possibilitar a melhoria dos produtos, produzir melhores serviços, aumentar a eficiência e eficácia, gerando maior valor agregado de mercado, o qual, por sua vez, pode ampliar significativamente as margens de lucros.

 

Associada à “Inovação Aberta”, tem-se a chamada “Ciência Aberta” (Open Science), a qual constitui movimento mundial que objetiva tornar o conhecimento científico aberto e compartilhado, tanto para as comunidades científicas específicas quanto para a sociedade em geral.

 

A Open Science é um modelo de prática científica que pretende promover a participação ampla da sociedade nos processos de pesquisa científica, objetivando disponibilizar o conjunto de informações (saberes) em rede para que todos possam acessar e contribuir com novas soluções, dado entender que o conhecimento é da humanidade e não apenas dos laboratórios fechados que os produzem. Na “Ciência Aberta” a participação de um conjunto cada vez mais ampliado de colaboradores é vetor condicionante.

 

A “Ciência Aberta” caminha, invariavelmente, com a “Inovação Aberta”, uma vez que a Open Innovation se presta a promover desenvolvimento (geralmente disruptivo) por meio de acentuadas parcerias externas, seja com pessoas ou com outras organizações, objetivando a melhoria de produtos, o aumento da eficiência e da competitividade e a ampliação de valor agregado dos produtos gerados.

 

A concepção de “Inovação Aberta”, surgida por volta de 2023, tem, como princípio gerador, considerar fortemente a inovação realizada para além dos limitados departamentos internos de pesquisa e desenvolvimento das organizações; buscando na associação entre iniciativas internas particulares e as múltiplas possibilidades dos ambientes externos formas efetivas de melhoria do processo de concepção e desenvolvimento dos produtos.

 

Na Indústria 5.0 o caminho que leva à inovação é trilhado, também, fora dos limites internos das empresas. Trabalhar em conjunto com outras possibilidades amplia sobremaneira o alcance das descobertas e permite vislumbrar expansões e novos mercados antes não percebidos. A troca de informações, experiências, dificuldades e recursos entre colaboradores internos e agentes externos se mostra indispensável para melhorar o desenvolvimento de produtos, serviços e processos.

 

A “Inovação Aberta”, estando baseada “no uso de fluxos de entrada e saída de conhecimento para acelerar a inovação interna e expandir os mercados”, vem chamar o “colaborativo”, possibilitar a “abertura do processo de inovação de uma empresa”, ampliando, propriamente, o conceito de inovação, que consistia apenas na combinação entre comportamentos, missão, valores e expectativas que moviam uma empresa para influenciar o cotidiano das pessoas por meio dos seus serviços ou produtos. Na “Inovação Aberta” devem ser acrescentados os termos “processo colaborativo” e “compartilhamento”.

 

No campo da “Inovação Aberta” surgem iniciativas inovadoras, tais como: inovação centrada no usuário, Open Source (código aberto), inovação distribuída, cocriação (Estratégia de ação na qual se trazem pessoas de fora para dentro da empresa com o objetivo de estimular a inovação), eventos de startups, Crowdsourcing (processo colaborativo no qual as pessoas se reúnem em torno da solução de problemas ou para desenvolver algo específico), Hackathons (maratonas que envolvem programadores, desenvolvedores, designers gráficos, gerentes de projetos e outros profissionais multidisciplinares para trabalhar em projetos de tecnologia, objetivando criar um recurso novo ou gerar uma solução para uma questão proposta), dentre outras possibilidades.

 

Em particular, cabe ressaltar que o Open Source, enquanto movimento tecnológico e forma de trabalho que usa os valores e o modelo descentralizado de produção do software de código aberto (Open Source Software – OSS) para gerar maneiras inovadoras de resolver problemas em comunidades e setores, objetiva permitir que o código fonte do software seja “disponibilizado e certificado com uma licença de código aberto no qual o direito autoral fornece o direito de estudar, modificar e distribuir o software de graça para qualquer um e para qualquer finalidade”. 

 

Quando se fala em “Inovação Aberta” (muitas vezes já considerada como a “Revolução da Inovação”), se distinguem três tipos específicos; quais sejam: Inbound Open Innovation (IOI), Outbound Open Innovation (OOI) e Coupled Open Innovation (COI). 

 

Referindo-se ao tipo de “Inovação Aberta” que se desenvolve quando uma empresa se apropria de uma ideia inovadora criada por outras organizações e a transforma por meio do seu processo de inovação gerando valor para si mesma, está se considerando a IOI.

 

De outra forma, já a OOI faz referência ao tipo de “Inovação Aberta” que acontece quando dada empresa desenvolve um ativo derivado do seu processo de inovação e o disponibiliza externamente objetivando o correspondente desenvolvimento e comercialização.

