Tenho escrito e falado constantemente sobre o caráter positivo da atual conjuntura para o movimento sindical. Refiro-me, é claro, ao caráter geral da conjuntura e quero agora fazer três reparos.
Em primeiro lugar, a conjuntura positiva não elimina as dificuldades decorrentes de fatores negativos estruturantes, tais como a concentração de renda e a concentração de propriedade. A concentração de renda é mais suscetível de ser enfrentada na conjuntura do que a concentração de propriedade, que é muito mais forte que a anterior e tem se reforçado, dificultando todas as ações sindicais.
Em segundo lugar, a conjuntura geral positiva não impede que haja em algum setor uma conjuntura específica com traços negativos ou mesmo uma subconjuntura negativa. Um bom exemplo disso é a desindustrialização que acontece de forma preocupante em alguns setores industriais, principalmente em São Paulo.
E há ainda que se considerar a correlação de forças em uma dada situação. Uma correlação de forças desfavorável pode ocasionar derrotas mesmo em situaçãoes vantajosas. Taticamente é essencial compreender as dificuldades e superar as deficiências.
Em Cuiabá, com o quadro conjuntural extremamente favorável, a Câmara de Vereadores infligiu aos motoristas e cobradores de ônibus municipais e ao sindicato (STETTCR) uma derrota quando eliminou os cobradores dos ônibus, obrigando os motoristas a realizar outras tarefas além de dirigir.
A categoria, em plena campanha salarial, poderá perder mil empregos e o sindicato tem se manifestado contra a lei aprovada pela Câmara, contestada também pelo Ministério Público Estadual, que obteve liminar impedindo sua aplicação.
* por João Guilherme Vargas Neto é consultor sindical do SEESP
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