O termo é novo e o significado é antigo. No Brasil, preferiu-se economia criativa ao invés de indústria criativa, pois a expressão indústria em português usualmente indica fábrica, enquanto “industry” na língua inglesa é um setor econômico. A economia criativa está relacionada às atividades que envolvem valores e significados culturais, como crenças, tradições e expressões artísticas de um povo. Portanto, é a atividade econômica vinculada aos processos criativos num contexto cultural. Ela vai além da geração empregos, pois gera também novos valores, preservando tradições, a cultura popular e a identidade de um povo.
A atividade criativa está presente em todas as cadeias produtivas que conhecemos e das quais, mesmo sem saber, participamos. O design de roupas que geram modas, produtos e produção em série. A receita de um novo sabor de sorvete, que resulta em um novo mercado. A criação de um novo modelo de sapatos, que gera aumento de produção e aumento do consumo interno ou externo. A música criada que resulta em geração de CDs, a criação de romances, poesias, crônicas, biografias, artes plásticas, design de móveis, decoração etc. estão no contexto da indústria criativa ou economia criativa. Enfim, por trás de uma grande indústria está uma atividade humana gerada a partir da criatividade, capacidade inventiva de milhões de pessoas anônimas ou não.
A economia criativa pode ser também sustentável, pois muitas criações partem de produtos descartáveis ou lixo reciclável e se tornam novos produtos a partir da criatividade humana. Mas sustentabilidade da economia criativa vai além da reciclagem. A criação de empregos fixando populações em seus locais de origem através da geração de renda utilizando elementos das culturas regionais é também um exemplo de sustentabilidade, pois contribui para a redução de grandes conglomerados urbanos com os seus problemas amplamente conhecidos. Além disso, pode utilizar elementos disponíveis localmente para o desenvolvimento de uma nova indústria.
A rigor toda indústria tem sua origem na criatividade humana, mas a chamada indústria criativa está basicamente relacionada à produção cultural. Que gera produtos ou serviços que constroem significados importantes para as pessoas, preservando identidades e valores culturais.
Quem não se lembra do famoso pão de queijo, fruto de uma velha tradição mineira que ganhou o Brasil e o mundo, sendo hoje exportado para todos os cantos do planeta? Este é um belo exemplar da indústria criativa, que soube explorar uma tradição caseira e transformá-la em um produto internacional. Outro exemplo é a cachaça, um produto originado no Brasil colonial, que na realidade era um subproduto da indústria canavieira. A produção atual, com técnicas sofisticadas tornou o produto um ícone da identidade nacional. Diante da emergência dessa indústria, o governo apressou-se em registrar o nome cachaça como um produto tipicamente brasileiro. Hoje a bebida é vendida em todo mundo e as linhas top chegam a preços próximos aos de marcas famosas de whiskies escoceses.
Recentemente, foi criada uma Secretaria da Economia Criativa com o objetivo de estimular atividades que resgatem elementos importantes da cultura nacional, transformando-os em produtos que possam gerar empregos de forma sustentável em várias partes do Brasil. Assim, muitos produtos tipicamente brasileiros poderiam alçar voo no mercado, gerando novas alternativas de desenvolvimento econômico e social em áreas que carecem de empregos. Conceito novo ou velho, a economia ou indústria criativa pode representar novas oportunidades de negócios, reforçando identidades étnicas, criando produtos que geram significados que vão além da relação investimento-lucro e que podem ser apropriados pelas comunidades gerando novas opções de renda e trabalho.
* por Renato Ladeia, professor do curso de Administração do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana)
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