 

Se, entretanto, numa “Inovação Aberta” há a fusão de duas ou mais empresas que compartilham suas ideias objetivando gerar inovação em conjunto, permitindo a exploração individual dos ativos resultantes, tem-se o que se está denominando de COI.

 

A despeito dos tipos de “Inovação Aberta”, não se pode mais insistir naquela pobre competição estrita entre empresas, dado que as empresas hoje competem é com o mundo circundante. Assim, não é razoável fechar os olhos para parceiros em potencial que podem atuar em rede, ampliando sobremaneira as possibilidades de soluções dos grandes desafios que surgem a cada instante. A competitividade de uma empresa na atual era da inovação pode ser medida pelo quanto a empresa é capaz de se apropriar de recursos externos, ao mesmo tempo que disponibiliza suas próprias inovações para outras organizações, objetivando o cumprimento de sua missão com mais êxito que outras “organizações competidoras”.

 

É oportuno salientar, também, que a transformação digital na indústria tem na “Inovação Aberta” um caminho disruptivo e inolvidável para o pleno desenvolvimento e progresso no mundo corporativo. A “Inovação Aberta” (por excelência colaborativa) constitui especial receita e potente ferramenta para conduzir as nações ao progresso e desenvolvimento, incentivando a construção de relacionamentos sustentáveis, disruptivos e construtivos ao compartilhar de forma cooperativa diferentes práticas.

 

Observe-se, ainda, que a integração em torno de melhores soluções já conhecidas passa a ser o ponto de partida da inovação, e toda empresa que insistir em se isolar do mundo cooperativo está fadada a ser apenas um episódio que será brevemente esquecido na história das corporações. Interação entre saberes é a tônica da atual revolução que vem ocorrendo no campo da inovação. Permitir utilizar o que de melhor existe, independentemente da origem para gerar, com exclusividade, seguindo as leis e princípios de compliance, de forma mais rápida e eficientemente, novas soluções que gerarão mais lucros é um novo caminho a seguir. A competitividade, então, tem um novo patamar com a “Inovação Aberta”.

 

Como a “Inovação Aberta” não é antagonista da “Inovação Fechada”, e sim um processo complementar, deve-se perceber que a “Inovação Aberta” pode consubstanciar o ponto de partida para se estabelecer um processo inovador interno de qualquer empresa, dado que quando uma empresa não se enclausura em seu interior e adota uma postura de troca com outras organizações, abre as portas para possibilidades as quais jamais seriam percebidas antes, inclusive sob o ponto de vista de seus objetivos, missão e visão.

 

Embora possa parecer paradoxal, não o é: a “Inovação Aberta” possibilita à empresa, por meio de recursos/conhecimentos externos, em muitas das vezes, encontrar respostas necessárias e determinantes para se compreender o negócio e os fins da própria empresa. Nesse sentido, a “Inovação Aberta” é entendida como forma complementar para se ter plena anuência sobre aquilo que já é realizado internamente. Não se gera disrupção (mudança) por meio da inovação inventando (seguidamente) a roda.

 

A “Inovação Aberta”, dentre outros benefícios, traz a significativa redução de tempo entre o desenvolvimento e a comercialização dos produtos gerados; permite a consequente redução de custos tanto de pesquisa e desenvolvimento quanto de produção propriamente; gera base de conhecimentos necessária que contribui para mudanças de perspectivas e para a democratização do acesso às ideias; promove intenso e seguido networking; possibilita o surgimento de oportunidades de criação de novos mercados; garante a redução de riscos e de custos.

 

Evitando descobrir tudo aquilo que já foi descoberto anteriormente, a “Inovação Aberta” permite incorporar soluções diversas e eficientes que jamais seriam geradas pela empresa devido à falta de tempo, de recursos tecnológicos ou mesmo de expertise.

 

Em muitas das vezes a “Inovação Fechada” não permite às empresas proprietárias a comercialização adequada de seus próprios produtos, tendo em vista razões estratégicas impeditivas ou pela falta da correta infraestrutura. A situação em foco pode não ocorrer com a escolha de parcerias externas que não apenas têm melhor acesso aos mercados, como também possuem logística mais eficiente que facilmente se adapta às mudanças do mercado.

 

A “Inovação Aberta”, além de ser uma “Revolução da Inovação” (no sentido de buscar inovação fora dos limites estritos de cada empresa), se transformou na forma mais lucrativa de fazer inovação. Senão, basta avaliar, mais detidamente, suas vantagens em relação à “Inovação Fechada”, desde que, é claro, se realize a escolha de um dos tipos de “Inovação Aberta” e a coloque em prática.

 

Carlos Magno Corrêa Dias é professor, pesquisador, conselheiro consultivo do Conselho das Mil Cabeças da Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários (CNTU), conselheiro sênior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep, líder-fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) do CNPq, líder-fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC) do CNPq, personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa local (Alep)

 

 

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