Soraya Misleh/Comunicação SEESP
Como parte do esforço em trazer questões essenciais ao bem-estar e à garantia de oportunidades e igualdade no exercício da profissão, o SEESP, por meio de seu Núcleo da Mulher Engenheira (NME), realizou na tarde desta quinta-feira (18/4), em seu auditório, na Capital, o evento “As mulheres e a saúde mental no trabalho”.
Sob mediação da diretora do sindicato e coordenadora do NME, Silvana Guarnieri, a atividade teve a participação da engenheira civil e de segurança do trabalho Ana Paula de Camargo Kinoshita e da enfermeira e gestora de saúde Daniela Martins Benedetti.
À abertura, o presidente do SEESP, Murilo Pinheiro, saudou a importância do debate sobre tema fundamental e destacou: “Cada vez mais temos que trazer as mulheres para a discussão, envolvê-las para que tenhamos crescimento. Aqui no sindicato temos vários grupos, formados em grande parte por mulheres.”
O Núcleo da Mulher Engenheira vai ao encontro disso. Criado em 21 de setembro de 2022, em meio às comemorações pelos então 88 anos da entidade, tem como missão lutar, defender, representar, apoiar e proporcionar orientação às engenheiras, com o objetivo de fortalecê-las e empoderá-las para serem protagonistas no trabalho e na sociedade.
Isso é particularmente importante quando se observa que, apesar dos avanços na inserção feminina, conforme dados do Sistema Confea/Crea, dos 1.132.021 profissionais registrados, 905.764 são homens e apenas 226.257 são mulheres – ou seja, elas perfazem apenas cerca de 20%.
A predominância masculina foi lembrada durante o evento, assim como a sobrecarga das mulheres como um fator adicional a interferir em sua saúde mental. “Temos duas ou três jornadas de trabalho, então para nós é um pouco mais pesado. Precisamos ver como distribuímos nosso tempo e ter autoconhecimento”, frisou Guarnieri. A consequência pode ser refletida nos dados apresentados por Benedetti: segundo o Ministério da Saúde (2023), 32% das mulheres adoeceram pós-pandemia no Brasil.
Palestras e vivências
As apresentações das especialistas sobre a importância da saúde mental no trabalho se combinaram com sua própria vivência. “Quando falamos de saúde do trabalhador estamos falando de vidas”, asseverou Kinoshita. Como salientou, a engenharia de segurança do trabalho, área que abraçou, atua nessa seara. A atuação de Benedetti na saúde – para quem “cuidar das pessoas é algo que motiva e me faz acordar todos os dias” – se dá de forma multidisciplinar com esse profissional da categoria. Segundo constatou, a importância da saúde emocional não é um tema novo, mas ganhou ainda mais relevância após a pandemia de Covid-19.
Guarnieri lembrou de uma experiência pessoal dolorosa para jogar luz sobre a importância do tema em pauta. “Tive uma funcionária que voltou depois de dois meses de um processo de afastamento pelo INSS por motivo de saúde mental. Deixei que escolhesse onde se sentia mais à vontade para ser realocada, ela não se adaptou e mudou de departamento, mas quatro meses depois se suicidou. Depressão é uma doença silenciosa, a gente não percebe e vai se deparar com esses momentos na segurança do trabalho.”
Engenheira que ama seu trabalho – como fez questão de enfatizar –, mãe de uma menina de 12 anos, viúva desde 2011, Kinoshita ratificou: “Passei por muitas situações, é mesmo uma doença silenciosa, não é fácil e tem muito a caminhar, tive um carcinoma retirado na biópsia e fiquei livre [da doença].” Sua opção, como explicou, foi diminuir a carga de trabalho para ter mais tempo com sua família. “É questão de ser um ser humano, independentemente de ser homem ou mulher.” Benedetti atesta: “É necessário equilibrar a vida.”
Ela observou ainda que cada vez que o profissional ascende na carreira as responsabilidades aumentam. Então “precisa estar bem com o psicológico, cuidar de sua saúde mental”. Nessa direção, considera “importante ter um profissional para ajudar para que não chegue ao extremo de tirar a própria vida, como no caso relatado, isso é muito triste. Ter a oportunidade de falar, de ter alguém para ouvir, ter inteligência para trazer boas ideias no ambiente de trabalho. Às vezes basta um simples diálogo, e às vezes falta orientação para evitar problemas.”
Benedetti falou da importância de a pessoa se sentir confortável no ambiente laboral. “Um machucado é fácil de enxergar. A gente nunca vê [como anda] a cabeça. Dez anos atrás tive depressão e síndrome do pânico muito grave. A gente fica muito mais empático ao passar por isso. Quando alguém diz que não está bem, acredite, de repente é uma dor emocional.”
A gestora de saúde acrescentou: “O tema da confiabilidade humana está muito em alta, entender que um precisa do outro. As pessoas ficam a maior parte do seu tempo no trabalho. Dias tristes todo mundo tem, mas se não está melhorando, pode estar indo para o caminho da patologia. Tem que explicar que terapia é bom para todo mundo, tivemos que quebrar tabu no meio de tantos engenheiros aqui na empresa de que psicologia não é para doido. Foi difícil, tivemos que ir aos poucos, mas conseguimos.”
Kinoshita complementou: “Às vezes a gente tem que falar com o espelho, reservar 15 minutos para fazer uma ginástica laboral, senão fica muito estafado mental e fisicamente.”
Guarnieri informou que hoje há grandes empresas que inclusive reservam salas de descanso para os profissionais desestressarem. “Isso é parte do programa de Engenharia de Segurança do Trabalho.”
O problema é global e demonstra a urgência do debate. É o que evidenciou Alexandra Justo, gestora da área de Oportunidades na Engenharia do SEESP, ao trazer dados do Congresso de Saúde Mental no Hospital das Clínicas: “No mundo mais de 300 milhões de pessoas têm depressão. Ansiedade e depressão custam US$ 1 trilhão ao ano para a economia mundial, de acordo com a OMS [Organização Mundial da Saúde]. No Brasil, 63% da população sofre de ansiedade e 59%, de depressão. O investimento para cuidado da saúde mental não evoluiu 5% nem mesmo depois da pandemia. É necessário gestão humanizada, de acolhimento e empatia.”
Confira o evento “As mulheres e a saúde mental no trabalho” na íntegra: