Resultado de pesquisa de mestrado e doutorado, o Brasil deve apresentar ao mercado seu próprio FOS (fruto-oligossacarídeo), um açúcar que não é metabolizado pelo organismo. Até agora, o produto – encontrado em fórmulas de complementos alimentares – chegava à população do País via importação. Quem conta é Francisco Maugeri Filho, professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e coordenador do projeto, desenvolvido por Elizama Aguiar de Oliveira.
Esse longo trabalho acadêmico visou desenvolver a tecnologia utilizando-se matéria-prima nacional, fundamentalmente sacarose. Como explicita ele, “resultou em algumas teses, além de três a quatro patentes”.
O produto, usado em todo o mundo pela indústria alimentícia, ativa o desenvolvimento de micro-organismos benéficos ao corpo humano. “Serve de nutriente a esses, que são tidos como probióticos, ou seja, atuam de forma favorável no nosso trato intestinal, no equilíbrio da flora”, enfatiza. Segundo explica Maugeri, é uma molécula de sacarose combinada com outras de frutose. À sua obtenção, a técnica consiste na imobilização da enzima que produz o açúcar e posteriormente num processo de separação, purificação e enriquecimento do FOS.
“O metabolismo vai ser feito pelo micro-organismo probiótico. Então passa direto pelo estômago, intestino delgado e vai ser assimilado no grosso. Por isso, é considerado de baixa caloria.” Um sinal verde para diabéticos, não obstante, alerta, não possa ser usado como adoçante. Isso porque tem “uso recomendado de cerca de dez gramas por pessoa/dia, uma quantidade relativamente pequena”. Conforme ensina, esses limites devem ser observados, sob pena de o consumidor ter, em vez de vantagens, “sérios problemas intestinais”. Exatamente por isso não se encontra nas prateleiras de supermercados. Embora ache que essa poderia ser uma opção para venda do produto nacional, a restrição deve ser observada. “Seria interessante que fosse oferecido a granel, para as pessoas poderem colocar uma colherinha por dia em seu café da manhã.”
Tomado esse cuidado, os benefícios são inúmeros, diz. Os micro-organismos, assegura Maugeri, vão inibir outros nocivos ao intestino e possibilitar um melhor trânsito ali, melhor assimilação de nutrientes, ativação do sistema imunológico e a produção de vitaminas necessárias ao corpo humano. “Indiretamente também ajudam na produção de neurotransmissores como a serotonina, auxiliando a melhora do humor. Tem também evidências muito expressivas de atuação na redução de câncer do colo ou do intestino, de colesterol, de triglicérides.” O professor resume: “Todas as pessoas que usam FOS regularmente em sua alimentação se sentem muito melhor, mais ativas e dispostas.”
Popularizar o consumo
Com as patentes licenciadas por uma empresa, o produto “está passando da escala de laboratório para uma intermediária e, em sequência, industrial”. Esse último processo requer, de acordo com Maugeri, a aplicação de uma série de parâmetros “que exigem conhecimento e trabalho bastante específicos de engenharia e várias horas de dedicação para se ter escala”. A expectativa, afirma, é que esteja disponível no mercado em um ou dois anos – e a um custo competitivo em relação ao FOS importado. “Não estamos vendo o aspecto comercial, mas da saúde”, aponta.
Diante disso, na sua concepção, seria importante que estivesse ao alcance de toda a população brasileira. “O ideal seria popularizá-lo, numa campanha de informação e divulgação para que as pessoas saibam de seus benefícios e isso viabilize a comercialização talvez em supermercados, farmácias, a um custo bastante acessível.” Ele destaca que esse é relativamente elevado se comparado com o açúcar comum – portanto, o grande entrave ao consumo pela maioria dos brasileiros. “Mas como não é um adoçante, o objetivo é outro, talvez haja sensibilização para se garantir preço competitivo.”
Soraya Misleh
Imprensa - SEESP