Os 1,4 mil MW relativos a esses projetos, cuja transmissão está comprometida, correspondem a 15% dos 9 mil MW de capacidade instalada prevista para entrar em operação neste ano, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Para a presidente da Abeeólica, Elbia Melo, porém, alguns parques poderão ter o cronograma adiado, reduzindo o impacto do atraso pela transmissão.
As 50 usinas serão conectadas a cinco estações coletoras - como são chamados esses sistemas de transmissão, que recebem a energia dos parques e enviam para o restante do país. As cinco instalações pertencem à Chesf, subsidiária da Eletrobras no Nordeste, e estão localizadas na Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte.
Parte dos atrasos, segundo a estatal, é causada pelo acúmulo de obras sob responsabilidade da empresa e pela demora na emissão das licenças pelos órgãos ambientais estaduais e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Já os parques pertencem a diversos grupos nacionais e estrangeiros. Entre as companhias brasileiras, estão CPFL Renováveis, Renova Energia (braço da Light e Cemig no setor eólico), a mineira Energisa e a Neoenergia. Entre as empresas internacionais, estão a argentina Impsa, a espanhola Iberdrola e a italiana Enel.
Apesar de não fornecerem energia ao sistema, as geradoras são remuneradas normalmente, por lei, logo após a conclusão dos parques eólicos. "Embora não estejamos registrando prejuízo, gostaríamos de ver esses parques operando", disse a presidente da associação, salientando que a indústria eólica brasileira ainda está em fase de amadurecimento.
Hoje, existem 26 parques (622 MW) prontos, na Bahia e no Rio Grande do Norte, mas que não fornecem um megawatt sequer para o sistema, por falta de linhas de transmissão, também de responsabilidade da Chesf. Se as usinas estivessem operando, seria possível evitar R$ 150 milhões por mês de gastos com o acionamento das termelétricas de reserva. A capacidade instalada desses parques também se assemelha à potência instalada da termelétrica AES Uruguaiana, a gás natural, na fronteira com a Argentina, que o governo tenta, urgentemente, acionar.
O presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, minimiza o problema. Segundo ele, esses 622 MW representariam aumento de apenas 1 ponto percentual no nível médio de armazenamento dos reservatórios hidrelétricos. "Não tem muito o que fazer agora. Existe um tempo natural de se fazer as coisas. É como uma fornada de pães, agora tem que esperar assar", explicou Elbia, ressaltando que é preciso aguardar as obras dos sistemas de transmissão serem concluídas.
Segundo a executiva, o problema ocorre por um descasamento entre os cronogramas de geração e transmissão, problema já apontado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) em outras ocasiões. Normalmente, os leilões dos sistemas de transmissão ocorrem cerca de um ano após a licitação dos parques eólicos.
Ao contrário do que ocorre com as hidrelétricas, em que o governo já sabe onde precisa construir a transmissão, com base na localização dos rios, hoje a EPE espera a definição dos projetos eólicos vencedores dos leilões para determinar os empreendimentos de transmissão.
A expectativa inicial era que os sistemas de transmissão levassem 24 meses para ficarem prontos, desde a licitação do projeto até a conclusão. Mas, na prática, esse prazo chega a ser de 36 meses, em média.
A EPE sinalizou aos empreendedores que estuda modificações no planejamento. A ideia é que exista uma previsão do sistema de transmissão antes do leilão dos parques eólicos. Esse modelo pode ser implementado já nos leilões de energia deste ano. Outra medida em estudo pelo governo é a eliminação de futuras estações coletoras. Nesse caso, os investidores eólicos serão responsáveis pela conexão dos parques com as subestações.
Imprensa – SEESP
Notícia do jornal Valor Econômico – 17/01/2013
Foto: Revista IstoéDinheiro
Isso é tipicamente terceiro-mundan o.